Thursday 18 December 2008

Depois de dois anos

Vou ao Brasil. Hoje, daqui a pouco. Faz dois anos que nao vejo os pampas, que nao sinto o calor sufocante do verao gaucho, que nao escuto o sotaque cheio de "sse" dos pelotenses (entendesse?), que nao me dou de cara numa esquina do calcadao com um conhecido qualquer. Vou porque ja eh hora. Volto em seguida para este velho continente tao cheio de um mundo novo. Mas agora quero tomar chimarrao no Quadrado, pedir um cafezinho no Aquario e comer um doce na Avenida depois de um churrasco de domingo antes de passar o fim da tarde no Laranjal. Nao sei se nada disso esta lah, se talvez tenha mudado, se esta tudo no mesmo lugar. Mas vou porque ja eh hora. Porque sou de la. E que venha um novo ano! Paz a todos!

Monday 15 December 2008

Uma faca ou uma caneta amarela?


Nenhuma relacao com El Salvador, mas os protestos em Atenas sao bastante curiosos, por assim dizer e me levou a buscar informacao "nao-oficial" no YouTube.
O video aqui eh sobre uma pequena e pacifica manifestacao na semana passada em frente a Embaixada da Grecia em Londres e vale a pena mesmo da metade para o fim, quando o jornalista eh momentaneamente detido pela polite policia britanica.
Interessante para os profissionais da aerea e para curiosos sobre jornalismo.

Thursday 4 December 2008

¡Radio Venceremos, desde el territorio salvadoreño bajo control insurgente!


Em El Salvador, o pequeno pais da America Central, ha um pequeno museu cujo tamanho não é obstáculo para guardar o grande tesouro que conta a historia de um grande povo. O Museu da Palavra e Imagem, popularmente chamado de MUPI, possui, entre outras riquezas do seu acervo, uma coleção de mais de 30 mil fotografias, centenas de documentários, manuscritos e objetos que foram reunidos durante mais de onze anos quando o país vivia uma das mais violentas guerras civis da historia contemporânea da America Latina, nos anos 80. O responsável pela conformação desse arquivo de memória histórica foi justamente um dos protagonistas da historia do conflito entre a Frente Farabundo Marti para Liberacion Nacional (FMLN) e o exercito salvadorenho, financiado e articulado pelos Estados Unidos em tempos de radical intervencionismo norte-americano.

Carlos Henriquez Consalvi, melhor conhecido pelo pseudônimo de Santiago, nasceu na Venezuela, mas é salvadorenho com todo o coração. Ele foi o fundador e atual diretor do MUPI, mas antes esteve onze anos nas montanhas no norte de El Salvador no comando da Radio Venceremos.

Apos estudar jornalismo em Caracas, Consalvi parte para Nicarágua em um grupo de ajuda humanitária para prestar apoios aos atingidos pelo grande terremoto de 72, em Manágua. Ali conhece os Sandinistas, contribui para a queda do ditador Somoza e em dezembro de 81 chega a El Salvador para ajudar a FMLN a instalar uma emissora de radio clandestina na zona sob controle insurgente.

Foram anos de trabalho sob condições de extrema dificuldade, não raro sob bombardeio, que foi reconhecido internacionalmente como uma confiável fonte de informação sobre a guerra e sobre El Salvador durante toda a década de 80. O projeto ampliou-se e chegou a constituir o Sistema de Comunicacion Venceremos, que incluía a radio, publicação de periódicos e produção de documentários com apoio de jornalistas estrangeiros num labor marcado pela intensa participação das comunidades da região de Morazan, de onde a radio transmitia.


Santiago foi recentemente premiado pela fundação holandesa de Direitos Humanos Prince Claus por seu trabalho como jornalista comprometido com a criação de espaços de liberdade e pelo seu compromisso com a promoção da memória e reconstrução da sociedade salvadorenha.


***************


Em El Salvador pude conversar pessoalmente com Santiago, o fundador da experiência histórica que inspirou movimentos de radio comunitária por toda a America Latina. O resultado são projetos ambiciosos que serão devidamente divulgados no seu tempo. Antes disso, alem de uma longa entrevista com ele que também será em breve publicada, a RadioCom 104.5 FM, em Pelotas, Brasil, leva ao ar no programa “Contraponto” do dia quatro de dezembro, as 8h30 e também no programa “Navegando na Contra-informação”, as 16h, um rápido bate-papo exclusivo e inspirador para lutadores sociais e radioscomunitarios comprometidos com a democratização da comunicação. A RadioCom pode ser escutada online aqui.

Tuesday 30 September 2008

A maldiçao de Marcos Diaz


Nao vou ficar falando, de novo, o quao pessimo blogueiro eu sou dada a irregular periodicidade com que me dedico ao meio. Largo periodo sem o registro publico e virtual em El Salvador, mas acho que pelo tamanho e importancia deste post eu dou uma compensada! E, Ju, nao consegui manter o titulo para o nome de um futuro livro e vou usar aqui mesmo...


O suplemento dominical Septimo Sentido do mes de agosto da La Prensa Grafica, um dos tres principais jornais salvadorenhos, destaca uma reportagem, que se pode dizer boa, sobre os ultimos acontecimentos politicos na Bosnia. No mesmo suplemento, no dia 28 de setembro, uma reportagem sobre a investigacao que se inicia na Espanha a respeito dos crimes cometidos no pais durante a guerra civil (1936-1939).

Os textos nao foram produzidos pelo proprio veiculo, mas sim pelo Espanhol El Pais. Ambos veiculos possuem um convenio, imagina-se, pois o jornal salvadorenho com frequencia publica artigos (geralmente de teor historico-politico) feito pelo veiculo espanhol. A chamada dos artigos sobre a Bosnia e sobre a Espanha, no entanto, eh redigido pelos editores do caderno salvadorenho. E para o primeiro texto, que trata da recente prisao do criminoso de guerra serbio Raduvan Karadzic, a chamada afirma: “a prisao do autor intelectual do massacre de Srebrenica (oito mil homens mortos em tres dias em 1995) parece indicar que eh serio o desejo da Serbia de virar a pagina da sua recente historia negra”. Para o segundo, sobre as novidades da guerra civil espanhola, a chamada destaca: “por decadas o medo ocultou a historia da repressao franquista. Do mesmo modo que em El Salvador, nenhum governo (espanhol) promoveu uma investigacao ampla sobre os executados e desparecidos”.

Essa eh a ironia, porem, da tambem recente e negra historia salvadorenha. O pulgarcito de America tambem quer, ou diz que quer, ha 17 anos, virar paginas de dor. Mas ao contrario da Serbia, punir os criminosos, rechazar a impunidade e manter viva a memoria nem sempre foi – e muitas vezes nao eh – entendida como a prova seria dessa disposicao. E ainda menos da Espanha, onde efetivamente, ainda que com 70 anos de atraso, discute-se sobre justica. (Vale nota – a iniciativa na Espanha foi tomada pelo mesmo juiz, Baltasar Garzon, que em 1998 tentava processar o ditador Augusto Pinochet).

Os periodicos de El Salvador publicam analises vinda da Espanha sobre o enredado conflito nos Balcas tendo como eixo que a punicao dos envolvidos eh a porta de entrada para a verdadeira reconstrucao. Enquanto isso, El Salvador, para atos de mesma dimensao e demencia, continua ignorando-se e sendo ignorado. O pais quer esquecer em lugar de tomar consciencia critica e isso faz com que, como nacao, se mantenha esquecido; quer aproveitar a suposta paz alcancada para converter-se em um pais turistico atrativo para os gringos e europeus em lugar de promover a paz verdadeira com sua historia.

Em nivel latinoamericano, um dos resultados dessa postura eh que o nosso conhecimento e atencao, como brasileiros por exemplo, esta mais enfocado na dissolucao da Yoguslavia do que nos fenomenos e dores, com semelhanca de carater e origem, que nosso continente sofreu.
Conhecemos a historia de My Lay (Vietnam), mas nao temos a menor ideia do que foi El Mozote. A America Central, quase sempre, eh um pedaco de terra entre o sul e o imperio onde houve guerras, ha vulcoes e as vezes ocorrem terremotos e nem nos envergonhamos dessa grotesca e absurdamente rasa ideia que temos do nosso proprio continente.



MOZOTE ESQUECIDO
O episodio ocorrido em El Mozote eh um dos maiores massacres cometidos contra civis na historia recente da America Latina, com pelo menos o dobro de vitimas que My Lay e quizas levado a cabo com mais requintes de crueldade do que o da vergonha realizada na aldeia vietnamita.

Para a geracao pos-guerra de El Salvador, contudo, El Mozote eh um fato distante, no tempo e tambem no espaco, apesar do cenario da matanca estar ha menos de 300 km da capital, San Salvador. Para muitos salvadorenhos, o que era um remoto rincao do oriente do pais ha 27 anos, segue sendo tao inospito quanto a confusa ex-Yoguslavia.

Tendo a chance de trabalhar como professor em El Salvador, numa renomada instituicao de carreiras tecnicas do pais (ITCA, uma especia de CEFET), por vezes surgia a oportunidade de averiguar a impressao e o conhecimento dos salvadorenhos nascidos durante ou ao final dos Acordos de Paz, jovens em media na casa dos 20 anos, e o que se percebe eh muita desinformacao e pouca esperanca. Pergunte numa sala de aula com 40 estudantes sobre o que foi o massacre de El Mozote e menos de cinco maos se levantarao para dizer que o nome soa familiar.

PARA CHEGAR AO MOZOTE

Estive no Mozote, em agosto deste ano, com um grupo de tres admiraveis pessoas, para conhecer in locu esse lugar de tamanho simbolismo para a historia do nosso continente.

