Thursday, 30 September 2010

Alguém pra chamar de mestra – Réquiem para Edith Barreto

“Aleksander, como definimos a representação da base categorial que conformam as relações gramaticais entre as estruturas profundas?”


Lembro do jeito firme, seguro e – sempre – elegante que ela tinha de pronunciar meu nome. Esqueçamos o medíocre sujeito e predicado. Fui apresentado, por ela, embasbacado, ao Sintagma e ao conceito de unidade sintática. Dai veio o cosmos... a Gramática Gerativa, criticas aos modelos distribucionistas, o próprio Noam Chomsky (e o conheci assim, um lingüista divisor de águas, muitos antes de saber de sua versão política), diagramas arbóreos: era a Língua, a Lingüística; era um universo inteiro que se revelava, passava a fazer sentido. Graças a ela.


Foram várias vezes em que ela teve que fazer com que eu voltasse à Terra quando viajava demasiadamente empolgado em discussões nas salas da Faculdade de Letras da UFPel pelo universo da Pragmática e da Estilística. Cada aula era um orgulho, uma realização, um arrebatamento. Que sensação poderosa eram os insights, a percepção de descoberta e de compreensão que ela gerava! Era um desafio e um privilégio acompanhar sua irrepreensível atuação. Sim, porque ela não dava aula, mas performava. Já era uma lenda viva naquele tempo. Edith Barreto era o nome que transpirava respeito e admiração e inclusive medo. Ser aprovado nas cadeiras ministradas por ela era sinônimo de superação, valor. Se fosse com uma boa nota, a coroação do êxito.


Edith não era apenas brilhante, mas instigante, dona de uma finíssima ironia além de paciente e sofisticadamente educada. Ao mesmo tempo um mistério. Ate hoje, um Google com o seu nome traz como resultado quase nada e imagens dela na web parece ser algo impossível de se encontrar. Pouco sabia da sua vida pessoal, da sua trajetória humana. Aparentemente vinha de uma família abastada, mas nos permitia ver que suas posições políticas não eram conservadoras, como naturalmente se pensaria, mas progressistas.


Edith Barreto era para mim, e sempre será, um nome mítico. Era e é ainda o nome do Diretório Acadêmico da Faculdade de Letras da UFPel, nome escolhido pelos próprios estudantes em algum momento de epifania. (** Depois de ter publicado este poste fui informado que o nome do D.A havia mudado nos anos 2000 sob o argumento de que Edith ainda estava viva. Como se homenagens fossem apenas para os mortos...). Fiz parte, também com orgulho, da Coordenação Geral da entidade em 2000-2001 numa época em que travamos grandes lutas estudantis. Mas lamento não ter nenhuma foto da Edith, nem com ela. Seria como guardar aquelas lembranças de objetos queridos e representativos que são mantidos como um componente do que se é. Tenho dois livros que ela me presenteou em uma das duas vezes que fui até sua casa, tímido e orgulhoso, para discutir um projeto lingüístico. Um desses livros foi também um marco na minha formação e paixão por política e semiótica, lingüística e comunicação. Edith foi uma das responsáveis, entre pouquíssimas em tão decisiva lista, por me apresentar um mundo. E a isso sou grato e por isso seu declarado admirador. Obrigado, Edith.


O mundo perdeu Edith Barreto na segunda-feira, dia 27 de setembro. Entre as várias coisas que não sei sobre ela, deduzo que a sua idade era mais de 60 e menos de 80. Quando recebi a noticia através de amigos da época da Faculdade, ela já havia sido enterrada. Ao que parece, ela travava a algum tempo uma luta contra um câncer, mas eu pouco sabia do que lhe passava nos últimos anos. Senti uma particular tristeza por haver estado na cidade, Pelotas, este ano e ter perdido a oportunidade de ver-la, mas registro, entre tanto que acontece no mundo nesta semana e tanto que tenho para escrever, minha homenagem a alguém que de fato a merece. Edith Barreto é alguém pra chamar de mestra.


