Friday 25 June 2010

Algumas fotos (e uma introspecçao)












No mês passado estive no Brasil pela terceira vez em cinco anos. É sempre intenso observar essa grandeza curiosa que o tempo assume quando percebo a peculiaridade do trajeto. Nem tudo foi planejado, mas sempre tentei não desperdiçar nenhuma oportunidade – ou pelo menos nada daquilo que eu julguei ser oportunidade. Sou um fascinado pelo tempo, um admirador respeitoso e intrigado por essa dimensão onipresente e todo-poderosa da existência. Supreeendo-me com ela e comigo, um espectador de mim mesmo, agarrado com força ao tempo e tentando extrair tudo o que ele pode me dar, mas também o vendo passar desgringoladamente. Hoje tenho varias referencias, e não sei realmente qual possuo. O lar, a estrada, o não-estar, o estar demasiado, a impermanência, o querer, o dever, a escolha, o legado, o sentido; todos estão relacionados, todos convergem, todos reclamam, todos se perdem, no tempo, e talvez no espaço.

Eu só queria, na verdade, compartir algumas fotos, das poucas que tirei ou tiraram de mim (e sempre são poucas) quando vou ao Brasil (home?). Ainda espero, sobretudo, as fotos das Bodas de Vinho dos meus avós, 70 anos de matrimônio, razão (ou excusa) central da minha ida até lá/aí nesse período. Aqui seguem algumas do Painel que pude apresentar sobre minha pesquisa numa atividade na UCPel, organizada pelo IMA e de uma conversa com antigos amigos no sempre necessário Café Aquários. Quando eu tiver as do vô e da vó, eu adiciono.

Tuesday 22 June 2010

O delirio salvadorenho

*TEXTO PUBLICADO NA EDICAO IMPRESSA DO JORNAL BRASIL DE FATO, DO DIA 1 DE JULHO DE 2010

No limite do macabro. Assustadoramente desafiante e revelador. O crime ocorrido em El Salvador no dia 20 de junho deste ano põe em evidência o nível de barbárie e extremismo que chega a situação da violência na América Central. Um caso sintomático particularmente nesse que é, ao mesmo tempo, o territorialmente menor e mais violento país do continente. Um indicativo de que, analogicamente ao Brasil, há espaços na sociedade em que a segurança pública é controlada pelo crime organizado e que isso, se segue seu ritmo crescente, pode abalar a estabilidade nacional.

No inicio da noite do domingo passado, um ônibus do serviço de transporte urbano da capital, San Salvador, foi metralhado e incendiado com todos os passageiros dentro. Foram 14 pessoas, incluindo menores de idade, mortas, todas queimadas vivas, dentro do veículo. Eram cidadãos comuns, em suas rotinas diárias, viajando no percurso da sobrevivência de uma sociedade que massificou o medo e trivializou a violência ao nível do absurdo. Imediatamente após a matança, apenas duas vitimas tinham sido identificadas: uma mulher de 37 anos e uma menina de um ano e meio de idade. Os demais estavam irreconhecíveis e apenas testes de DNA poderiam confirmar sua identidade.




A tragédia ocorreu quando todas as unidades da Polícia Nacional Civil (PNC) e quase metade das tropas do exército do país estão nas ruas cumprindo um controvertido plano anti-delinquência do governo na tentativa de frear a criminalidade. El Salvador é atualmente, segundo as estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS) o mais perigoso país da América Latina e um dos mais violentos do mundo. Os índices de homicídios são de 76 para cada 100 mil habitantes, os mais altos do continente e quase iguais aos que havia durante a guerra civil dos anos 80.

El Salvador é um estado sobrevivente dessa “delirante” guerra, como define a própria ONU no informe da Comissão da Verdade sobre o conflito. O fratricídio que vigorou oficialmente entre os anos de 1980 a 1992 deixou um saldo de mais de 70 mil mortos e desaparecidos – mais de 3% da população total do país. Hoje é uma nação que busca a paz e o equilíbrio entre as condições de insegurança, desigualdade social e falta de justiça que se arrastam como conseqüência de processos não finalizados e de lutos não superados. Os Acordos de Paz de 1992 puseram um fim à guerra entre o governo e as organizações marxistas revolucionárias salvadorenhas e isso deu passo a uma nova fase na história política do país. No entanto, a partir disso, também se passou a assumir que o fim da hostilidade bélica significava viver em paz. Como mostra o estremecedor evento do dia 20, um estado de paz significa muito mais que a mera ausência de guerra.