Sem veiculo proprio, como em muitos destinos de El Salvador, o acesso nao eh muito simples, embora as estradas sejam bastante boas. A falta de um sistema de transporte decente no pais (tema de outro futuro post) faz com que a viagem seja uma jornada. Saimos a tarde do deprimente Terminal do Oriente de San Salvador com destino a San Miguel de onde se toma outro onibus. Ao chegar ai, pouco depos das cinco da tarde, ja nao ha transporte ate Perquin, a nao ser as famosas e populares traseiras de camionete em uma viagem de duas horas ate Francisco Gotera para dai agarrar outra pick-up... Decidimos passar a noite em San Miguel num hotel de sete dolares cada quarto para as seis da manha seguinte estarmos viajando direto ate Perquin em onibus. Depois de mais tres horas, chegamos ao vilarejo onde esta o Museu da Revolucao Salvadorenha, um pequeno predio, organizado por ex-combatentes, que abriga armas usadas na guerra, cartazes, fotos, cascos de bombas de 500 libras e ate os carros utilizados por dois dos cinco comandantes do FMLN durante a guerra, Schafik Handal e Joaquin VillaLobos.

Visitamos o museu pela manha com a ideia de ir ao Mozote pela tarde, mas depois das 13h ja nao ha nem pick-ups que passem pelo desvio de Arambala, de onde temos que tomar outro onibus para, por fim, chegar ao cenario do massacre. Isso fizemos na manha seguinte, razao pela qual tivemos que pernoitar outra vez, mas agora nao num pequeno e barato hotel, senao numa casa de hospedes que poderiamos chamar de cara (dada as curiosas condicoes, para dizer o minimo,) de Perquin chamada “Casa da la Abuelita”.

Assim chegamos ao Mozote. Uma minuscula vila, entrada nas montanhas do oriente do pais, quase na fronteira com Honduras, onde hoje, de diferente do Mozote do inicio dos anos 80, imagina-se que esta apenas o monumento a memoria do massacre (vide foto no inico do post) e um “posto de informacao turistica” em frente a igreja.

Alguns minutos depois de descermos do onibus – com mochilas e caras de turista – no meio da silenciosa e polvorenta vila, uma jovem se aproxima disposta a nos contar a historia. Ao redor, so se ve meia duzia de residencias; a igreja; o passo eventual de uma crianca ou adolescente de bicicleta; dois ou tres homens, depois da cerca, com lenha ou apetrechos de trabalho agricola nas costas; alguns cachorros famintos perambulando; um poco pintado de branco de onde se ergue um alto bambu com uma bandeira vermelha do FMLN no topo e uma pequena mercearia de onde nos observa uma senhora gorda, sentada em frente a diminua praca onde esta o monumento a memoria do massacre que guarda os restos mortais de um milhar de pessoas assassinadas. Eh ali, em frente aquela placa de metal recortada na forma da silhueta de uma familia, colocada em frente a um muro de tijolos com os nomes das vitimas, que ouvimos a “guia turistica” do Mozote nos contar sobre a triste historia da miseravel vila e recorrer os lugares exatos das execucoes, dos escombros das casas que resistiram aos incendios provocados pelos soldados para esconder a vergonha da barbarie ali cometida.

VERGONHA ESCONDIDA

Durante 11 anos uma mulher, Rufina Amaya Marquez, foi diante de todo o mundo a unica testemunha do massacre, mas pouca gente lhe dava credito. Ela foi a unica pessoa que, milagrosa e bravamente, sobreviveu a asquerosa operacao “Yunque y Martillo” do famigerado Batalhao Atlacatl do exercito salvadorenho no dia 13 de dezembro de 1981, quando foi morta toda a populacao de mais de mil homens, mulheres, criancas e idosos do pacifico vilarejo El Mozote e arredores.

Ate outubro de 1992, ano em que a guerra civil de pelo menos12 anos em El Salvador por fim havia terminado, Washington teve sucesso em manter o crime em segredo; enterrado entre mais de mil cadaveres no extremo oriente do pais.

Rufina, que viu seu marido e quatro filhos (um deles de oito meses de idade que lhe foi arrancado do peito) serem assassinados, conseguiu, com uma extraordinaria forca psicologica, contar a historia ao mundo. Seu relato,comprovado por jornalistas norte-americanos, foi manchete do The Washington Post e do The New York Times apos a Radio Venceremos (orgao de comunicacao da guerrilha) ter denunciado o massacre, mas a Casa Branca, que naquele momento, comeco de 1982, debatia se manteria ou nao mais apoio para o governo ditatorial salvadorenho combater a guerrilha, precisava desacreditar o relato que, no periodo intrincado da Guerra Fria, deixava o pais entre o dilema de manter a “seguranca nacional” e o suposto respeito aos direitos humanos (ja que os politicos americanos estavam cientes do nivel de violencia em El Salvador) que os Estados Unidos julgavam, e julgam, exercer.

O massacre de El Mozote eh provavelmente o maior da historia contemporanea latino-americana.



“SECAR O RIO”

No dia 1 de dezembro de 1981, Jonas, o lider guerrilheiro em Morazan, informou a Santiago, diretor da Radio Venceremos, que havia sido confirmado um operativo militar de grande envergadura na regiao denonominado pelos oficiais do exercito de “Yunque y Martillo”. O governo salvadorenho queria “resgatar” Morazan das maos dos guerrilheiros pois os revolucionarios tinham grande influencia no Oriente do pais e praticamente o controle politico da regiao. Os oficiais salvadorenhos temiam que se a guerrilha nao fosse retirada de Morazan, o pais, o menor de todo o continente Americano, com apenas 21 mil km quadrados, pudesse terminar dividido em dois.

O batalhao de elite do exercito, o Atlacatl, treinado pelo carismatico e truculento coronel Domingos Monterrosa (homem de confianca dos norte-americanos e formado em diversas capacitacoes militares yankees) era uma classe diferente da maioria dos soldados salvadorenhos. Eram mais ferozes, mais professionais e muito melhor equipados. Sempre com dinheiro e estrutura norte-americana. Nesse periodo os EUA haviam dado um passo em frente no financiamento da guerra (que totalizou 500 milhoes de dolares, oficialmente, entregues ao governo salvadorenho para combater a guerrilha) mas nao estavam dispostos a envolver seus soldados diretamente, ja que o pais ainda estava sob a ressaca historica do Vietnam, e nao soh permitiram como estimularam que El Salvador vivesse 12 anos de fraticidio.

A missao do batalhao Atlacatl era colocar em pratica as medidas necessarias para “exterminar o cance”, “cortar o mal pela raiz” ou, segundo o propio coronel Monterrosa, “secar o rio para evitar que os peixes crescam”. O Mozote estava dentro da zona controlada pela guerrilha, mas os rebeldes nao eram capazes de oferecer aos civis suficiente protecao. Em uma operacao do exercito de grande porte, que neste contexto posteriormente se mostrou orientada pela politica de “tierra arrasada”, a populacao civil tambem tinha que fugir.

Mas a populacao do Mozote, no inicio daquele mes, decidiu ficar.



MARCOS DIAZ

Como em muitas outras comunidades do Departamento de Morazan, a populacao se esforcava em manter-se neutra durante a guerra e muitas vezes, de fato, tinha medo da guerrilha. Contudo, foi a confianca no exercito, e em Marcos Diaz, que levou todo o vilarejo a morte.

O dono da unica mercearia da comunidade, considerado o homem mais rico do Mozote, organizou uma plenaria em frente a sua casa em dezembro de 81 onde contou aos moradores o que lhe haviam dito em San Miguel, cidade do Oriente de El Salvador localizada ha tres horas do pequena vila onde ele fazia as comprar para abastecer sua lojinha.

Um oficial do exercito lhe garantiu que, apesar da operacao militar estar realmente dirigindo-se ao Mozote, o melhor a fazer era ficar na vila e permanecer nas casas para nao correr o risco de que os soldados os confundissem com guerrilheiros em retirada.

Marcos Diaz confiou no seu conhecido no exercito e a populacao do Mozote confiou em Marcos Diaz.

A maioria ficou na vila, sabendo que o exercito viria, mas confiantes de que, ja que nao eram colaboradores da guerrilha, nada de mal lhes ocorreria. A confianca converteu-se em decepcao e morte e para Marcos Diaz, quicas, uma maldicao. O batalhao Atlacatl estava ali para levar a cabo uma estrategia politica, extipar o cancer, secar o rio, dar o exemplo.

Oficialmente, a missao era aniquilar a Radio Venceremos. A radio da guerrilha era a obsessao do coronel Monterrosa que nao admitia e se enfurecia com a sua existencia. O Atlacatl foi ao norte de Morazan, com destino a Guacamaya, onde de fato foi um dos lugares de funcionamento da emissora. Porem a inteligencia da guerrilha ja havia tomado conhecimento do operativo e o coletivo da radio partiu do acampamento muito antes da chegada do Exercito.

Durante seu trajeto a Guacamaya, o Atlacatl aterrorizou e assasinou em Perquin, em Torilas e no Mozote cumpriu sua missao de barbarie atraves do “tierra arrasada” ao matar os mais de mil civis pacificos, sem vinculacao com a guerrilha, incluindo idosos, mulheres e criancas de colo.

O batalhao levou dois dias para cumprir o se pode chamar de ritual. Dividiram a populacao entre homens, mulheres e criancas; cada grupo encerrado em uma casa da comunidade.

Os homen, que estavam na igreja, foram os primeiros. Foram levados em pequenos grupos atras do predio e metralhados e os que ficavam agonizando eram decapitados a facao. As cabecas, cujos craneos foram encontrados anos mais tarde, foram amontoadas perto da sacristia.

