Sunday 26 August 2007

Eu queria ter escrito isso

Reforma estúpida
Mais uma vez, burocratas de pouco tino pretendem enfiar-nos uma reforma ortográfica goela abaixo. Segundo reportagem da Folha (íntegra disponível para assinantes do jornal ou do UOL), as mudanças podem começar já no ano que vem. Há aí dois despropósitos e uma sacanagem.
Em primeiro lugar, a reforma proposta é ruim: gasta-se muita energia para obter avanços menos do que tímidos em termos de unificação da escrita dos países lusófonos. Isto, é claro, se Portugal comprar o pacote, o que talvez não faça. Em segundo e mais importante, é errado e inútil tentar definir os rumos de uma língua natural.
Só vão sair ganhando aqueles editores mais ágeis, que já têm prontos dicionários, gramáticas, cursos de atualização e material didático de acordo com a "nova ortografia" --e é aí que reside a esperteza.
Nunca foram meia dúzia de consoantes mudas --como nas formas lusitanas "adopção" e "óptimo"-- que constituíram barreira à intercomunicabilidade entre leitores e escritores dos dois lados do Atlântico. O mesmo se pode dizer do trema, das quatro ou cinco regras de acentuação que serão alteradas e das sempre exóticas disposições sobre o hífen --os demais pontos que a reforma abarca. Se há empecilhos à boa compreensão entre falantes do Brasil, de Portugal e de países africanos e asiáticos (não nos esqueçamos de Timor Leste), eles estão na escolha do léxico e no uso de expressões locais, felizmente ao abrigo da sanha legiferante de dicionaristas e parlamentares.
Línguas são como organismos vivos: nascem, crescem e morrem. Numa palavra, evoluem. Só que, ao contrário de entidades compostas por moléculas de carbono e codificadas por genes, fazem-no principalmente pelo que os biólogos chamam de "genetic drift" (deriva genética), isto é, sem muita seleção --até pode haver alguma competição entre idiomas, mas bem menos do que entre indivíduos. Escrever "super-homem" ou "superomem" não torna o português mais ou menos apto a sobreviver no mundo lingüístico.
E, se há algo especialmente desimportante para determinar o sucesso ou fracasso de um idioma, é a ortografia tomada isoladamente. Analisemos o caso do inglês, indiscutivelmente o idioma de maior prestígio hoje no mundo. A complexidade de sua ortografia, que é muito pouco fonética, já gerou toda uma mitologia. O escritor Mark Twain, por exemplo, propôs em tom de chiste que a palavra "fish" ("peixe") fosse escrita "ghotiugh", em que o "gh" soa como "f", como ocorre em "enough" ("bastante"); o "o" tem som de "i", como em "women" ("mulheres"); o grupo "ti" vale por "ch", como em "nation" ("nação"); e o grupo "ugh" não tem som algum, como em "ought" ("dever").
Só que o problema ortográfico do inglês, apesar de trazer mesmo uma série de dificuldades, em especial na alfabetização de crianças e no aprendizado como língua estrangeira, revelou-se também um dos ingredientes que, ao lado de outras características, tornaram-no uma língua extremamente versátil, o que contribuiu para o seu sucesso. Com efeito, a anomia ortográfica aliada ao despojamento dos sistemas nominal e verbal trouxe uma vantagem insuspeitada. Como as palavras podem ser escritas de qualquer jeito mesmo e substantivos se tornam verbos sem a necessidade de nenhuma adequação morfológica --em português, para tornar-se verbo, é preciso obedecer à flexão, recebendo, por exemplo, um "r" no infinitivo, como em "amar"--, a língua ganha uma enorme flexibilidade. Praticamente qualquer palavra estrangeira pode ser assimilada em sua forma original. Nenhum termo fica estranho demais para "soar" inglês. Mais do que isso, pode tornar-se, além de um simples nome, também um verbo. É o caso de "toboggan" ("tobogã" e também "fazer tobogã") que veio do idioma algonquino "ipsis litteris". O inglês é, nesse sentido, uma língua perfeita para a era da globalização e, não por acaso, aquela com maior número de vocábulos, boa parte dos quais emprestados de outros povos.