Um grupo pequeno que pertence a uma grande organização, articulada e coordenada, planejou deter um ônibus, metralhar-lo e incendiar-lo com todos os passageiros dentro. Trata-se de um exemplo de força – e crueldade abismal – dessas organizações que extorsionam, roubam, seqüestram, matam e se digladiam em um conflito aberto entre si diante da incapacidade do Estado para parar-las.


LAS MARAS

Conseqüência indireta das imigrações provocadas pela guerra civil e pela globalização, em Los Angeles, nos Estados Unidos, jovens imigrantes centro-americanos criaram no início dos anos 80 as duas principais gangs (“maras”, no jargão da região) que atualmente se enfrentam na América Central: a Mara Salvatrucha (MS) e a Mara 18. Cada uma delas possui sua linguagem codificada, seus rituais, suas tatuagens e seu ódio visceral.


Oriundos do istmo entre o Sul e o Império, uma região quase sempre esquecida mesmo no contexto latino-americano, jovens desorientados como resultado da imigração forçada, econômica política, desertores do exército e/ou da guerrilha, desenvolveram no breve espaço de uma década organizações criminais estruturadas e hierarquizadas para defender seus territórios e negócios ao custo da vida dos seus inimigos. A primeira foi a MS, mas logo surgiu a 18, que ocupava precisamente a rua 18, no sul de Los Angeles.

Washington, em 1996, aprovou as terríveis “Immigration Reform” e a “Immigrant Responsability Act” que permitiu às autoridades dos Estados Unidos expulsarem imediatamente mais de 100 mil membros de gangs para a América Central. Esse fluxo de delinqüência gangrenou a ordem social principalmente de Honduras, Guatemala, Nicarágua e El Salvador.

Os anos da guerra em El Salvador deixaram marcas profundas. Há uma violência endêmica alimentada por mais de 400 mil armas de fogo que circulam no país e que se pode comprar por preços irrisórios. O nível de consumo de drogas é alto e aumenta com a liberalização, a toda velocidade, da economia, dolarizada desde 2001, que desestabiliza o tecido social do país. No informe de 2007 do Escritório das Nações Unidas para o controle de Drogas e Delitos, El Salvador aparece como a terceira nação do mundo em consumo de cocaína. O país, juntamente com o México, (onde o exército também foi mandando às ruas para tentar combater o narcotráfico) é o corredor pelo qual passa 90% da cocaína que chega aos Estados Unidos.

Os números oficiais de membros de gangs são muito variáveis, devidos as dificuldades de se calcular o nível de envolvimento dos jovens com as organizações, mas estima-se um mínimo de 10 mil “mareros” em El Salvador. No começo dos anos 2000, o presidente salvadorenho Francisco Flores, adotou o programa “Mão Dura” para combater as maras, utilizando um forte aparato repressivo. Mas dos mais de 16 mil suspeitos detidos apenas 807 foram considerados culpados. Essa legislação foi então considerada inconstitucional e criticada por não enfrentar os problemas ligados à miséria e à violência familiar que determina a marginalização dos jovens o desenvolvimento de vínculos com as maras.

Os subúrbios de San Salvador são um ninho de casebres e pequenas favelas que formam um limbo, um espaço que separa a capital de sua cadeia de vulcões que, segundo o cineasta franco-espanhol Christian Poveda (assassinado em 2009 pela mesma mara que retratou em documentário internacionalmente premiado, La Vida Loca), conforma a topografia ideal para a violência. Ao contrário dos guerrilheiros dos anos 70 e 80, os jovens mareros rechaçam ideologias e expressam sua rebeldia em uma violência que ultrapassa as raias do absurdo.



Faltam hoje em El Salvador, ainda, vontade política e recursos financeiros para combater a violência urbana. A inédita e histórica chegada da FMLN ao Executivo do país no ano passado – a antiga guerrilha convertida em partido institucional depois dos Acordos de Paz – trouxe consigo a expectativa de mudanças substanciais na nação. Porém ainda não se iniciou no país o desmonte de estruturas de privilégios na sociedade que geram corrupção e inviabilizam o avanço social e econômico. Um estado com alta sonegação de impostos obstrui a distribuição de recursos e as instituições nacionais terminam debilitadas e incapazes.

A violência constante em El Salvador se inicia desde a política e a educação. A violência direta, resultado da violência estrutural vigente, conforma a inconsistente base sobre a qual se tenta realizar a reconstrução da sociedade salvadorenha. A conformação de uma cultura de violência está determinada pela incidência de um sistema de normas e valores que aceitam, toleram e retroalimentam culturas violentas.