Pouco depos do meio-dia daquele 11 de dezembro de 81 foi a vez das mulheres. Os soldados selecionavam as mais jovens e as arrastavam para os cerros nos arredores. As outras ouviam os gritos das que estavam sendo estupradas. Depois, os soldados voltaram as casas e comecaram a separar as maes dos filhos. Grupo de mulheres eram levadas a execucao na pequena praca da vila e a casa aos poucos enchia-se de orfaos aos prantos.

Rufina assisitia todo o repugnante ritual escondida atras de um pe de maca, que ainda existe no Mozote reconstruido. Quando enfileiravam as mulheres na praca, ela, que estava ao final de um dos grupos, aproveitou a distracao do soldado em meio ao alarido de desespero e se arrastou por baixo de uma cerca escondendo-se atras da arvore onde permaneceu por todo um dia e toda uma noite.

“Yo no sabia que hacer. Estaban matando a mis hijos. Sabia ue se regresaba alla me harian pedazos, pero no podia resistir escuchar los gritos de mis hijos. No podia soportarlo. Tenia miedo de llorar ruidosamente. Pense que iba a gritar, que me iba a volver loca. No podia soportarlo y suplicaba a Dios que me ayudara. Le prometi que si el me ayudaba, yo le contaria al mundo lo que habia ocurrido aqui. Despues me amarre el cabello y la falda entre las piernas y me arrastre sobre el estomago detras del arbol. Alli habia animales. Unas vacas y un perro me vieron e yo tuve miedo de que hicieran algun ruido, pero Dios hizo que estuvieran silenciosos. Me arrastre entre ellos. Cruce la calle bajo un cero de puas y cruce entre las plantas de maguey hacia el otro lado. Me arrastre lejos a atra ves de las espinas. Cave un pequeno hoyo con mis manos y coloque mi cara dentro de el para poder llorar sin que nadie me oyera. Todavia podia oir los ninos gritando y llorando. Me quede alli con la cara en la tierra y llore”. (relato de Rufina Amaya no livro Luciernagas en El Mozote).

Os soldados do Atlacatl por fim terminaram sua missao. Mataram todas as criancas do Mozote que haviam sido encerradas dentro de uma casa da vila depois que suas maes foram executadas. Antes de marcharem para Guacamaya, lugar do objetivo oficial da missao, onde supostamente encontrariam o acampamento guerrilheiro que resguardava a Radio Venceremos (a guerrilha havia deixado a regiao varios dias antes), os soldados se sentaram em circulo para ouvir uma fala do capitao Salazar, um dos oficiais em mando da operacao.

“Senores, lo que nosotros hemos hecho ayer y anteayer se llama guerra. Esto es lo que es la guerra. La guerra es el infierno. Y si yo, pendejos, les digo que tienen que matar a su madre, eso es lo que van a hacer. Yo no quiero oirlos despues lamentandose, diciendo que terrible fue todo esto. No quiero oir eso, porque lo que hemos hecho en este operativo es la guerra, senores. Esto es la guerra” (do livro, Luciernagas en el Mozote).

*****

Em 1984, Santiago e a equipe da Radio Venceremos tiveram que mais uma vez deixar um dos acampamentos guerrilheiros de Morazan e marchar para despistar o exercito que havia detectado sua posicao. Desceram uma costa e avancaram por uma deserta trilha em Arambala. Era meia-noite quando no silencio da madrugada nublada perceberam onde estavam. Millares de luzes minusculas revelaram as ruinas da igreja do Mozote. “Sao as almas do Mozote”, gritou o padre Rogelio Poncet, camarada da luta da guerrilla. Eram inquietos e animados vagalumes que dancavam exatamente no vilarejo onde poucos anos antes Santiago havia estado logo apos o massacre e testemunhou, consternado, os cadáveres da populacao assassinada.

Durante as negociacoes para a paz em El Salvador, ja no comeco dos anos 90, foi estabelecido que seria criada, com intermediacao da ONU, uma comissao internacional, chamada Comisión Verdad, para investigar e fazer publico os acontecimentos que marcaram a historia do menor pais da America. O documento define a guerra civil salvadorenha como “loucura” e “delirante”.

“Entre los años de 1980 y 1991, la República de El Salvador, en America Central, estuvo sumida en una guerra que hundió a la sociedad salvadoreña en la violencia, le dejo millares y millares de muertos, y la marcó con formas delincuenciales de espanto. (…) La violencia fue una llamarada que avanzo por los campos de El Salvador; invadió las aldeas; copó los caminos; destruyó carreteras y puentes; arrasó las fuentes de energía y las redes transmisoras; llego a las ciudades; penetro en las familias, en los recintos sagrados y en los centros educativos; golpeo a la justicias y a la administración pública la llenó de victimas; señaló como enemigo a quienquiera que no aparecía en la lista de amigos. (…) Las victimas eran salvadoreños y extranjeros de todas las procedencias y de todas las condiciones sociales.
(…) Bajo la doctrina de la salvación de la patria y el principio de quien no esta conmigo esta contra mi, se pasaba por encima de la neutralidad, la pasividad y la indefensión de periodistas y religiosos, que servían de una u otra manera a la comunidad. (…) La bala expansiva que estalló en el pecho de Monseñor Romero cuando oficiaba la misa el 24 de marzo de 1980 en una iglesia de la capital, es la cruda síntesis de la pesadilla que atravesó El Salvador durante la guerra. Y el asesinato de los seis sacerdotes jesuitas una década mas tarde fue la crisis final de un comportamiento delirante (…).
(…) hasta el 16 de enero de 1992, en que las voluntades reconciliadas firmaron la paz en el Castillo de Chapultepec, en México, e hicieron brillar de nuevo la luz, para pasar de la locura a la esperanza. (…) Esta claro que los negociadores de la paz, querían que esa paz nueva este fundada, levantada, edificada sobre la transparencia de un conocimiento que diga en publico su nombre. Y esta claro, también, que ese conocimiento publico de la verdad – son las palabras textuales del Acuerdo – es reclamado con la mayor urgencia, para que esa verdad no sea instrumento dócil de impunidad sino de justicia (…).
” (do documento De la locura a la esperanza – La guerra de 12 años en El Salvador, Informe de la Comisión de la Verdad 1992-1993 )



Ate hoje, nenhuma investigacao ampla foi levada a cabo no pais pelo Estado; ninguem foi condenado; permanece a impunidade.

Tuesday 19 August 2008

Desde mi ventana en la Avenida Izalco



Em Londres eu algumas, poucas, vezes registrei algumas cenas que se via da minha janela em Albion Road. Esses rapidos e despretensiosos momentos de tipica vida que se veem passar da propria janela constituem uma maneira simples de arquivar memorias.



Mas aqui em El Salvador desde a minha janela, do meu quarto no pequeno hotelito onde tenho vivido, a unica imagem que se pode ver eh a do vulcao de San Salvador, escondido atras de telhados e cabos de fiacao eletrica, coberto pela vegetacao que surge com mais intensidade devido a estacao das chuvas.



Essa eh a unica imagem que posso ver da minha janela na Avenida Izalco. E eh suficiente.

Wednesday 23 July 2008

Poema de Amor (Roque Dalton)

Los que ampliaron el Canal de Panamá
(y fueron clasificados como "silver roll" y no como "golden roll"),

los que repararon la flota del Pacífico en las bases de California,

los que se pudrieron en las cárceles de Guatemala, México, Honduras, Nicaragua por ladrones, por contrabandistas, por estafadores, por hambrientos

los siempre sospechosos de todo( "me permito remitirle al interfecto por esquinero sospecho soy con el agravante de ser salvadoreño"),

las que llenaron los bares y los burdeles de todos los puertos y las capitales de la zona ("La gruta azul", "El Calzoncito", "Happyland"),

los sembradores de maíz en plena selva extranjera,

los reyes de la página roja,

los que nunca sabe nadie de dónde son,

los mejores artesanos del mundo,

los que fueron cosidos a balazos al cruzar la frontera,

los que murieron de paludismoo de las picadas del escorpión o la barba amarillaen el infierno de las bananeras,

los que lloraran borrachos por el himno nacional bajo el ciclón del Pacífico o la nieve del norte,

los arrimados, los mendigos, los marihuaneros,

los guanacos hijos de la gran puta,

los que apenitas pudieron regresar,

los que tuvieron un poco más de suerte,

los eternos indocumentados,

los hacelotodo, los vendelotodo, los comelotodo,

los primeros en sacar el cuchillo,

los tristes más tristes del mundo,

mis compatriotas,

mis hermanos.


Uma "explicacao" sobre um dos mais famosos poemas deste que eh um dos mais famosos poetas salvadorenhos pode ser encontrada aqui.

Saturday 19 July 2008

"Los tristes mas tristes del mundo"



Pode parecer ridiculo o fato de que em apenas pouco mais de dois meses este blog ja tera sua atual natureza, recem atualizada, defasada.


A ordem virtual nao seguiu a logica real no que toca minhas experiencias de redacao pessoal na rede. Vivendo em El Salvador desde fevereiro deste ano, deixando-o em outubro e apenas agora mudando o perfil deste sitio para logo mudar-lo outra vez. De fato, do ponto de vista do objetivo inicial deste exercicio "blogspherico", o sentido foi mantido coerentemente, pois em primeira instancia a questao era a pratica da redacao em ingles a partir da vivencia from inside em um pais de lingua inglesa. No entanto, a brincadeira tambem serve para registrar impressoes dessa oportunidade de conhecer o que as decisoes peregrinatorias da vida proporcionam. E dado que outras rotas foram e seguem sendo tomadas, vale portanto, embora nao seja original, remarcar lugares onde a estada foi longa o suficiente (como diz um amigo) para comprar uma escova de dente nova.