P.S: Dêiticos também é um conceito que me foi apresentado por Edith Barreto e que dá nome e sentido a este blog.


P.S 2: A conhecida professora Paula Mascarenhas, da Faculdade de Letras da UFPel, que de alguma maneira encontrou esta homenagem a Edith na rede, deixou gentil comentário neste post, compartindo respeito por Edith, e re-corrigindo o dito anteriomente: o nome do D.A da Letras segue, sim, tendo o nome de Edith Barreto.

Saturday, 18 September 2010

Saludos com mate para Marx






Karl Marx, a quem todos conhecemos, nasceu no antigo reino da Prússia, em 1818, mas foi aqui na capital britânica, onde viveu por mais de 30 anos, que ele se dedicou inteiramente a duas atividades que o fizeram uma das personalidades mais importantes da história: organização revolucionária e compreensão do capitalismo.


Pesquisou na British Library, escreveu “O Capital” e o “Manifesto Comunista”, ajudou a formar a Primeira Internacional em reuniões em Clerkenwell, morou nas localidades de Kentish Town e no Soho e foi enterrado em Highgate, no norte de Londres, em 1883, que possui um tranqüilo e aprazível cemitério localizado a menos 30 minutos de onde moro.


No seu funeral havia apenas 11 pessoas, mas hoje o Highgate Cemetery é um ponto turístico visitado justamente porque guarda a tumba de Marx, onde recebe inclusive saludos com mate nos escassos dias de sol londrinos.


P.S: Para nao dizer que nao falei "de flores", dia 20 de setembro se comemora no estado Rio Grande do Sul o aniversário da Revoluçao Farroupilha, o que faz com que por lá, durante todo este mês , as tradiçoes e os sentimentos do "famoso" orgulho gaúcho sejam exacerbadas. Sendo o chimarrao um simbolo estadual, digamos que este post também saluda meus regionalismos (que atire a primeira pedra...) arraigados, lembrados mesmo desde a distância.

Thursday, 16 September 2010

Brasil de Fato tem novo website

Algumas mudanças inusitadas de última hora, ao que tudo indica, tendem a alterar rumos pré-definidos para o resto desse ano e, como uma das conseqüências, minha disciplina e regularidade na produção de textos jornalísticos e literários postados aqui – publicados em veículos de comunicação ou não – será flexibilizada. Nas ultimas semanas tinha estado praticamente mantendo um blog como ele deve ser, com uma ou mais atualizações diárias, mas suponho que diante do quadro que enfrento nos próximos meses vão faltar condições de segurar o ritmo.


De todo modo, em termos profissionais, há três colaborações agendadas com o Brasil de Fato e a coluna mensal no website espanhol Panorámica Social que também sempre registro aqui quando são publicados. Seguirei postando o material do projeto “Textos Curtos para Ítaca”, artigos acadêmicos, alguns eventuais registros de fotos (que finalmente tenho estado organizando), e suponho que algumas outras passagens rápidas pra não me perder dos movimentos de rotação e translação da blogsphere.


Mas a grata surpresa digna de nota é o novo site do jornal Brasil de Fato que entrou no ar hoje. Realmente muitíssimo melhor, embora ainda não seja genial, mas está muito mais fácil e dá muito mais prazer em ler. Também acionaram, finalmente, a zona de comentários para cada matéria, o que é essencial nesses tempos de jornalismo digital.


Dois dos meus textos que tinham sido publicados até aqui apenas na versão impressa, podem agora também ser acessados no website do jornal: “O fim dos tempos segundo Zizek” , sobre o novo livro do filósofo esloveno Slavoj Zizek e quem assisti pessoalmente aqui em Londres, está em destaque na abertura do site.

“O delírio salvadorenho”, sobre as maras (gangs) de El Salvador também pode ser lido online agora.

"Para inglês ver”, sobre o Festival Brazil aqui em Londres, segue disponivel no website do jornal.