O "genetic drift" também faz com que idiomas possam conservar traços imemoriais sem que isso implique custos demasiado altos. Tal característica torna as línguas naturais verdadeiros palimpsestos, capazes tanto de assimilar modismos criados na véspera como de guardar relíquias herdadas de idiomas muito mais antigos. Seu curso, ainda mais que o da seleção natural, é absolutamente imprevisível. Vale a pena investigar dois ou três casos.
Para o termo "beócio", por exemplo, o dicionário Aurélio registra: "curto de inteligência; ignorante, boçal". Se olharmos para a etimologia, descobriremos estar diante de um preconceito das elites gregas, para as quais os habitantes da província da Beócia --os beócios-- não passavam de camponeses estúpidos e glutões. O sentido de glutonaria se perdeu, mas o de estupidez se manteve em várias línguas modernas.
Obviamente, não eram apenas os gregos os arrogantes e intolerantes. Os judeus do século 12 a.C. também tinham seus desafetos, mais especificamente os filisteus, com quem viviam guerreando. Foi assim que, em hebraico, "pelishti" ganhou conotações pouco abonadoras, que, passados 33 séculos, continuam existindo no português contemporâneo. Para "filisteu" o dicionário Houaiss traz: "aquele que é ou se mostra inculto e cujos interesses são estritamente materiais, vulgares, convencionais; que ou aquele que é desprovido de inteligência e de imaginação artística ou intelectual".
Freqüentemente, surgem bem-intencionadas patrulhas lingüísticas tentando corrigir as injustiças. Ainda não vi ninguém propondo eliminar "beócio" e "filisteu" de nosso léxico, mas acho que a sugestão não apareceu mais por desconhecimento do que por falta de disposição. Recente cartilha do governo federal queria limar termos "preconceituosos" como "anão", "aidético", "barbeiro", "beata", "comunista", "xiita", "funcionário público", "peão". Escrevi algo a respeito na coluna
"Tributo à estultice".
Tais esforços, além de tolos, acabam muitas vezes tendo efeito muito diferente do inicialmente imaginado. É o caso da palavra "cretino". Em regiões montanhosas, como a Suíça, são pobres as fontes de iodo ambiental, o que, antes do processo de iodatação do sal de cozinha, tendia a provocar alta prevalência de hipotireoidismo congênito (ou cretinismo). Como os bons helvéticos já eram politicamente corretos "avant la lettre", recusavam-se a chamar as crianças afetadas pela síndrome pelo nome de "idiotas". No século 18, passaram a usar o mais piedoso termo "cristão", que soava "crétin" no francês dialetal ali falado. Acabaram inventando, sem querer, a palavra "cretino", hoje de alcance mundial e politicamente incorreta. Preconceitos podem até ser reforçados pela língua, mas são capazes de sobreviver muito bem sem ela.
A lição a tirar dessas historietas é que é bobagem tentar legislar sobre um fenômeno tão complexo como a linguagem. Uma analogia válida seria a de deputados tentando baixar uma lei para regular a taxa de mutação do gene p53. Não vai dar certo. Quer dizer, a reforma poderá até nos levar a escrever as palavras de um geito (sic) diferente, mas isso em nada alterará a essência ou os processos da língua e não chegará nem perto de tornar as muitas variantes do português mais intercompreensíveis. Ao contrário, irá apenas criar o incômodo de exigir de alguns milhões de usuários que percam algum tempo para aprender as novas regras cuja arbitrariedade só não é superada pela inutilidade. Se há algo a ser eliminado, não são acentos e hifens, mas a estultícia de burocratas.
Hélio Schwartsman, 41, editorialista da Folha de São Paulo. Coluna do dia 23/08/2007