O primeiro aponte desse contexto eh simbolico. A producao de um dos meus alunos no ITCA (Instituto Tecnologico CentroAmericano) que, aleatoria e inesperadamente, um dia me entregou no final da aula o texto abaixo pedindo que eu lhe desse minha opiniao no seguinte encontro. Vindo de alguem que ainda nao completou vinte e que esta metido numa carreira tecnica num pais onde a literatura eh uma questao de tamanha peculiaridade, digamos assim, (como descreve um pouco Ju Vitorino num texto aqui) era demandante iniciar por ele. A assinatura eh um pseudonimo.


La revancha del mundo


Cada vez que amanece veo que todo pinta del mismo color, gris el camino y oscuro el cielo, todo mi mundo rodeado de una espesa neblina, cada rincon sobre la tierra sin ningun sabor, amargo el panorama que envuelve cada dia, no anochece porque no es necesario, el sol ha muerto de tristeza, paralizado esta la rotacion de los mundos, una estrella gigante estalla sacrificandose para dar un poco de luz, inutil su hazana ya que su resplendor dura por pocos instantes, el espacio en silencio mortal, su sangre es un meteoro que choca volviendose pedazos de polvo espacial, la conexion de los planetas en sentido aleatorio, el revuelvo de un pensar que no cambiara, la vida injusta que se rosa con las manchas del pecado, un castigo que se paga en general dondo no hay culpable absoluto, es una cadena que se debe llevar por la eternidad, por todo el mal que se ha hecho, por toda la destruccion, como pudimos pervertir esto que se nos fue dado para cuidar, que miserables viviremos y todo por el egoismo y la ambicion de creernos duenos de un universo que nada mas se nos presto por unos momentos, que haremos si la muerte nos persigue, como pedir ayuda a un mundo al que hemos destruido por completo, el mismo nos dara la espalda, oscuro volvimos este lugar que nos vio nacer, que nos brindo su calido entorno, en pedazos se ven caer partes del cielo, muertos y sin aquel color con que el fue creado, un sol que aparece y resucita para cobrar venganza, un eclipse como golpe final que nos entumira la mirada fria que tendremos ese dias, mil anos despues las estrellas volveran a nacer y un nuevo y resplandezco sol volvera a salir pero del cual no disfrutaremos ni el mas minimo de su resplendor, los dias tendran color y vida eterna.

(Bohemy Nakaru)

Monday 7 July 2008

Liberdade e Avendano. Spread the word!!




Embora fora de contexto das tematicas deste blog, esta novidade eh preciso registrar. Acabo de conhecer, atraves da blogsphere, o blog da produtora de cinema independente de Pelotas, Moviola. Entre varios projetos bons que tenho certeza estao sendo desenvolvidos, ha o anuncio na pipeline de um documentario sobre o bar Liberdade e sobre o mestre Avendano e seu grupo regional (na foto acima apareco "todo-bobo" ao lado do professor, e meia cabeca da Duca). O tema em si ja faz com que a iniciativa mereca os melhores elogios! Nostalgia e orgulho a flor da pele.
Um pouquinho do trabalho que a Moviola esta preparando sobre Avendano pode ser visto
aqui.

Saturday 5 July 2008

Sobre Tutankhamun e Spice Girls

Elas estavam juntas. A mumia mais famosa e as britanicas mais irritantes do mundo. Juntas, esclareca-se, por metonimia. Estavam compartindo o mesmo espaco de exposicao. Em janeiro deste ano, a Millenium Dome, tambem conhecida como O2 Arena, sediava paralelamente a exibicao com as riquezas da tumba do farao Tuthankhamun e o show revival do grupo pop Spice Girls. Particularmente, um revival mais interessante e menos aborrecedor seria o das mumias. Imagino que estas saberiam dar-se o respeito e nao arruinariam nossa pacienca com nenhuma estupida cancao da epoca do apogeu nem do Egito nem da boys’-girls’ band...


Visitei a exibicao sobre Tuthankhamun na mesma noite em que as “garotas apimentadas” realizavam seu grande retorno. Foi nessa curiosa coincidencia, apos mais de dois anos vivendo em Londres, que tive a oportunidade de ver a maior concentracao de ingleses que jamais tinha visto. Eles, principalmente elas, chegavam em centenas, aos bandos, a maioria adolescentes, vestidos e falando e agindo como “chavs”, alguns com roupas com motivos da bandeira da Gra-Bretanha, e passavam reto e rapido em direcao a entrada da arena de espetaculos sem nem olhar para o pavilhao do pobre farao.


Muitos ingleses ainda gostam de Spice Girls. Tambem muitos, felizmente, odeiam. Este post trata de encerrar a fase “londoner” deste blog. Ja tenho quatro meses de estar fora da Inglaterra, vivendo na America Central, mas devido a extrema intensidade do ritmo que estabeleci aqui para a execucao de projetos pessoais, as historias salvadorenhas encheram blocos de anotacoes e folhas soltas enquanto eu registrava na blogsphere (com assumida defasagem) algumas ultimas lembrancas e informacoes importantes sobre a Inglaterra.


Assim, a coisa aqui trata de tentar apontar algumas generalizacoes sobre os ingleses, num exercicio de analise e sintese, como parte do processo de aprendizagem e valorizacao da experiencia vivida atraves da distancia fisica e temporal que muitas vezes nos permite refletir com menos parcialidade e mais exatidao. Ou nao...Alem das Spice Girls, os britanicos compartem gostos e desgostos referentes a elementos do cotidiano que, embora filtrados pela permanente obsessao das divisoes sociais, podem ser bastante peculiares. Eis alguns exemplos:

  • Britanicos adoram listas. Especialmente as de “1000 coisas (a ver, escutar, ler, fazer, ir, etc) antes que voce morra”. Alias o tema morte tem uma representacao curiosa na “britanicidade” porque eles tambem tem um interesse digno de nota (pela existencia de um mercado e publicidade) por diferentes maneiras de preparar seu funeral, enterro, ritos de morte, etc – justificado, claro, por nao deixar nenhum parente em apertos financeiros ao morrer sem aviso previo e sem plano de pagamento.
  • Os britanicos tambem adoram Marks & Spencer e o HMV. Sao lojas de departamento inglesas que, sempre com as distincoes sociais presentes na analise, sao bastante frequentadas pela sempre polemica e mal-definida classe media. Ha tambem a popular (mas nao estou certo se esta eh originalmente inglesa) Primark. Nesse aspecto, do habito de consumo, poderiamos fazer varias relacoes, mas vamos nos deter em grosseiramente comparar HMV e Marks & Spencer com a Renner e a C&A e a Primark com a Pompeia, talvez (para leitores pelotenses que sabem o que eh a Pompeia).
  • E sim, o estereotipo, no aspecto alcool, reflete consideralvemente a realidade. O jornal The London Paper, popular tabloide que possui grande fatia do mercado dos free paper da cidade, publicou uma nota em outubro do ano passado sobre uma pesquisa intitulada Health Profile of England. Os dados mostram que 18% da populacao masculina e 8% da populacao feminina do Reino Unido sao considerados bebedores excessivos, onde o consumo medio de alcool de um adulto equivale a 37 garrafas de whisky por ano. Os ingleses nao se orgulham disso, mas a estranha cerveja Ale continua sendo uma especie de orgulho nacional, cujo habito de consumo segue sendo cultivado, pelo menos entre os mais velhos, em qualquer local pub.
  • O tema bebida segue sendo associado com cigarro. E pensar nessa equacao atualmente na Inglaterra deixa de ser obvio. O pais, em julho do ano passado, adotou a politica de smoke-free, ou seja, eh proibido e ilegal fumar em qualquer espaco fechado do territorio nacional incluindo pubs, restaurantes, locais de trabalho, bares e discos. Tema de alta polemica em toda a Inglaterra, em Londres as opinioes divergiam e eram debatidas com paixao entre grupos de amigos. Com a introducao da lei, era engracadissimo ( para nos nao-fumantes) ver grupos de pessoas na porta da frente dos pubs, encolhidos de frio, acendendo seus miseraveis cigarros proibidos indoor. Nos night clubs, as cenas eram ainda mais bizarras. Areas outdoor foram adaptadas em varios clubes para prover alternativas aos viciados que chegavam a ficar mais de uma hora em longas filas esperando sua vez de alcancar o patio e dar dois ou tres tragadas. No aniversario de um ano da lei, o tema segue sendo controverso, mas ja melhor assimilado por uma cultura abertamente fa do cigarro e do alcool.
  • Em conversas casuais com nativos, nao era raro o tema da imagem internacional do britanico surgir. Muitas vezes eles reconhecem a fama de secos, pretensiosos, falsos e sarcasticos que lhes vale o estereotipo. Os britanicos, verdade seja dita, tem suas fronteiras de relacao com o outro demarcadas em limites bem menos extensos que os latinos, por exemplo (exceto quando estao bebados). Nao saem dando tapinhas nas costas na primeira conversa e quizas nem depois de muitas. Prezam por discricao e respeitam muito a privacidade do outro e a sua. Eh rarissimo gente que te encare, que te olhe fixamente, de maneira pejorada ou nao, em espacos publicos por mais estranho que voce possa estar agindo ou vestido, por exemplo – coisa que na America Latina, ao contrario, eh bastante comum. Esses limites tacitos pessoais lhes valem a fama de frios e falsos e alimentam seu sarcasmo. Britanicos usam indiscriminadamente - levando a banalizacao - palavras como sorry, lovely, please. Esse eh um comportamento que se poderia dizer tipico, quase folclorizado, manifestado muitas vezes no cinema, onde os americanos aproveitam para tirar uma onda dessa "britanicidade". Eles, de fato, sao otimos em sarcasmo e numa relacao simbiotica, onde eh dificil definir se quem veio primeiro foi o ovo ou a galinha, desenvolvem a falsidade. E quando esse sarcasmo nao eh muito sofisiticado, eh irritante ver a artificialidade de certos comportamentos que passam a, de certa forma, defini-los.
  • Nisso ha muito – quero acreditar – da relacao com as migracoes, com as invasoes cometidas pela Gra-Bretanha, com o papel do pais com suas antigas colonias, o abrir ou o fechar de fronteiras e as politicas compensatorias para populacao de paises antes dominados, minorias etnicas que passaram a consitituir o povo britanico – fisica e culturalmente – para muito alem de certos tracos fisicos: India, Bangladesh, Paquistao, Jamaica, Irlanda, Turquia, Egito, Escocia, o povo Judeu e varios mais. Debater formacao cultural em um lugar como a Gra-Bretanha inclui elementos que sao dificieis, em termos medios, para uma mente latina acompanhar. Um exemplo: como apontou o articulista do jornal The Guardian, Timothy Garton Ash (escrevendo de Porto Alegre) em coluna publicada em cinco de julho do ano passado, “falar sobre o crescimento domestico do Jihad na Europa significa tanto quanto eu imagino que significaria dar uma palestra academica em Brixton (bairro londrino de ampla conformacao negra) sobre os povos Yanomami do Brasil e da Venezuela”. O orgulho do cosmopolitismo de Londres e da multiculturalidade de todo o Reino Unido se mistura com o entender-se, desde o berco, como nativo de um lugar que tambem eh dos outros, mesmo quando esses nao falam ingles direito, ou falam com um acento estranho, porque deve-se respeitar as diferentes etnias, as diferentes migracoes, as diferentes culturas. Um dilema que muitos paises vivem, mas que no Reino Unido eh marcado pela historia imperialista do pais e gera uma complexa equacao de identidade.
  • Em Londres, uma caracteristica singular soma-se a “britanicidade”. Uma pesquisa da empresa Combined Insurance, publicada em maio do ano passado, afirma que os londrinos consideram eles proprios as pessoas menos sociaveis e mais mau-humoradas de todo o Reino Unido. Cerca de 44% dos residentes em Londres se definem como nao prestativos. Os estressantes deslocamentos diarios ao trabalho (commute), o altissimo custo de vida, o ritmo enlouquecedor e superlotacao da capital inglesa sao os elementos considerados responsaveis pelo titulo de mais ranzinzas da Inglaterra.
  • Numa secao tipo “carta do leitor” de sete de dezembro do ano passado tambem do The London Paper, a colunista Lucy Calderwood expressava com bom-humor justamente como esse frenetico ritmo de Londres acaba configurando o perfil dos residentes. Os ingleses que nao sao de Londres geralmente tendem a pensar que a capital eh uma especie de diabolica, perigosa e irritante cidade. Para o visitante, especialmente o ingles nao-londrino, a capital eh muito estricta com com as suas proprias exigentes e tacitas regras sociais. De fato ela eh. Mas os turistas, ingleses ou nao, em geral nao da a minima para essas “leis”. Quem acaba por se irritar sao mesmo os moradores de Londres que precisam enfrentar hordas de turistas que nao sabem que precisam ficar do lado direito da escada rolante em lojas e, principalmente, metros para que os que nao querem esperar a escadinha chegar ate seu destino possam passar pela tangente. Parar no final da escada para decidir para que lado seguir tambem eh fatal, pois acabar gerando um efeito domino na eterna fila de gente que vem logo atras. O ritmo do andar nas ruas eh outro ponto fundamental, pois os londrinos nao ficam exatamente contentes, para dizer o minimo, com aqueles que nao mantem o fluxo peatonal.
  • Falando em metro, vale a pena tambem comentar sobre o Tube, ah, o Tube! Este eh outro dos parodoxos mixtos de orgulho e asco britanico. O metro de Londres, cuja primeira linha entre Paddington e Farringdon inaugurou-se em 10 de julho de 1863, foi o primeiro transporte ferreo subterraneo do mundo e hoje eh muitas vezes considerado um pesadelo para os londrinos. A queixa generalizada reside principalmente num ponto: superlotacao. Os metros de Londres sao muito, exageradamente, cheios. Novamente, nao tanto para os turistas que raramente tomam os trens nas horas de rush. Mas para os commuters (que de uma forma ou outra inclui todos os que trabalham em Londres) tomar o metro – ou o tranporte publico em geral, pois onibus e DLR nao ficam para tras – eh uma batalha diaria. Com seus passageiros abarrotados, empilhados e esprimidos, os trens correm quase a cada minuto, literalmente, nos horarios de pico e mesmo assim nao dao conta de desafogar o fluxo. E qundo alguma linha nao funciona, ou apresenta delay (o que nao eh raro) por conta de um defeito tecnico ou de um suicida que pulou nos trihos, dai sim voce pode vivenciar um pouco do inferno na terra. Para fazer justica eh importante mencionar que essa experiencia nao eh um “privilegio” dos londrinos de hoje. Por ocasiao da reabertura do Museu do Transporte de Londres, em novembro do ano passado, a imprensa da capital publicou algumas fotos que mostram, ja em 1922, as estacoes entupidas de gente que da uma sensacao de que o problema das multidoes eh realmente uma caracteristica da cidade. Ainda assim, apenas para piorar o humor dos londrinos, nos vagoes do Tube (apelido do metro) eh constante a presenca de gente que trata o trem como uma extensao da sua cozinha e durante a viagem come os mais mau-cheirosos lanches e pratos. Kebabs, burgers, sopas e massas pre-prontas, caixas de restaurante fast-food de galinha frita... O abuso eh tanto que existe ate campanha para desincentivar o consumo de comida no metro. Ressalve-se que, ainda hoje, os metros nao tem ar-condicionado e as estacoes nao tem banheiros. E, evidentemente, sempre mind the gap!
  • A questao verde eh outro ponto bastante caro para os britanicos. A coleta seletiva de lixo eh bastante eficiente em varios boroughs e, embora nao seja obrigatorio por lei em todos, as prefeituras locais incentivam e desenvolvem varias politicas para seus moradores assimilarem a ideia de “go green” que incluem desde descontos no council tax (uma especie de IPTU), ate eventos especificos em parcerias com escolas, distribuicao gratuita de recepientes para reciclagem, folhetos informativos com os programas especificos e linhas telefonicas para informacao. O debate eh tao presente na Inglaterra que mesmo o controverso Congestion Charge, imposto de oito libras diario e permanentemente cobrado para qualquer veiculo circular na area central da cidade para prevenir congestionamentos, foi associado a uma nova taxa chamada Low Emission Zone. Este tambem sao impostos para a circulacao diaria, mas que afetam apenas veiculos pesados como onibus, minibus, vans, caminhoes. Se esses veiculos nao atendem os padroes europeus para baixa emissao de gases, ou seja, nao estao adaptados ou modificados para poluir menos, terao que pagar taxas que estao entre 100 e 200 libras para um unico dia de circulacao na capital inglesa. Como toda a congestion charge zone esta incluinda na low emission zone, os proprietarios dos tipos de veiculos afetados devem pagar os dois impostos. Um ultimo ponto nesse aspecto das green policies do Reino Unido, ainda sobre reciclagem, eh que muitos ingleses quando comparam as politicas do seu pais com os da Alemanha ou da Suica acham que a Inglaterra eh imunda – e muitos europeus de outras partes pensam o mesmo. As sacolas plasticas distribuidas gratuitamente nos supermercados estao na mira dessas politicas e devem em breve sair de circulacao.
  • Terrorismo e paranoia sao topicos ja abordados em outros posts nesse blog, incluindo a surpreendente historia de Jean Charles de Menezes que nao poderia ter tido outro destino alem de virar filme. Migracao eh um assunto diretamente relacionado com esse recente e latente dilema no Reino Unido e motivou no ano passado o polemico plano para a criacao de um teste de cidadania para os imigrantes que desejam obter o passaporte vermelho-escuro. O articulista do The Guardian Jonathan Freedland, em artigo de seis de junho do ano passado, opinava que a ideia “viola dois aspectos da britanicidade cuja existencia nos (os britanicos) podemos provavelmente todos concordar: nossa vaguedade sobre identidade nacional e nossa aversao sobre o patriotismo-de-bater-no-peito”. O Reino Unido, em realidade, nao esconde sua preocupacao com o boom migratorio que vive nos ultimos cinco anos, especialmente dos paises do Leste Europeu que recentemente ingressaram na Uniao Europeia. Poloneses e Hungaros sao os mais notorios, mas ha tambem um grande fluxo de latinoamericanos. A preocupacao do governo – alem da obvia questao economica que deriva da insatisfacao dos britanicos com o fato de que os estrangeiros utilizem o servico social ingles, o sistema de saude publico e outras estruturas pagas pelos taxpayers nativos – eh com a possiblidade de tensoes raciais. Essa alarmada tensao ocorreria pela falta de entendimento cultural em aspectos minimos do cotidiano. Assim, o governo teve a brilhante ideia de preparar em junho do ano passado “pacotes culturais” (cultural briefing packs) distribuidos aos imigrantes recem-chegados com dicas de como eles devem “portar-se” no Reino Unido. Os pontos mais interessantes, por assim dizer, sao as recomendacoes de: nao cuspir nas ruas, apertar a mao de alguem que voce conhece pela primeira vez, pedir desculpas se voce trombar por acidente com alguem na rua, nao encarar as pessoas em publico, e fazer filas em locais como paradas de onibus e agencias de correio.
  • Outras obssessoes britanicas como o clima, as celebridades e, especialmente, o NHS (National Healh System, o SUS ingles) tambem ja foram comentadas em posts anteriores. Por haver trabalhado num escritorio administrativo do NHS foi possivel perceber o quao presente, de fato, a gratuidade e o acesso ao sistema esta no cotidiano dos britanicos. E da experiencia em escritorios ingleses, incluindo a Broadcast Date System e a One World Action, conheci o peculiar habito das rodadas de cha embora nunca tenha participado do processo. Ocorreu que duas ou tres vezes ofereceram-se para fazer cup of tea pra mim, o que aceitei mas como “a mug of coffe”, em lugar de cha, entretanto, nao tinha paciencia para esse costume que eles adoram, isto eh, de me oferecer para preperar para todos os outros. Numa ilha de quatro computadores, por exemplo, cada um dos membros, pelo menos uma vez durante a jornada de trabalho, se levanta e pergunta se seus companheiros querem um cha. Em geral, todos dizem sim, entao o gentil colega vai a cozinha e volta com quatro ou cinco xicaras. Assim, esse processo soma no minimo quatro xicaras de cha por dia consumidas por cada ingles, fora as que eles preparam individualmente para si mesmos.