“A maldição de Marcos Diaz", sobre o massacre salvadorenho em El Mozote, estava na página antiga e agora não está disponível, mas segue aqui.

E “Perdas e Danos no Reino (des)Unido", sobre o novo governo britânico, foi publicado apenas na versão impressa, além de obviamente aqui neste blog, como todas as minhas principais publicações em diferentes veículos, disponíveis nos links ao lado.

Monday, 13 September 2010

Mais de 40 mil casos de desaparecidos permanecem impunes no mundo

No Dia Internacional dos Desaparecidos, 30 de agosto, a Anistia Internacional e a ONU lembram os desaparecidos por razões políticas e pedem que os casos sejam investigados. Nos últimos 30 anos, foram registrados 53.232 desaparecimentos forçados. Em 42.600 desses, o paradeiro da vítima ainda é desconhecido.


Os "desaparecidos" são pessoas detidas por agentes do estado, mas cuja identidade e destino final é escondido, e a custódia negada posteriormente. Segundo a Anistia, um "desaparecimento" geralmente ocorre com a autorização, apoio ou consentimento do estado, porém, autoridades negam que a vítima esteja sob sua custódia. Assim, não é possível saber o destino final da vítima, e a pessoa fica fora da proteção da lei. Há casos registrados em 80 países.


Em 2009, foram registrados centenas de casos relacionados a 25 governos de todos os continentes. Segundo a ONU e a Anistia, a maior parte dos países que utilizam a prática ilegal de desaparecimento forçado usam como justificativa a defesa da segurança nacional ou o combate ao terrorismo.


Vítimas no Estado espanhol


No relatório divulgado no domingo dia 29 de agosto, a Anistia deu atenção especial ao governo espanhol. A organização afirma que 114 mil famílias desconhecem o paradeiro de parentes desaparecidos durante a guerra civil (1936-1939) e da ditadura franquista (1936-1975) e pede que o governo assuma seu compromisso diante dos desaparecimentos, facilitando acesso aos documentos que contém informações sobre o período.


No Estado espanhol, a lei geral de Anistia de 1977 impede que sejam investigados todos os crimes com intenção política cometidos antes de dezembro de 1976 – dois anos após a morte de Franco.


O governo é acusado de não contribuir para a solução desses crimes.


Outros países


Segundo o documento, no Iraque, há 16.409 casos pendentes de desaparecimentos.


Quinze anos após o fim da guerra da Bósnia, estima-se que entre 10 mil e 12 mil pessoas ainda têm paradeiro desconhecido e os responsáveis continuam impunes.


No Nepal, continuam sem investigação os casos de mais de 1.300 pessoas que foram presas e depois desapareceram durante o conflito de 1996 e 2006.


El Salvador também não resolveu o caso dos 2.270 desaparecidos durante a guerra civil nos anos 1980.


No México, há pelo menos 700 casos de desaparecidos nas décadas de 1970 e 1980 que continuam sem informações.


Hoje no Brasil há oficialmente 144 desaparecidos políticos.


*Texto tomado de Diario Liberdade

Saturday, 11 September 2010

Historia de un bus que no llega



La capital de El Salvador, este pequeño país centroamericano, amaneció durante esta semana con un inmenso caos: La mara 18 y la mara Salvatrucha, las principales y más actuales pesadillas de Centroamérica, amenazaron con quemar autobuses y negocios que presten servicios. Las maras (gangs) ordernaron un paro de transporte de 72 horas en El Salvador.


La medida de los mareros recuerda los días de la recién pasada guerra civil (1980-1992) cuando las guerrillas ordenaban paros del transporte y del comercio con el fin de sabotear "la economía enemiga".


Las pandillas han respondido de esa manera a la aprobación la semana pasada por el Congreso legislativo de una ley que proscribe y penaliza duramente a los grupos ilegales, como pandillas y maras. La ley igualmente endurece las penas contra aquellos que cooperen con las pandillas, sea económica o logísticamente.