Friday 17 August 2007

Esse vai só em português (porque dá uma vergonha...)


Dai, depois de ouvir esse nome esquisito, Richarlyson, eu fui tentar saber o que uma criatura - além de ter sido batizada/estigmatizada com tal graça – poderia ter feito para receber tamanha repercussão. Pois sim. Já não bastasse andar por ai apresentando-se de tal modo, sem pudor ou receio, como R-i-c-h-a-r-l-y-s-o-n, o jogador fez o Brasil todo tentar pronunciar seu bendito nome. Imagino o debate nos grupos GggLllBbbTtt. E as bibas: “Sim, e o caso do Richard... Richardils...Richarardil...”
E de fato, além de ter pais com péssimo gosto para nomes, o camarada (vou tentar evitar repetir o nome dele) sentiu-se ofendido quando uma figurinha da direção do Palmeiras insinou num programa de TV, em junho deste ano, que o jogador do São Paulo era homossexual. O senhor jogador YY(não consegui achar o sobrenome dele na internet então vou usar o simbolo de cromossomo de macho!) apresentou uma queixa-crime contra o palmeirense na 9a Vara Criminal do estado de São Paulo, mas o juiz, Manoel Maximiano Junqueira Filho, decidiu arquivar o assunto. E ponto final. E mata a cobra e mostra o pau, senhor juiz! Lendo a sentença, quase dá pra ver o sorriso (na verdade eu nunca o vi mais gordo, nem mais magro...) malicioso, satisfatório, achando graça de si mesmo, do senhor Junqueira Filho. Eu acredito, só pode, que ele fez uma piada e a pobre escrevente, que nunca consegue discernir o humor do seu chefe, pra não correr nenhum risco resolveu anotar tudo, tim-tim-por-tim-tim. Ou é isso, ou tirem-se os tubos, como dizia um antigo colega de jornal. Vejamos o que diz o texto:
A SENTENÇA (?!)
Processo n° 936/07
Conclusão
Em 5 de julho de 2007, Faço estes autos conclusões ao dr. Manuel maximiano Criminal da Câmara da Capital.
Eu, Ana Maria R.Goto, Escrevente, digitei e subscrevi.

A presente queixa-crime não reúne condições de prosseguir.

Vou evitar um exame perfunctório, mesmo porque é vedado constitucionalmente, na esteira do artigo 93, inciso (IX), da carta Magna.

1. Não vejo nenhum ataque do querelado ao querelante.

2. Em nenhum momento o querelado apontou o querelante como homossexual.

3. Se o tivesse rotulado de homossexual, o querelante poderia optar pelos seguintes caminhos:

3.A — não sendo homossexual, a imputação não atingiria e bastaria que, também ele, o querelante, comparecesse no mesmo programa televisivo e declarasse ser homossexual e ponto final;

3.B — se fosse homossexual, poderia admiti-lo, ou até omitir, ou silenciar a respeito. Nesta hipótese, porém, melhor seria que abandonasse os gramados...

Quem é, ou foi, BOLEIRO, sabe muito bem que estas infelizes colocações exigem réplica imediata, instantânea, mas diretamente entre o ofensor e o ofendido, num “TÈTE-À-TÈTE”

Trazer o episódio à Justiça, outra coisa não é senão dar dimensão exagerada a um fato insignificante, se comparado à grandeza do futebol brasileiro.

Em Juízo haverá audiência de retratação, exceção da verdade, interrogatório, prova oral, para se saber se o querelado disse mesmo...e para se aquilatar se o querelante é, ou não...

4. O querelante trouxe em arrimo documental, suposta manifestação do “GRUPO GAY”, DA BAHIA (FOLHA 10) em conforto a posição do jogador. E também suposto pronunciamento publicado na Folha de S.Paulo, de autoria do colunista Juca Kfouri (folha 7), batendo-se pela abertura, nas
canchas de atletas com opção sexual não de todo aceita.

5. Já que foi colocado como lastro, este Juízo responde: futebol é jogo viril, varonil, não homossexual. Há hinos que consagram essa condição: “OLHOS ONDE SURGE O AMNHÃ, RADIOSO DE LUZ, VARONIL, SEGUE SUA SENDA DE VITÓRIAS...”. [trecho do hino do Sport Clube Internacional, de Porto Alegre (RS)]

6. Está situação incomum do mundo moderno, precisa ser rebatida...

7. Quem se recorda da “COPA DO MUNDO DE 1970”, quem viu o escrete de ouro do jogador (Félix, Carlos Alberto, Brito, Everaldo e Piaza; Clodoaldo e Gerson; Jairzinho, Pelé, Tostão e Rivelino), jamais conceberia um ídolo seu como homossexual.