Conheci um pouco da cultura inglesa que, como ja disse uma vez e repito, nao se reproduz exatamente na cultura de Londres. A capital tem suas proprias peculiaridades e ritmos marcados pelo cliche da multiculturalidade e essa, mais do que conhecer, aprendi a gostar. Conheco hoje, honesta e praticamente falando, mais Londres do que Porto Alegre (mas nao mais do que Pelotas. Nao mesmo...). No periodo vivido lah, estranhei, desgostei e reclamei da cidade que, ao final, aprendi a gostar. Amo Londres, como lugar, como lembranca, como experiencia, como aprendizado, como oportunidade, como batalha e como criacao de sinceras e fortes amizades.

Monday 9 June 2008

Girls Power


I was the Jean Charles de Menezes Whistleblower







No dia 7 de julho de 2005 eu estava na casa de uma incrivel e muito querida amiga em Canasvieras, Florianopolis, num breve periodo de ferias ( e de fato a ultima vez que fui a Floripa desde entao) que me permitia algum tempo para despedidas e preparativos antes da minha partida do Brasil, em setembro daquele mesmo ano.

"P*** q'pariu!" Foi minha reacao ao ligar a TV naquela manha e assistir impactado os noticiarios que mostravam incessantemente os headlines dos ataques terroristas em Londres. Onibus e linhas de metro aos pedacos, quase 60 mortos, muitos feridos e, deste lado do Atlantico, uma passagem para a capital inglesa ja comprada me esperando na minha gaveta.

Muita gente lembra o que fazia na emblematica manha do dia 11 de setembro de 2001, mas talvez poucos tenham arquivado com a mesma relevancia as memorias dos ataques a Londres. Eu, por razoes obvias, tenho muito clara a lembranca daquele dia cuja consternacao durou ate a hora do almoco, quando minha amiga e eu saimos a buscar um restaurante de buffet a quilo. Acho que foi nesse mesmo dia que arrebentei o carro do marido da minha tia num onibus de linha de Canasvieras, mas essa eh uma outra historia.

A paranoia terrorista chegava ate Londres, entretanto meu entendimento sobre o terror, a guerra contra o terror, as reacoes da populcao e a atmosfera que se gera na cidade atacada nao eram muito diferentes das que os ingleses tem, por exemplo, das lutas indigenas por demarcacao de terra no Brasil. Realidades muito distantes, dificil empatizar, compreender.

Num periodo de tamanho significado e mudancas na Inglaterra, nada menos que o proprio Brasil se mistura a sua historia. Menos de 20 dias depois, a ate entao refinadissima e altamente confiavel Metropolitan Police, assassina o mineiro Jean Charles de Menezes com 7 tiros na cabeca, dentro de um vagao de metro em Londres, configurando o mais grotesco e vergonhoso erro (porque ate que se prove um contrario a estupidez foi mesmo apenas um erro) da policia britanica.

A policia, como todos sabem, tenta enganar o pais e o mundo. Ja havia sido um erro executar sumariamente um cidadao inocente, porem era um erro supostamente justificado porque o inocente havia se comportado como culpado e isso, em tempos de paranoia, eh inadmissivel. Pouco tempo depois toda a farsa da policia vem a tona gracas a uma secretaria do IPCC, Lana Vandenberghe, que possuia documentos da propria policia com a versao real do que havia ocorrido.

O resto da historia todos sabem. Julgamentos, descredito da outrora tida como uma das melhores policias do mundo, acalorados debates internacionais, protestos, luta da familia, ninguem individualmente condenado.

A historia virou filme, rodado por diretor brasileiro radicado em Londres, e que eu acabei entrevistando quando trabalhei para a JungleDrums cujo texto (aqui) foi publicado tambem pela Caros Amigos.

Contudo, o papel principal nesse enredo quem desempenhou foi a secretaria. Gracas a ela a historia, ainda que nao possa ser remediada, foi verdadeiramente conhecida.

O The Guardian publicou a versao da propria Lana na sua revista semanal do dia 22 de julho de 2006, que pode ser lida abaixo. Dentro de um mes, o assassinato de Jean Charles, um brasileiro em Londres, faz tres anos. E sua historia segue viva. Gracas a Lana.


* Na minha primeira semana em Londres, quando a paranoia terrorista ainda era bastante presente na cidade, principalmente no transporte publico, sofri um stop searching da policia na estacao de WhiteChapell, pois eu encaixava no perfil suspeito: jovem, tracos fisicos (quizas a barba a-la-arabe?!!) e carregando mochila. Mas ao dizer para o guardinha que eu era brasileiro, e do Rio Grande do Sul, ele perguntou se eu torcia para o Gremio. E da-lhe Ronaldinho!


--------------------------------------------

I grew up in Alberta, Canada. My grandmother was a strong woman who always spoke her mind, but I was encouraged by my parents to keep quiet about things. In fact, they were so wary about bringing things out into the open that the first I knew of their marriage being in trouble was when my mother moved out of the family home to live with another man.

At 18, I gave birth to my daughter, Jacqueline. I wanted her to feel she could say anything she wanted to me. I believed strongly, and still do, that people should be able to say what’s on their mind. I had no idea that, years later, this conviction would result in me hitting the headlines, put me at risk of going to jail and cause huge embarrassment to the Metropolitan Police.



When my daughter grew up, I moved to the UK to work. I’d taken a job as a secretary at the Independent Police Complaints Commission and had been there for more than a year when, on july 22 last year, Brazilian electrician Jean Charles de Menezes was shot in the head seven times by police at Stockwell tube station after he was mistaken for a suicide bomber. When I heard the news, two thoughts went through my mind. First, that if this guy was a terrorist it was a shame he had been killed, but it had been warranted. Second, that the IPCC would be conducting an investigation into the shooting.



The IPCC was a passed police documents relating to the shooting a few days later. I thought that Jean Charles de Menezes’ suspicious behaviour was the reason he was shot. Then we were given a bomb-shell briefing at work. We were told he hadn’t vaulted over a ticket barrier and run down an escalator to escape firearms officers, and that he hadn’t been wearing a bulky coat that would have concealed explosives. In fact, he had strolled into Stockwell tube wearing a denim jacket, picked up a free newspaper, then made his way down the escalator to catch his train.



The room went quiet. I thought it was terrible the police, who we were supposed to trust and who we paid to protect us, couldn’t tell the truth.



I saw where Jean Charles was shot. I saw the conditions of the seats, I saw the blood, and from what I have seen I can speculate about what happened to him. Whenever I sit on a Victoria Line tube, that’s what I think about. It will never leave me. The police should have come out at the beginning and said they had made a mistake.



That evening, I told a friend what had happened. “Oh my God, this is a big story”, she said. I brooded over the information I had. My friend told her boyfriend, who worked as a producer at ITN, and two weeks later I handed over the documents. I felt very strongly that this was such a big lie it warranted telling the truth. I thought the information would cause a few ripples in the media. It turned out to be more of a tidal wave, undermining the position of Sir Ian Blair, the UK’s top police officer, and eroding public confidence in the police.


When the story broke I was questioned by my bosses and, although I said nothing, suspended. I then resigned from my job. On September 24 last year, police raided my flat and arrested me. When I was taken to the police station for questioning, I was treated very harshly.



I was released on bail and dreaded at any moment being charged. I took on a series of temping jobs and it was through work I stayed sane over the next few months. But when I wasn’t at work, I went from being sociable to being recluse. I was afraid to go out in case I was followed by police and no longer knew who to trust.



When I was finally told in May that no charges would be levelled against me, I felt an incredible sense of relief. But I was still plagued with negative memories about my decision to speak out. From the day I decided to leak the documents, I had wanted to meet the De Menezes family to convey my condolences and talk to them about my decision. Finally, a couple of weeks ago, I did meet three members of the family. It was very emotional meeting with hugs and tears on all sides. When his cousin Patricia told me how important it was to the family that I had helped them to discover the truth, I felt so much better.



It’s extraordinary that this man whom I never met has had such an impact of my life. I spoke out for him and for his family, to make sure the truth wasn’t covered up I don’t see myself as brave for doing that. I know if my grandmother were still alive, she’d be proud of me for what I did.