El transporte público en el país, normalmente, es decir, sin “toque de queda” implementado por el crimen organizado, ya es un caos. Y este paro de transporte decidido por los mareros es el retrato de la nueva y persistente guerra que se vive El Salvador que revela los niveles de violencia e incoherencia del Estado que está cada vez mas hundido en el conflicto con el crimen – fruto también de los acuerdos no cumplidos que mantienen el país bajo un sistema de desigualdad social que hace con que más de 40% de la población esté en la pobreza.


El artículo en el periódico salvadoreño ContraPunto, “Historia de un bus que no llega”, es un excelente texto de Joahna Peña que utiliza muchas expresiones locales para relatar con sensibilidad la lucha diaria de un pueblo que de sol a sol busca no más hacerse la vida para traer un magro sustento diario y aun tienen que enfrentar, o someterse, a los grupos dedicados al crimen que son capaces de generar caos y zozobra en todo el país.


Llegar al trabajo es, por estos días, una tarea casi titánica.


Estoy parada, a buena mañana, a la orilla de la carretera Panamericana, a la entrada de mi pueblo, San Rafael Cedros, Cuscatlán. Siempre estoy aquí a esta hora, el inicio de esa rutina eterna que implica estar aquí, bajo el llamado “Palo de Hule”, en espera del bus que me lleve a San Salvador.


Pero el bus no llega.


Ha calado hondo el paro al transporte que, desde ayer martes, ordenaron pandilleros de la Mara 18, por un periodo de 72 horas."


LEA EL ARTICULO COMPLETO AQUI.

Friday, 10 September 2010

Hoje é aniversário do Vladi

(Arquivo pessoal: 1989)

Parabéns!


Textos curtos para Ítaca V


Um futuro-presente projeto literário. “Textos curtos para Ítaca” é a primeira materialização de uma das várias e extensas idéias em literatura, essencialmente em prosa, mas com flertes em verso, colecionadas ao longo da jornada até Ítaca. Em fato, os projetos para contos e novelas e outras literaturas de longo fôlego, ainda estão em fase sketch, talvez nem maquete, e irão tomando forma ao ritmo das circunstancias, que sim, podem tardar como já tardam, mas ainda virão. Enquanto isso, num dia e momento aleatório, curiosamente com menos atraso, vão tendo agenda as mini-experiências em poesia e verso, do qual, lenta e despretensiosamente, faço um laboratório neste blog (único espaço onde o critério editorial é totalmente meu... ). Algum dia também ganharão forma impressa, sempre ao ritmo das possibilidades e, no dizer de Konstantinos Kavafis, do rogar por uma rota longa. Mas em textos curtos.


Diálogo e-téreo


Adorei teu olhar de contemplação na foto do avião.


Chega de sonhar. Eu te quero agora, já, minha, real e toda.


Eu sei, nunca um mês pareceu tão longe.


Não sei como não te fazer sofrer.


Quinta é sempre uma alegria,


É quando eu tô amorosa que te chamo assim


mas também é falsa esperança.


o que é a pior de todas as crueldades.


Ah, e oh,


E é só quando eu tenho carinho por alguém,


se sabias que ia chover, por que não recolheste a roupa?


então realmente teremos que articular uma maneira de lidar com isso


Em lugar disso, tiraste fotos instantâneas na máquina do metrô.


Acordemos juntos, acorda comigo.


Quero ser presente.






Wednesday, 8 September 2010

Masacre de inmigrantes en México – a nadie le importan


* Texto que escribí para publicación en el sitio español Panorámica Social, que estará disponible en el enlace de la revista día 20 de septiembre. Adelanto el material para los lectores de este blog.



La inmigración no es un tema central de la realidad brasileña - pese las enormes comunidades de brasileños esparramadas por diferentes partes del mundo - cuando comparado al aspecto visceral y de peso determinante que la cuestión ocupa en la vida centroamericana.


Tal vez por esta razón, la matanza en México, 21 de agosto, no haya causado conmoción nacional en Brasil ni ocupado la portada de los medios de prensa, aunque haya brasileños entre los muertos.