O conflito salvadorenho não está encerrado, senão manifesto em atos abomináveis como o ocorrido na capital no dia 20 de junho. Este conflito precisa ser transformado tendo como norte o estabelecimento de uma paz positiva, sem violência estrutural, que permita o desenvolvimento de uma cultura de paz. Isto passa por uma diferente atitude do Estado frente as suas dividas em matéria de verdade, justiça e reparação com o seu próprio passado recente; por uma nova postura do setor privado diante de seus compromissos para com o país e pela decisão do Estado em enfrentar-se decididamente com as enormes falhas do seu sistema político e judicial.

Monday 21 June 2010

Surrealista y espeluznante: ¡la violencia en El Salvador llega al absurdo!

*Tomado del periódico El Faro

Un microbús de la ruta 47 fue ametrallado la noche de este domingo en Mejicanos, causando la muerte de dos ocupantes, y minutos más tarde otro microbús de la misma ruta fue incendiado con sus pasajeros a bordo. Al menos 13 personas murieron calcinadas. Algunos lugareños vinculan los dos atentados a la guerra entre las pandillas.

Al menos 13 personas, al parecer todas pasajeros de un microbús que circulaba por el centro de Mejicanos, murieron calcinadas la noche de este domingo, después de que el vehículo fuera incendiado, y minutos después de que otro microbús fuera ametrallado en la misma zona, con saldo de dos personas fallecidas.

Según Comandos de Salvamento, un microbús de la ruta 47, una Coaster, fue incendiada alrededor de las 7 de la noche en la colonia Jardín, frente al cine Zacamil. En el lugar murieron 11 pasajeros y otros siete resultaron heridos. A las 10 de la noche, Comandos de Salvamento reportaba la muerte de dos de las personas lesionadas que habían sido trasladadas al Hospital Nacional Zacamil.

Minutos antes, otro microbús, de la misma ruta, había sido atacado con armas de fuego, lo que provocó la muerte del cobrador y de una niña de 11 años.

Sobre las circunstancias del atentado al bus incendiado hay dos versiones: una es que el vehículo fue interceptado por un grupo de personas mientras estaba detenido para bajar pasajeros. La otra dice que el vehículo iba en marcha cuando se le atravesaron para forzarlo a detenerse. Después, ambas versiones coinciden en que los atacantes rociaron combustible al microbús y le prendieron fuego.

Según la Policía, al menos 13 pasajeros lograron escapar cuando los agentes ayudaron a que salieran por las ventanas, después de que los policías rompieran los vidrios. El vehículo aún estaba ardiendo y no pudieron auxiliar a las otras 11 personas que quedaron adentro y murieron.

Según testigos del lugar, este hecho podría estar vinculado al otro atentado, por el que de acuerdo con miembros de la Cruz Roja, murió el cobrador Carlos Álvarez, de 33 años de edad, cuando recibía auxilio. Álvarez recibió siete balazos, y la niña Marlene Lissette Urbina Jiménez, de 11 años de edad, tenía dos impactos de bala. La hermana de Marlene, de siete años, recibió un balazo en la pierna derecha y fue trasladada al hospital Benjamín Bloom. También resultó herido Eduardo Ulises Reymundo Torres, de 22 años.

El ataque ocurrió sobre la calle Montreal, pasaje El Picón.

La policía maneja la versión de que los atacantes con armas de fuego huyeron del lugar en motocicleta. Mientras una patrulla, alertada por vecinos del lugar, que daba persecusión a dos sospechosos, se cruzó en el camino con el microbús incendiado hacía apenas unos minutos. De acuerdo con el director general de la PNC, Carlos Ascencio, los agentes ayudaron a algunas de las personas que se encontraban en el interior a escapar de las llamas, quebrando los vidrios del vehículo.

Ascencio aseguró que ya se han capturado a cuatro personas relacionadas con ambos hechos, una de ellas, incluso, tenía sus ropas impregnadas con gasolina, aseguró. Ascencio y el ministro de Seguridad, Manuel Melgar, calificaron estos atentados como "un hecho terrorista".

Los móviles de los ataques se desconocen, pero la ruta 47 es una de las que sufren las extorsiones de pandilleros, que le exigen a los propietarios la entrega regular de dinero como condición para no matar a los conductores o no destruir los vehículos.

Asimismo, algunos vecinos del lugar especularon que los ataques de este domingo podrían obedecer a una venganza de la pandilla 18, dado que el viernes hubo una balacera en la que murió una persona y cuya autoría se la atribuyen a la 13. La ruta 47 pasa por la colonia Montreal, considerada un reducto de la 13.

Sunday 20 June 2010

Brasil de Fato publica "A maldiçao de Marcos Diaz"

Escrevi este texto logo após a minha visita ao El Mozote e o publiquei apenas aqui no blog. Mantive-o guardado por algum tempo e depois me dei conta que publicar-lo em meios de mais visibilidade seria somente uma das medidas para dar a conhecer essa história, assim como tantas outras, do nosso istmo centro-americano.