Friday 16 May 2008

Pedalando Pelado pelo Mundo






Mais de 50 cidades ao redor do mundo estao na contagem regressiva para mais uma edicao anual do World Naked Bike Ride, cuja traducao oficial para para o portugues soa um tanto estranho com “Pedalando Pelado pelo Mundo”. Trata-se de um dos mais criativos e exitosos protestos utilizando a nudez, convertido num movimento social em rede em diversos pontos do planeta, e que a cada ano bate novos recordes de participacao. A pagina oficial do evento com informacoes detalhadas sobre a historia do evento e as razoes da radicalizacao da iniciativa voce encontra aqui.
O evento pode ser resumido como um protesto a favor de Direitos Reais para Ciclistas e contra a dependencia mundial de combustiveis. uma manifestacao da importancia de estimular o uso de bicicletas como meio de transporte e da falta de estrutura das cidades para a pratica do ciclismo colocando em evidencia a vulnerabilidade dos ciclistas nas ruas atraves da metafora da nudez. Porem nao eh obrigatorio ir pelado! Os participantes sao encorajados a ir “as bare as you dare”, cuja traducao nao rima em portugues, mas seria algo como “tao nu quanto voce se atreve”.
Tambem pedalei
Participei do protesto no ano passado em Londres. Foram mais de 1000 ciclistas pelados num passeio de quase dez quilometros pelas principais e mais movimentadas ruas da capital britanica. Na primeira edicao londrina do evento, em 2004, apenas 60 pessoas participaram. Em 2007 uma massa de pelados, num sabado ensolarado e agradavel, seguiu a rota saindo do Hyde Park em direcao a Piccadilly Circus, passando por Convent Garden, Parliament Square (onde esta o Big Ben), Waterloo Bridge, Oxford Street e Park Lane. Apenas as mais turisiticas e conhecidas areas de Londres! As pessoas se amontoavam para ver a horda de pelados de todas as idades, sexos, tamanhos e estilos em suas bicicletas e aplaudiam e se matavam de rir da inusitada cena. Os onibus de sightseeing dos turistas eram os mais engracados pois as reacoes, caras e bocas divertiam os participantes do protesto tambem. Ninguem foi preso. O protesto tem o direito a livre expressao e recebe apoio estrutural da prefeitura de Londres.

Pelados, mas serios
A campanha tem suas demandas especificas: zonas de circulacao apenas para ciclistas nas cidades, ruas mais seguras para o transito de bicicletas, faixas de ciclistas de duas maos com muro de separacao entre a via para veiculos motorizados e extincao de propagandas de carros.
Foi uma dos mais animadas, impactantes e divertidas manifestacoes que ja participei e definitivamente estarei junto a massa de pelados novamente quando estiver na epoca devida numa das cidades onde o evento ocorra.
O passeio eh divertido, mas eh parte de uma seria discussao. Eh necessario que cada um de nos mude a maneira que pensamos sobre transporte e comecemos a exigir o mesmo do governo. Eh preciso assumir a toma de responsabilidade, subir em nossas bicicletas e exigir uma real e pratica acao na luta contra a mudanca climatica.
Para saber mais detalhes sobre o evento em Londres, que ocorre em menos de um mes no dia 14 de junho e eh o que tem hoje o maior numero de participantes, acesse o site do World Naked Bike Ride UK.
No Brasil ainda nao ha um movimento forte, apesar de Sao Paulo ter tomado parte em edicoes anteriores, mas com um numero bem limitado (se nao me engano, houve um ano em que apenas um casal saiu pelado pelas ruas paulistas). Encontrei uma pagina de um grupo de discussao on-line, mas infelizmente parece que nao esta funcionando.Fica a sugestao para a mesma iniciativa pelos pampas gauchos

-------------------------------------------------------------------------------


Riding under the slogan “real rights for bikes”, participants cycle naked to highlight their vulnerability on city streets and draw attention to the destructive effects of car culture. The ride is a body-positive event where nudity is optional – riders are encouraged to go “as bare as you dare”.

. Last year’s event in London was the largest naked protest in British history, with over 1000 people riding through the streets of the capital for two hours. Ride routes offer participants an enjoyable “naked sightseeing experience”, and go past a number of city centre landmarks. Cycle-mounted police facilitate the ride and provide traffic control.


The campaign is part of a growing international awareness of the destructive effects of climate change and unsustainable oil dependency. For many people, these issues are prompting a choice of greener lifestyles and reconsideration of how our actions impact the planet. The London Naked Bike Ride is making specific demands: cycle-only zones in cities, real rights for cyclists, safer streets, separate two-way cycle lanes and a ban on car advertising.

Those wishing to participate can find more details at official website of the event.

Sunday 11 May 2008

Maio de 68 quarenta anos depois


"The sound engineer in the hall (in an US lecture tour), a Mexican-American, whispered proudly in my ear that his son, a 25-year-old marine, had just returned from a tour of duty in the besieged Iraqi city of Fallujah, the scene of horrific massacres by US soldiers, and may show up at the meeting. He didn’t, but joined us later with a couple of civilian friends. He could see the room was packed with antiwar, anti-Bush activists.
The young, crewcut marine, G, recounted tales of duty and valour. I asked why he had joined the marine corps. “There was no choice for people like me. If I’d stayed here, I’d have been killed on the streets or ended up in the penitentiary serving life. The marine corps saved my life. They trained me, looked after me and changed me completely. If I die in Iraq, at least it would be the enemy that killed me. In Fallujah, all I could think of was how to make sure that the men under my command were kept safe. That’s all. Most of the kids demonstrating for peace have no problems here. They go to college, they demonstrate and soon they forget it all as they move into well-paid jobs. It’s not so easy for people like me. I think there should be a draft. Why should poor kids be the only ones out there? Out of all the marines I work with, perhaps four or five percent are gung-ho flag-wavers. The rest of us are doing a job, we do it well and hop we get out without being KIA (killed in action) or wounded”.



----------------------------------------------------------


"El ingeniero de sonido de la sala, un mexicano-americano, me susurró al oído, orgulloso, que su hijo, un marine de 25 de años, acababa de regresar de su servicio como soldado en la ciudad sitiada de Fallujah en Irak, escenario de horribles masacres de soldados estadounidenses, y que aparecería en el mítin. No lo hizo, pero apareció después con un par de amigos, ambos civiles. Pudo ver como la sala estaba llena de activistas antiguerra y antibush.
El joven marine de pelo rapado, G, narró historias de entrega y coraje. Le pregunté por qué se había unido al cuerpo de marines. "Para la gente como yo no hay otra elección. Si me hubiera quedado aquí, me hubieran matado en las calles o hubiera terminado en la cárcel cumpliendo condena de por vida. El cuerpo de marines salvó mi vida. Me entrenaron, se preocuparon por mí y me cambiaron completamente. Si hubiera muerto en Irak, al menos sería el enemigo quien me hubiera matado. En Fallujah todo en lo que podía pensar era en cómo mantener a los hombres bajo mi mando a salvo. Eso era todo. Muchos de los chavales que se manifiestan por la paz aquí no tienen problemas. Van a la universidad, se manifiestan y pronto se olvidan de todo en cuanto consiguen un trabajo bien pagado. Para la gente como yo no es tan fácil. Creo que debería existir una leva. ¿Por qué sólo los jóvenes pobres tienen que estar allí? De todos los marines con los que he trabajado, quizá sólo un cuatro o cinco por ciento eran verdaderos fanáticos amantes de la bandera. El resto de nosotros está haciendo un trabajo, lo está haciendo bien y esperando volver sin ser KIA [killed in action, asesinado en combate] o herido."



______________________________________________________________________


Pra onde foi toda a raiva?

A guerra contra o Iraque eh uma estupidez. Ninguem com um minimo de bom senso ha de pensar diferente. Mas eh uma estupidez sobretudo do governo Bush, que com a insistencia no erro, segue atentando contra, inclusive, o seu proprio povo.
Tariq Ali, o renomado historiador, ativista e escritor paquistanes-britanico, radicado em Londres, escreveu para a revista semanal do bom jornal ingles The Guardian, do dia 22 de marco, um artigo intitulado “Where has all the rage gone?” (Pra onde foi toda a raiva?) analisando o legado de maio de 1968. Ali foi um dos intelectuais do "Grupo dos 19" que assinou o manifesto de Porto Alegre no Forum Social Mundial de 2005 e um dos organizadores dos protestos na Inglaterra contra a guerra do Vietna durante a onda de manifestacoes e revoltas no "ano que mudou o mundo”.

O pequeno relato em italico (ingles e espanhol) acima eh um trecho do artigo de Ali. Foi a resposta que ele obteve de um soldado americano sobre as razoes para haver decidido tomar parte na guerra. “A historia raramente se repete, mas seu eco nunca desaparece. Iraque quer dizer Vietnam em arabe”.


Friday 9 May 2008

A little reminder



Como se sabe, o Reino Unido permanece como um dos grande aliados incondicionais dos Estados Unidos apesar da descarada e comprovada farsa que conformaram as supostas razoes para a invasao do Iraque em 2003.
É dessa triste submissao britanica que se justifica o pequeno lembrete, em forma de banner, sobre os custos da guerra. Sao inacreditaveis 720 milhoes de dólares por dia desperdiçados para humilhar, desprezar e fazer sofrer o povo iraquiano já farto de dor.
Como afirma Georges Bourdoukan no seu blog, os números nao comovem, mas tomo parte no registro, como em varios outros blogs do mundo, para ajudar a humanidade a nunca esquecer essa vergonha promovida pela arrogancia e irresponsabilidade americana.
Os dados sao do Tribunal de Bruxelas.

Monday 14 April 2008

Archaeological paths to the afterlife







(*By Evanthia Tselika)


This text was originally written in English but first published in Portuguese at the Brazilian newspaper Diario Popular (www.diariopopular.com.br) Sunday issue, 13/04/2008. Translation from English to Portuguese by Aleksander Aguilar.


With roots like many academic principles in the re insurgence of enlightenment archaeology’s discoveries are gloriously presented at the moment in London, Great Britain, reaffirming yet once again how embedded afterlife and mass upheavals have become in the everyday existence as seen from the specified perspective.


Archaeology is the science that studies human cultures through the recovery, documentation, analysis and interpretation of material remains and environmental data. Archaeology’s objectives vary, and there is debate as to what its aims, and responsibilities are. Amongst its goals is the documentation and explanation of the origins and development of human cultures, understanding cultural history, and studying human behaviour, for both prehistoric and historic societies. The process involves a series of surveying areas in order to find new sites, excavating sites in order to recover cultural remains presenting processes of classification, analysis, and preservation. The two major headlines feature in the cultural setting of London The First Emperor: China’s Terracotta Army coming to the British Museum in late 2007 (ending on the 6th of April 2008) and Tutankhamun and the Golden age of the Pharaohs in the Millennium Dome on the Greenwich peninsula (a structure originally built to house the Millennium Exhibition). Thus we are presented by artefacts of a defining moment in archaeology in 1922 side by side (albeit within a 15 kilometre radius) with what could prove to be as one of the most important archaeological discoveries to date intact underneath the ground (accidentally discovered by Chinese farmers in 1974).