Los 72 inmigrantes masacrados en Tamaulipas en el norte de México, cerca de la frontera con los Estados Unidos, no es el primer crimen de este tipo, pero, como define el periódico salvadoreño El Faro, “es un grito, parte de un coro reiterado que por fin llegó a los oídos de todos. (…) el más reciente de un largo eslabón de secuestros y asesinatos de migrantes por parte de grupos de crimen organizado en México”.


Hay una crisis de seguridad en México y los inmigrantes, principalmente centroamericanos, son las victimas más indefensas.


Esta masacre es indignante, pero no sorprendente. Es un capítulo más de una historia desenfrenada que sigue por lo menos desde 2008. En el informe de la Comisión Nacional de los Derechos Humanos de México, titulado “Informe Especial Sobre los casos de Secuestro en contra Migrantes”, afirma que cerca de 10 mil indocumentados, la mayoría de América Central, habían sido secuestrados solo en los últimos seis meses de aquél año. Decía también el nombre y apellido de esa “organización de delincuentes”. Los Zetas son una banda organizada que existe desde 1997, que fundó el Cártel del Golfo El informe aun dice que las autoridades de municipios y estados mexicanos participaban en esos secuestros.


La masacre del grupo de 72 migrantes indocumentados fue presuntamente perpetrada por Los Zetas, que controla la “ruta del migrante” que cruza México hacia Estados Unidos y que, desde hace meses, se dedica a secuestrar indocumentados para pedir a sus parientes el pago de rescates. Al grupo capturado le fue ofrecido trabajo como matones para el cartel mejicano, según relató uno de los únicos tres sobrevivientes identificados. No hubo acuerdo y todos fueron ejecutados a balazos con las manos y pies atados.


Entre los muertos, nacionalidades hondureña, salvadoreña, ecuatoriana, guatemalteca y brasileña. Si, había brasileños entre los inmigrantes masacrados. Juliard Aires Fernandes, de 20 años y Herminio Cardoso dos Santos, 24, eran de la región de Governador Valadares, en el estado de Minas Gerais. Pero en los grandes medios brasileños la principal noticia fue que la Policía Federal del país va a contribuir con las investigaciones. La prensa trató del tema como algo que sucedió en el “lejano” México (incluso con mapas ilustrativos acompañando los textos) y refiriéndose a las victimas brasileñas como originarios de la “región de Brasil que más exporta mano de obra inmigrante para los Estados Unidos”. Y no mucha más atención fue dada a la tragedia, sobretodo en este que es el periodo de efervescencia de los comicios presidenciales en el país.


La apatía y comportamiento blaze de Brasil ante el caso es triste y sintomática de un país que, al fin y al cabo, está apartado del contexto, stricto sensu, latinoamericano. Sin embargo, en Centroamérica, la situación es bien distinta.


Paso de la muerte -


De los cuerpos identificados, 14 eran de salvadoreños, incluso dos adolescentes.


La guerra civil en El Salvador, en términos históricos, fue concluida ayer, en 1992. Y desde entonces la realidad golpea: el país consiguió la paz política, o por lo menos el fin de la hostilidad bélica oficial, al cabo de mucha sangre, pero está lejos de la paz social.


El editorial del periódico salvadoreño ContraPunto explicita: “La pobreza y la exclusión dominan a El Salvador y los jóvenes tienen actualmente casi sólo dos oportunidades: meterse a las “maras” (las gangs) o emigrar a Estados Unidos. En ambos casos la muerte les sigue asechando como un denominador común y un determinismo maldito”.


Se calcula que unos 2.5 millones de salvadoreños residen en Estados Unidos, y las remesas que envían a El Salvador son pilar fundamental de la economía del país. En 2009 el valor total de las remesas representó aproximadamente un 18% del PIB nacional.