8. Quem presenciou grandes orquestras futebolísticas formadas: Sejas, Clodoaldo, Pelé e Edu no Peixe; Manga, Figueroa, Falcão e Caçapava, no Colorado; Carlos, Oscar, Vanderlei, Marco Aurélio e Dica, na Macaca; dentre inúmeros craques,não poderia sonhar em vivenciar um homossexual jogando futebol.

9. Não que um homossexual não possa jogar bola. Pois que jogue, querendo. Mas, forme o seu time e inicie uma Federação. Agende jogos com quem prefira pelejar contra si.

10. O que não se pode entender é que a Associação de Gays da Bahia e alguns colunistas (se é que realmente se pronunciaram neste sentido) teimem em projetar para os gramados, atletas homossexuais.

11. Ora, bolas, se a moda pega,logo teremos o “SISTEMA DE COTAS”, forçando o acesso de tantos por agremiação...

12. E não se diga que essa abertura será de idêntica proporção ao que se deu quando os negros passaram a compor as equipes. Nada menos exato. Também o negro e, homossexual, deve evitar fazer parte de equipes futebolísticas de héteros.

13. Mas o negro desvelou-se (e em vária atividades) importantíssimo para a história do Brasil: o mais completo atacante, jamais visto, chama-se Edson Arantes do Nascimento e é negro.

14. O que não se mostra razoável é a aceitação de homossexuais no futebol brasileiro, porque prejudicariam a uniformidade de pensamento da equipe, o entrosamento, o equilíbrio, o ideal...

15. Para não se falar no desconforto do torcedor,que pretende ir ao estádio, por vezes com seu filho, avistar o time do coração se projetando na competição, ao invés de perder-se em análise dos comportamento deste, ou aquele atleta, com evidente problema de personalidade, ou existencial; desconforto também dos colegas de equipe, do treinador, da comissão técnica e da direção do clube.

16. Precisa, a propósito, estrofe popular que consagra:

“CADA UM NA SUA ÁREA, CADA MACACO EM SEU GALHO, CADA GALO EM SEU TERREIRO, CADA REI EM SEU BARALHO”.
17. É assim que eu penso...e porque penso assim, na condição de Magistrado, digo!

18. Rejeito a presente queixa-crime. Arquivam-se os autos. Na hipótese de eventual recurso em sentido estrito, dê-se ciência ao Ministério Público e intime-se o querelado para contra-razões.

São Paulo, 5 de julho de 2007.

Manoel Maximiano Junqueira Filho
juiz de direito titular

TIREM OS TUBOS
Eu juro que não sabia que juizes eram tão brincalhões e nem que o podiam ser. E nem que era permitido brincar com o Direito, com o serviço público, com o sistema judiciário. IMPRESSIONANTE! Além da discussão de mérito do conteúdo homofóbico, que foi o que na verdade causou um rebuliço nas entidades de direitos humanos e de livre expressão sexual e o choque em qualquer pessoa de bom senso, o que impressiona é a capacidade de fazer gracinhas do juiz Filho da, quer dizer, Filho.
Vocês viram que ele chega a citar ditados populares?! E o trecho do hino do Colorado? E os nomes da Copa de 1970? Eu duvidei que esse texto fosse mesmo a sentença. Vasculhei vários sites confiáveis até poder acreditar que de fato isso ai em cima foi tratado como sentença oficial.
Num exercício de sublimação, se a gente tentar deixar a indignação contra o preconceito do juiz de lado e se concentrar no aspecto redacional da sentença, o choque é maior ainda. E se um cidadão comum que pensa, e porque pensa assim, mas não na condição de Magistrado (tópico 17) decide enviar um documento qualquer a Justiça valendo-se de tal linguagem? O Filho da (...) não podia estar sendo sério.
Mas a brincadeira não teve graça nenhuma e é, na verdade, muito séria. Prestem atenção no tópico seis. “Está situação incomum do mundo moderno, precisa ser rebatida...” Ele está chamando as homossexualidades de anormais?