The renowned archaeologist Howard Carter discovered the tomb of the then unknown Pharaoh Tutankhamun in November 1922. The young pharaoh was one of the last kings of Egypt’s 18th Dynasty. Despite his modest contributions to the Egyptian empire and his minor role as a king his name will shine a strong light in the sphere of modern archaeology and history. Little is known about his life. Born in 1343BC in the city of Akhetan, he was crowned Pharaoh by the age of 9 or 10, married by the age of 12 and died under mysterious circumstances by the age of approximately 19/20. Many conspiracy theories have been webbed by historians as to the exact causes of his death. A vast collection of treasures was discovered within his tomb. The exhibition includes more than 130 artefacts, some of which have never been previously seen by the British public and it is divided in eleven galleries that have been constructed focusing on a particular theme such as ’Daily life in ancient Egypt’. This leads on to the treasures within the final galleries with which the boy king was buried. A gallery is dedicated to the five items that were found on the Pharaoh’s body when Howard Carter entered the tomb in 1922. The exhibition after touring the US arrived to London, the home town of the man responsible for this discovery. As a special tribute the organisers Arts and Exhibitions International collaborated with the British Museum and created a special exhibit that showcased the life of the archaeologists at that time in Egypt.

An underground Empire
The Terracotta Army: Terracotta Warriors and Horses is a collection of 8,099 larger-than-life Chinese terra cotta figures of warriors, horses, acrobats and other figures located near the Mausoleum of the First Qin Emperor. The figures vary in height, according to their role, the tallest being the Generals (above 184 cm).The Terracotta Army was buried with the Emperor of Qin; Qin Shi Huangdi in 210 BC. He reigned over Qin for twenty six years and unified China in the last eleven years of his life. In addition to the warriors, an entire man-made necropolis for the emperor has been excavated. Construction began in 246 BC and is believed to have taken seven hundred thousand workers and craftsmen thirty years to complete. The First Emperor was buried alongside great amounts of treasure and objects of craftsmanship, as well as a scale replica of the universe complete with gemmed ceilings representing the cosmos, and flowing mercury representing the great earthly bodies of water. The tomb presently remains unopened. The Emperor’s necropolis complex was constructed to serve as an imperial compound or palace. The remains of the craftsmen working in the tomb may also be found within it, as it is believed they were sealed inside alive to keep them from sharing any secrets about its riches or entrance. In July 2007 it was determined, using remote sensing technology, that the mausoleum contains a huge construction built above the tomb, with four stepped walls, each having nine steps. Researchers theorized it was built for the purpose of the soul of the emperor (the dead) to depart, much like the tombs of the Pharaohs’ guided their souls to the afterlife. The ground of the site contains high levels of mercury which has proved a great aid for its preservation and proves the theories of past historians and researchers.

These two great archaeological discoveries face the public in London, both highlighting the circulation of artefacts and cultural information in the contemporary times. The Tutankhamun’s exhibition is a landmark in history of modern archeology looked at in conjunction with a very exciting discovery of the later half of the twentieth century. It will take years to unearth and discover the splendours of the Chinese emperor’s impressive endeavours to be accompanied into afterlife. The discovery by the farmers serves as a reminder to never underestimate the history that we might be treading over. Because through these discoveries and interpretations that we are presented with the reoccurring nature of history.


*Evanthia Tselika is an art critic born in Athens, Greece and currently living in London. She holds a degree in Visual Art from Goldsmith University, in London and a Master in History of Art from SOAS, University of London.

----------------------------------

Caminhos Arqueologicos para a vida apos a morte


(*por Evanthia Tselika)

Este texto foi originalmente escrito em ingles, mas sua primeira versao para publicacao foi em portugues, na edicao de domingo, 13/04/2008, do jornal Diario Popular (http://www.diariopopular.com.br/). Traducao do ingles para portugues por Aleksander Aguilar.



Como muitos outros principios academicos com raizes na insurgencia da elucidacacao, descobertas arqueologicas referenciais que atualmente estao em exibicao em Londres ajudam uma vez mais a reafirmar o quao enraizado no cotidiano da existencia tornaram-se temas como vida apos a morte e convulsoes de massa quando vistos de uma perspectiva especifica.

Arqueologia eh a ciencia que estuda culturas humas atraves da recuperacao de documentos, analise e intepretacao de material remanescente e dados ambientais. O processo envolve uma serie de areas de pesquisas com o objetivo de encontrar novos sitios e excava-los para recuperar processos remanescentes. Mostras de dois dos mais importantes sitios arqueologicos do mundo estao em exibicao na cena cultural de Londres. O Primeiro Imperador: O Exercito de Terracota da China e Tutankhamun e a Idade de Ouro dos Faraos. O primeiro esta em exposicao ate o dia seis de abril no Museu Britanico e o segundo na Millenium Dome, na peninsula de Greenwich. Eh atraves dos artefatos expostos nesses dois imponentes espacos culturais da capital britanica que somos apresentados a um momento definitivo na arqueología, em 1922, e ao que tem provado ser uma das mais importantes descobertas arqueologicas que ainda permanecem intactas abaixo do solo, acidentalmente encontrada por um agricultor chines em 1974.


O renomado arqueologista Howard Carter descobriu a tomba do entao desconhecido farao Tutankhamun em novembro de 1922. O jovem farao era um dos ultimos reis da 18ª dinastia do Egito. Apesar da sua modesta contribuicao para o imperio egipcio e do seu papel secundario como rei, seu nome brilhara na esfera da moderna arqueologia e historia. Pouco eh conhecido sobre sua vida. Nascido in 1343 BC na cidade de Akhetan, ele foi coroado farao quando tinha 9 ou 10 anos de idade, casou aos 12 anos e morreu sob circunstancias misteriosas aproximadamente aos 20 anos. Muitas teorias da conspiracao tem sido levantadas por historiadores como a causa exata de sua morte. Uma vasta colecao de tesouros foi descoberta dentro do sua tumba. A exibicao inclui mais de 130 artefatos, alguns dos quais nunca foram vistas antes pelo publico Britanico, e eh divida em onze galerias cada uma elaborada com foco em um tema particular como “a vida diaria no antigo Egito”. Elas conduzem o visitante a galeria final onde se ve os tesouros com os quais o garoto foi enterrado. A galeria eh dedicada aos cinco itens que foram encontrados sobre o corpo do farao quando Howard Carter entrou na tumba. Em uma homenagem especial ao homem responsavel pela descoberta os organizadores, Arts and Exhibitions International em colaboracao com o Museu Britanico criaram uma exibicao especial que destacou a vida do arqueologista naquele tempo no Egito.

Um Imperio subterraneo
O exercito de Terracotta: Guerreiros e Cavalos Terracotta eh uma colecao de 8099 figuras de tamanho real de guerreiros, cavalos, acrobatas e outras esculturas localizadas perto do Maousoleu do primeiro imperador da China. As figuras variam em altura, de acordo com o seu papel, sendo os generais os mais altos (acima de 1, 84m). O Exercito de Terracotta foi enterrado com o imperador de “Qin”, Qin Shi Huangdi, em 210 A.C . Ele reinou por 26 anos e unificou a regiao nos ultimos onze anos da sua vida configurando o que hoje se conhece por China. Alem dos guerreiros, uma inteira reproducao do imperio foi escavada. A construcao comecou no ano 246 AC e acredita-se ter exigido o trabalho de 700 mil homens durante 30 anos para ser completado. O primeiro imperador foi enterrado junto com uma enorme quantidade de tesouros e objetos de arte assim como uma replica em escala do universo com o teto forrado com pedras preciosas representando o cosmos e uma corrente de mercurio representando os corpos terrestres de agua. A tumba ainda permanece fechada. O complexo de necropole do imperador foi construido para funcionar como um recinto imperial ou um palacio. Os restos mortais dos artesaos que trabalharam na tumba tambem devem ser encontrados porque acredita-se que eles foram selados vivos na sala da tumba para assegurar que nenhum segredo sobre suas riquezas ou entrada seria divulgado. Em julho do ano passado foi determinado que o maousoleu contem uma imensa estrutura construida sobre a tumba, com quatro muros cada um com nove degraus. Pesquisadores teorizam que isso foi feito com o proposito de que a alma do imperador pudesse partir, semelhantemente a tumba dos faraos guiados para a vida apos a morte. O subsolo do local contem alto level de mercurio que tem provado ser de grande auxilio para sua preservacao e prova a teoria de pesquisadores e historiadores do passado.

Estas duas grandes descobertas arqueologicas que se apresentam ao publico em Londres destacam a intensa circulacao de artefatos e informacao cultural em tempos contemporaneos. A exibicao sobre os tesouros do farao Tutankhamuns eh um marco na historia da moderna arqueologia vista conjuntamente com uma excitante descoberta da ultima metade do seculo vinte. Levara anos para desenterrar e descobrir todo o esplendor dos impressionantes esforcos do imperador chines em estar acompanhado para a vida apos a morte. A descoberta feita por fazendeiros serve como um lembrete de que nunca se deve substimar a historia sobre a qual nos talvez estejamos caminhando. Sao atraves dessas descobertas e interpretacoes que somos apresentados a reocorrencia natural da historia.

*Evanthia Tselika é crítica de arte, natural de Atenas e radicada em Londres. Mestra em História da Arte e Arqueologia pela School of Oriental andAfrican Studies (Soas - University of London).