El presidente salvadoreño, Mauricio Funes, clasificó la masacre como “un hecho sin precedentes en la historia de las migraciones (de El Salvador)”. Funes, además, reconoció que la tragedia es un reflejo de la falta de condiciones de vida necesarias en el país para evitar el flujo migratorio para los Estados Unidos. “Yo no puedo culpar a México de lo sucedido, hay una responsabilidad compartida también de los salvadoreños, de las autoridades, que tenemos que hacer los esfuerzos para que aquí haya condiciones de empleo, de educación, de salud”, dijo el mandatario.


La culpa ciertamente no es de México, solo, pues los gobiernos centroamericanos también deberían establecer demandas más fuertes para proteger a sus ciudadanos. Sin embargo hay un doble rasero en la política migratoria mexicana que merece ser denunciado: defender los derechos de los migrantes ante Estados Unidos pero mirar para el otro lado en su frontera sur.


La organización Amnistía Internacional (AI) – Sección México - emitió un informe en abril de este año, titulado “Victimas invisibles – Migrantes en movimiento en México", resaltando el fracaso de las autoridades federales y estatales mexicanas de implementar medidas efectivas para prevenir y castigar los miles de secuestros, asesinatos y violaciones de migrantes irregulares a manos de los grupos criminales. En su comunicado oficial de prensa sobre lo ocurrido en Tamaulipas, la AI afirma que “este caso una vez más demuestra el extremo peligro que enfrentan los migrantes y la aparente incapacidad de las autoridades federales y estatales de reducir los ataques contra los migrantes. La respuesta de las autoridades ante este caso será una prueba para el gobierno”


Qué gran paradoja que en territorio mexicano, los migrantes centroamericanos sean tratados de manera diferenciada cuando, junto a sus propios nacionales, todos tratan de intentar cruzar hacia el gastado cliché del “sueño americano”.


La masacre de Tamaulipas es un símbolo crudo y cruel de la dependencia económica, política y cultural centroamericana.


P.S: EN EL CAMINO - Durante más de un año (de octubre de 2008 a diciembre de 2009), el equipo compuesto por el cronista Óscar Martínez, la directora salvadoreña Marcela Zamora, la documentalista israelí Keren Shayo y los fotógrafos españoles Edu Ponces y Toni Arnau y el argentino Eduardo Soteras, recorrieron los caminos del indocumentado en México como parte del proyecto “En el camino”. Desde los prostíbulos de la trata en la frontera sur mexicana hasta el dominio de los cárteles del narcotráfico en los ejidos de la frontera norte, el periódico El Faro produjo un documental y un libro sobra la migración indocumentada a través de México.

Monday, 6 September 2010

Plebiscito da Terra no Brasil - limites em quem não tem

Hoje é um dia de folga “semi-oficial” no Brasil, algo que me soa engraçado ao estar tão acostumado com a escassez de feriados na Grã-Bretanha. Apenas amanhã é o feriado nacional realmente, e de longe são divertidos os nossos “feriadões” tupiniquins. Fico lembrando que melhor ainda é de perto, ao poder-se aproveitar in loco os dias livres estendidos que aquele famoso jeitinho cria.


E a independência do Brasil celebrada no dia 7 de setembro, que permite aos compatriotas essa folga inusitada, também coincide neste ano com outra data de absoluta importância que todo o cidadão deveria estar ciente. Tudo bem se você quiser levar sua bandeirinha verde-amarela pra avenida principal da cidade enquanto assiste aos milicos desfilarem - cada um se diverte como pode - mas aproveite o ensejo e exerça verdadeiramente seu amor pelo Brasil participando da Campanha Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra.


A sociedade brasileira tem a oportunidade de dizer se é a favor ou contra a concentração de terras no país, ou seja, se concorda ou não com o latifúndio, uma das mais óbvias – e absurdas – causas da desigualdade social no Brasil. O Plebiscito Popular pelo Limite da Propriedade da Terra acontece por todo o país com locais de votação espalhados pelas principais ruas e universidades das principais cidades brasileiras. (A lista completa de todos os locais de votação pode ser encontrada aqui).