E o que dizer do topico 11? “Ora, bolas, se a moda pega,logo teremos o “SISTEMA DE COTAS”, forçando o acesso de tantos por agremiação...” Ele está dizendo que anos de debate e conquistas sobre políticas compensatórias são uma moda que incomoda?
O juiz Filho da (...) até começou bem a, hum, ... essa coisa que chamaram de sentença.
1. Não vejo nenhum ataque do querelado ao querelante.
De fato, não deveria haver sido. Não deveria ser considerado um ataque. Mas é. O Richarylson (tive que falar o nome agora) sentiu-se ofendido porque é fruto de um intrincado debate sobre preconceito que perpassa a mentalidade nacional,como lembra o professor Juremir Machado. Trata-se de uma complexa rede de valores e de conceitos de ética, de moral. É uma apaixonante discussão sobre nossa estreiteza, ignorância e mesquinhez. Enquanto isso, o intocável sistema judiciário produz aberrações como o juiz Filho da (...) e, embora o caso tenha repercutido e sua conduta seja investigada, ainda assim já teve alguns desembargadores seus colegas que não vêem motivo para que ele seja afastado do cargo.

Agora, convenhamos, o nome do jogador...

Friday 10 August 2007

German Measles there, Foot and Mouth here

The english version of the latest post below will be posted as soon as the proof reading procedure is concluded.

Rubéola lá, Aftosa aqui


De bermuda, mas com os pés gelados. Parece que há mesmo semelhanças entre Londres e Pelotas. Não que isso seja novidade. Ao menos não o é para o pelotense modus vivendis que, ao fim e ao cabo, adora comparar a umidade do pantâno(!) do sul com a da babilônia da rainha, adora associar a murrinha de inverno com o tal do fog, adora pensar que já sabe tudo isso. Que já sabe tudo, aliás...
Este ano temos um mês de verão, apenas. Agosto, até agora, tem mantido-se com sol. Claro que nubla por vezes ao longo do dia. Claro que é preciso levar um casaquinho na mochila para o final da tarde. Claro que, dado isso, não se pode chamar o período propriamente de verão, mas há um azul no céu. Então há luz, mas não há calor. E assim, como em inicios de outuno pelotense, veste-se meias com bermuda (ao menos em casa) mas as semelhanças não terminam por ai.

Como Pelotas e Londres coincidem
Há duas epidemias ocorrendo simultaneamente em cada uma das pontas do açude Atlântico. Pelotas vacina – e hoje é o último dia – pessoas para evitar a rubéola e a Inglaterra sacrifica – e hoje foi descoberto um possível novo foco – vacas para evitar a aftosa. Que coincidência!
Na aftosa, o animal afetado apresenta febre que diminui em menos de uma semana, olhos lacrimejantes e lesões nas mucosas e pele.
Na rubéola, o animal afetado apresenta febre que diminui em menos de uma semana, vermelhidão nos olhos e manchas na pele que iniciam no rosto e evoluem até os pés.
Aftosa em inglês chama-se foot and mouth (pé e boca) e as manchas características da rubéola, como mencionado, evoluem da boca para os pés. Que coincidência!
Mato ou vacino?
O que não coincide são as atitudes diante da situação. Na semana passada, tão logo a suspeita de um foco de aftosa numa fazenda perto da cidade de Normandy, a 50 km de Londres, foi apontada, um plano emergencial foi imediatamente inicidado pelas autoridades britânicas. Proibiu-se os deslocamentos de gado e porcos em todo o território do Reino Unido e se estabeleceu uma área de controle de três quilômetros e uma zona de vigilância de dez quilômetros. Até agora, 576 animais foram sacrificados.
Já em Pelotas, ainda que os indícios de uma epidemia de rubéola tenham se manifestado em maio, foi somente no dia quatro de agosto que o governo de lá iniciou uma campanha de vacinação para evitar que o virus atinja mais do que as 107 pessoas já contaminadas.
Além disso, rubéola mata animal humano, febre aftosa não. Rubéola é, literalmente, doença de criança e por isso mesmo perigosa para grávidas que quando infectadas, transmitem o vírus para o feto e estão sujeitas a um alto risco de aborto. A aftosa não produz impacto direto na saúde pública. O consumo de carne contaminada pela doença praticamente não traz risco à saúde humana, porém afeta bolsos. O pessoal do Sindicato da Indústria de Carnes do Rio Grande do Sul já tinha ficado todo animadinho com um possível aumento da importação da carne brasileira pela Europa, mas a Comissão Européia já disse que não, embora a Rússia tenha confirmado que comprará carne do Brasil. (leia noticia aqui)
Por fim, uma outra coincidência, é que a aftosa não afeta eqüídeos. Logo, ainda que, respectivamente aqui e lá, matem-se vacas e vacinem-se gente, o que sobra mesmo (de novo, respectivamente, aqui e lá) são cavalos, asnos e mulas!