A ação não é uma iniciativa governamental, e sim de 54 entidades e movimentos sociais que compõem o Fórum Nacional pela Reforma Agrária (FNRA, a Assembléia Popular (AP) e o Grito dos Excluídos. O ato ainda conta com o apoio oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).


O Brasil é o segundo país do mundo em concentração agrária (só perde para o Paraguai) e menos de 3% dos proprietários de terra possuem mais da metade das terras agricultáveis, e deixam a maior parte delas sem produzir. É um dos únicos que não tem absolutamente nenhuma lei que discipline a compra de terras. O acesso a terra é um tema clássico na relação com a desigualdade social. A estrutura fundiária brasileira é ridiculamente retrógrada e assusta qualquer pessoa de bom senso, principalmente estrangeiros, que não entendem abominações como esta: Segundo a ONG Repórter Brasil, um dos exemplos do grau de concentração de terras em nosso país é a área de 4,5 milhões de hectares, localizada na Terra do Meio, coração do Pará, que o grupo CR Almeida, do empresário Cecilio do Rego Almeida, reivindica para si. Trata-se do maior latifúndio do mundo.


Segundo o sociólogo Lauro Borges “para dar sustentação a este raciocínio, basta constatar que mesmo com toda esta concentração de terras e com o profundo comprometimento do governo Lula com o financiamento do agronegócio, é a agricultura familiar quem coloca grande parte dos alimentos nas mesas dos brasileiros e também quem mais dá empregos, pois a cada 100 hectares, o latifúndio emprega duas pessoas e a agricultura familiar, 15”.


O slogan da campanha resume a relevância da participação nesse ato cidadão contra a desigualdade social brasileira: Ou o Brasil acaba com o latifúndio, ou o latifúndio acaba com o Brasil!


Participe deste plebiscito organizado pelos movimentos sociais e diga SIM para colocar limites em quem não tem.

Friday, 3 September 2010

Das coincidências antropo-cine-literárias


O que Kaspar Houser, Macunaíma, e o Popol Vuh podem ter em comum?


Então eu estava ali, onde ainda estou, pesquisando e escrevendo sobre o Popol Vuh em função de um convite inesperado para uma breve fala na October Gallery aqui em Londres sobre literatura centro-americana no dia 16 deste mês.


Durante o período que vivi em El Salvador tive a oportunidade de me familiarizar com este que é o texto mais importante em línguas nativas de todo o continente americano. O livro da criação Maya-Quiché é um produto literário mítico-histórico sobre o período pós-clássico do reino Quiché no que hoje é a Guatemala e perpassa toda a tradição cosmológica e, por conseqüência, antropológica, pré-colombina dessa civilização. Um verdadeiro documento histórico que merece tal título e uma extraordinária obra da imaginação humana.


Pois lendo e relendo resenhas sobre o Popol Vuh, acabo por encontrar que esse também é o nome de uma banda alemã dos anos 70, liderada pelo tecladista Florian Fricke. Foi uma dos primeiros grupos a utilizar sons de ambientação espacial, sintetizadores e percussão étnica – um dos precursores da música psicodélica e do que contemporaneamente chamamos de World Music.


E resulta que a Popol Vuh é a banda que fez a trilha sonora de vários filmes de Werner Herzog, um dos meus cineastas preferidos, incluindo Nosferatu e, o genialíssimo, sempre presente na minha lista Top 5, O Enigma de Kaspar Hauser.


O filme, de 1974, está baseado na historia verídica de Kaspar Houser e usa o texto real das cartas encontradas com ele. Hauser foi uma criança abandonada, envolta em mistério, encontrada supostamente com 17 anos de idade numa praça em Nuremberg, Alemanha do século XIX, 1828, com alegadas ligações com a família real de Baden. (No filme, o ator Bruno, no entanto, tinha 41 anos na época das rodagens). Possuía com ele apenas uma carta endereçada a um capitão da cidade, explicando parte de sua história, um pequeno livro de orações, entre outros itens que indicavam que ele provavelmente pertencia a uma família da nobreza.


Hauser passou os primeiros anos de sua vida aprisionado numa cela, não tendo contato verbal com nenhuma outra pessoa, dispondo apenas de um cavalo de brinquedo para ocupar seu tempo. Isso o impediu de adquirir uma língua, mas a exclusão social de que foi vítima não o privou apenas da fala, senão de uma série de conceitos e raciocínios, o que fazia, por exemplo, que Hauser não conseguisse diferenciar sonhos de realidade durante o período em que passou aprisionado.


Ele se torna objeto de curiosidade e chega a ser exibido num circo antes de ser resgatado por um nobre que pacientemente o transforma. Ele aprende a ler e escrever, regras de comportamento social e desenvolve abordagens pouco ortodoxas à religião e à lógica. A música é o que mais lhe fascina.


A ligação inesperada entre Popol Vuh, Kaspar Houser e Herzog é ainda mais genial quando percebemos o titulo original do filme em alemão: Jeder für sich und Gott gegen alle, que significa “Cada um por si e Deus contra todos”, que não é nada mais nada menos que uma frase tomada por Herzog da icônica obra da nossa literatura brasileira, Macunaima, de Mário de Andrade.


E, para concluir, faço um adendo a este post para não deixar de mencionar o não menos brilhante ensaio do lingüista Izidoro Blikstein, “Kaspar Hauser ou A fabricação da realidade”, (disponivel online aqui) que tive o privilegio de estudar durante a Faculdade de Letras na UFPel.


Convidado pela perplexidade de Kaspar Hauser diante do mundo, Blikstein revisita um clássico tema, muito caro às Ciências Humanas: a relação entre linguagem, percepção, conhecimento e realidade.


Subversão do nosso aparelho perceptivo-cognitivo: esta deve ser a isotopia básica a iluminar a significação mais profunda da história de Kaspar Hauser, vista por Herzog. De fato, pior do que os enigmas atirados ao espectador, é o estranho mundo em que se vê, de repente, plantado, atônito, o próprio Kaspar Hauser. Seu olhar fixo diante das pessoas, ruas, casas, objetos. Tudo assusta. As dimensões, os movimentos, a lógica, a perspectiva, o pensamento, a fala.

Conhecer o mundo pela linguagem, por signos lingüísticos, parece não bastar para dissolver o permanente mistério e a perplexidade de Kaspar Hauser. Talvez porque a significação do mundo deve irromper antes mesmo da codificação lingüística com que o recortamos: os significados já vão sendo desenhados na própria percepção/cognição da realidade.


Coincidências que merecem aleatório, mas provocativo, registro. Eis duas cenas da apaixonante lógica de Kaspar Hauser (legendas em espanhol e em inglês apenas):





Thursday, 2 September 2010

Perfeita combinação de créditos com trilha


Não sei se esta série existe no Brasil, ou se recebe atenção por ai, mas aqui na Inglaterra pouco a pouco ela ganha popularidade. Nos Estados Unidos ela está na terceira temporada e eu que não sou nenhum pouco fã de séries, confesso que assisti todos os episódios da primeira.


Sim, é uma serie que tem a ver com vampiros, e claro que a primeira reação é torcer o nariz e ignorar, mas se por acaso ou insistência de um amigo você assistir a um episodio, é possível acabar interessado nessa esdrúxula mas viciante dose de cultura pop.


E isso porque trabalhada do ponto de vista do "sobrenatural", True Blood é construída com a mistura de temas que envolvem sexo, violência e religião para discutir o fanatismo religioso e a energia sexual que podem corromper o homem. Desenvolve-se assim uma trama que, por mais bizarra que seja, traz o preconceito de raça como enfoque principal e acaba tendo um valor reflexivo.


No minimo a abertura e a música certamente merecem recomendação, bem como o impagável sotaque de "southern american english" dos personagens.