Sunday 5 August 2007

A Brazilian in London - Intro


There are a lot of Brazilians living in London. According to the Office for National Statistics (ONS) in 2006 there was 25 thousands Brazilians in the British capital. For the ones who are in fact here, however, the official numbers are not convincing. With no effort – and at times preferring not have heard – the Brazilian Portuguese is easily found all over the city in the most common public spaces such as tubes, buses, corners and parks. The Brazilian Consulate in London, curiously, has no official statistic on the exact amount of Brazilian citizens living in the city or even in Britain. It is nevertheless on the number of seats occupied by the compatriots in the evangelic church temples spread over the UK that the Itamaraty bases its estimative. Thus, there are, likely an approximately, 100 thousand Brazilians in the country and at least half of those are in London.
Why have you left a country with such lovely weather to be living here? This is the question that many natives - unreconciled with their own weather - ask when they find out you have abandoned the “tropical paradise” to be in the constantly grey London drizzling. For a short period or indefinitely staying for working, studies, adventures or even simple pleasure would be the generic categories where the different types of stories fit in. Each of them has tastes, wills, wishes, fears and plans that vary so intensly and obviously as it does in any other person. But their cultural identity is crosscut by values that only the immigration experience produce. Here, they are not only Brazilians. They are Brazilians living in London.

Fortnightly, Deiticos will publish a quick interview with one of these names. The questions are set upon the Starters section of the Weekend magazine, Saturday supplement of The Guardian. The answers are unique and human, too human.

Saturday 4 August 2007

A Brazilian in London - Interview


Leticia Lobão was born in Rio de Janeiro, Brazil, in 1979. She holds a degree in History from the Federal University of Rio de Janeiro, (UFRJ). She came to London in 2005 and went back to Brazil in 2006 only to return a few months later to the UK, but this time as the fiancé of the Hungarian Norbert and with the wedding celebration around the corner to take place on British soil. Leticia has been living in south London, in a location, which is exactly 23 minutes away by train from Black Friars Bridge station. She does not know when or whether she will be going back to Brazil.

What is you earliest memory?

I remember of having watched on TV the first Rock in Rio, in 1985, on my mum’s lap when I was around five years old. I was eating Mabel (an old Brazilian sweet brand) doughnuts – which are as old as my memories – dipped in double cream. I think I understood the concert because I remember I liked it. We watched Queen’s gig and I still like it nowadays, but not enough to go for a night out at the We Will Rock You (musical showing at West Wend)

What is you greatest fear?

I am scared of death.

Which living person do you most admire, and why?

Luis Fernando de Simone. He is a genius who knows precisely what he wants, despite of being a pianist in Brazil

What is the trait you most deplore in yourself?

I am critical, too critical in fact.

What was your most embarrassing moment?

Well, there is sort of one, but you cannot really publish it. We do not usually want the embarrassing episodes of our life to be divulgated, do we? All I can say is that it is related to sex.

What is your favourite word?

Justice


Where would you like to live?

At Rio de Janeiro, the best city in the world.

What is the first thing that crosscut your mind when you think of London?

Money and Capitalism

What makes you depressed?

Estagnation

When did you last cry, and why?

Yesterday, because I missed Brazil

What words or phrases do you most overuse?


Not. I am very pessimistic.

What do you consider your greatest achievement?

My backpacking trip around Europe was a great personal achievement.

What keeps you awake at night?


Nothing. Not even my father’s death managed to disrupt my sleep.

How would you like to be remembered?

The best friend, historian, lover...

Friday 3 August 2007

Um brasileir@ em Londres - Intro

Há muitos brasileiros em Londres. De acordo com dados do órgão inglês Office for National Statistics (ONS) em 2006 havia 25 mil brasileiros na capital britânica. Para quem esta por aqui, porém, os números oficiais não convencem. Sem nenhum esforço – e ás vezes preferindo nem ter escutado – o português brasileiro é encontrado facilmente por toda a cidade, nos mais comuns espaços públicos como ônibus, metrôs, esquinas e parques. O consulado do Brasil em Londres, estranhamente, não tem nenhum dado oficial sobre a quantidade de cidadãos do país na cidade ou mesmo na Grã-Bretanha. Entretanto, é na quantidade de cadeiras ocupadas nos templos evangélicos espalhados pelo Reino Unido que o Itamaraty baseia a sua estimativa e, assim, há provavelmente cerca de 100 mil brasileiros no país e pelo menos metade na capital.
Por quê você deixou um pais de clima tão “lovely” para vir para cá? É a pergunta que muitos nativos inconformados com seu clima fazem ao saber que você saiu do “paraíso tropical” para estar na murrinha cinza londrina. Passagem curta ou definitiva para trabalho, estudo, aventura e mesmo pura fruição seriam as categorías gerais onde as histórias se encaixariam. Cada um deles tem também gostos, vontades, desejos, medos e planos que variam tão intensa e obviamente como em qualquer outro indivíduo, contudo sua identidade cultural está permeada por valores que só a experiência da imigração produz. Aquí, não são apenas brasileiros, são brasileiros em Londres.

Quinzenalmente, Dêiticos publica um breve ping-pong com um desses nomes. As questões são baseadas na seção Starters, da revista Weekend, suplemento do jornal The Guardian aos sábados. As respostas são únicas e humanas, demasiadamente humanas.

Um brasileir@ em Londres - Entrevista


Letícia Lobão nasceu no Rio de Janeiro in 1979. É graduada em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Veio para Londres em 2005, foi ao Brasil em 2006 e alguns meses depois retornou ao Reino Unido, mas dessa vez noiva e prestes a casar, com o húngaro Norbert, em solo britânico. Leticia hoje mora no sul de Londres, há exatos 23 minutos de trem da estação de BlackFriars, e não sabe quando volta ao Brasil.


Qual é a sua mais remota lembrança?


Lembro de ter assistido pela TV a primeira edição do Rock in Rio, em 85, no colo da minha mãe, quando eu tinha cinco anos de idade. Eu estava comendo rosquinhas Mabel - que são tão remotas quanto a minha lembrança - molhadas no creme de leite. Acho que entendia o show porque lembro que gostei. Assistimos Queen e até hoje gosto bastante, mas não o suficiente para ir ver o “We will Rock You” (musical em cartaz em West End, em Londres).

Qual foi/é o maior medo da sua vida?

Medo da morte.

Qual a pessoa viva que você mais admira e por quê?

Luis Fernando de Simone. Ele é genial, sabe exatamente o que quer e é feliz, apesar de ser um pianista no Brasil.

Qual o traço/característica que você menos gosta em você mesma?

Ser crítica, demasiadamente crítica.

Qual foi o momento mais embaraçoso da sua vida?

Até tem um, mas não dá pra você colocar. O que é embaraçoso geralmente a gente não quer divulgar, né? Mas é referente a sexo.

Qual é a sua palavra favorita?

Justiça

Onde você gostaria de viver?


No Rio de Janeiro, a melhor cidade do mundo.

Qual é a primeira coisa que vem a sua cabeça quando você pensa em Londres?

Dinheiro e Capitalismo

O que faz você ficar deprimida?

Estagnação

Qual foi a última vez que você chorou e por quê?

Ontem, porque senti saudades do Brasil.
Quais são as palavras ou frases que você usa exageradamente?

Não. Sou muito pessismista.

Qual foi a maior realização que você já alcançou?

Ter feito sozinha um mochilão pela Europa.

O que faz você perder o sono?

Nada. Nem quando meu pai morreu eu perdi o sono.
Como você gostaria de ser lembrada?

A melhor amiga, historiadora, amante ...