O jornal Brasil de Fato publicou-o na sua edição impressa do dia 27 maio passado e em seguida no seu website.

Além da Panoramica Social (Espanha) e da ContraPunto (El Salvador), passo a colaborar também com publicaçoes no território verde-amarelo participando desse semanário de circulação nacional.

"O episódio ocorrido em El Mozote, em El Salvador, em 1981, é um dos maiores massacres cometidos contra civis na história recente da América Latina, com pelo menos o dobro de vítimas que My Lay e, quiçá, levado a cabo com mais requintes de crueldade do que o da famosa aldeia vietnamita durante a guerra promovida pelos Estados Unidos, nos anos 1960.

O famigerado ex-batalhão Atlacatl do exército salvadorenho, numa tentativa desesperada de conter o brote revolucionário no país no início dos anos 1980, aterrorizou e assassinou quase 1.200 civis pacíficos, incluindo idosos, mulheres e crianças de colo." (SEGUE)

Thursday 17 June 2010

O PT se supera... Todo apoio a Manoel da Conceiçao!

Líder camponês Manoel da Conceição fez greve de fome em protesto contra a decisão do Diretório Nacional do PT de apoiar à reeleição da governadora do PMDB no Maranhao, Roseana Sarney, a filha daquele Sarney.

O militante histórico do PT,de 75 anos, decidiu suspender ontem o protesto que fazia desde a última sexta-feira. Um dos fundadores do PT, Manoel da Conceição foi preso, torturado e exilado durante a ditadura militar. Foi um dos heróis nacionais contra o regime militar.

O deputado federal petista pelo Maranhao, Domingos Dutra, que também fez greve de fome, fez um discurso emocionado contra a decisão de seu partido e criticou especialmente o deputado José Genoino, um dos principais articuladores da coligação entre PT e PMDB . (assista o discurso)

O Diretório Nacional baseou-se nas diretrizes estabelecidas em seu 4º Congresso Nacional que definiu como objetivo principal de 2010 a vitória na eleição presidencial, com a candidatura de Dilma Rousseff. No Congresso foi decidido que (PASMEM! ou na verdade, ja nao...), a respeito das eleições estaduais, é de competência da direção nacional a deliberação, em última instância, sobre as alianças nos Estados.

Leia trecho da carta de Mané da Conceiçao ao Lula e ao Diretório Nacional:

“Meu companheiro Lula, hoje vivemos um novo momento na história do Brasil; aquelas lutas dos anos 50, 60, 70, 80 e 90 não foram em vão; tivemos prejuízos enormes, pois muitas vidas foram ceifadas pela virulência dos detentores do poder do capital; porém, temos um saldo expressivo de vitórias; hoje temos um partido que se tornou a maior expressão política da classe trabalhadora na América Latina; temos o melhor presidente da história desse gigantesco país, que ironicamente é um trabalhador operário e nordestino, que assim como eu quase não teve acesso a estudos escolares.

Eu confesso a você que sinto um imenso orgulho de ter participado desde os primeiros momentos da construção dessa grandiosa e ousada empreitada. Porém, companheiro presidente, ultimamente eu tenho vivido as maiores angustias que um homem com minha trajetória de vida é capaz de imaginar e suportar. Receber a imposição de uma tese defendida pela Direção Nacional do meu partido e até onde me foi informado pelo próprio companheiro presidente de que o nosso projeto político e social passa agora pelo fortalecimento da hegemonia da oligarquia sarneysta no Maranhão.

Eu sei do malabarismo que o companheiro presidente tem precisado fazer para garantir alguma condição de governabilidade, porém, sei do alto custo que é cobrado por esses apoios conjunturais, e que nosso governo vem pagando a todos esses ônus. Companheiro, tudo precisa ter algum limite e tal limite é a nossa dignidade. O que está sendo imposto a nós petistas do Maranhão extrapola todos os limites da tolerância e fere de morte a nossa honra e a nossa história. Eu pessoalmente, há mais de 50 anos venho travando uma luta contra os poderes oligárquicos e contra os exploradores da classe trabalhadora neste país. Por conta disso perdi dezenas de companheiros e companheiras que foram barbaramente trucidados por essas forças reacionárias. Como que agora meus próprios companheiros de partido querem me obrigar a fazer a defesa dessas figuras que me torturaram e mataram meus mais fieis companheiros e companheiras. Vocês podem ter certeza que essa é a pior de todas as torturas que se pode impor a um homem. Uma tortura que parte dos próprios companheiros que ajudamos a fortalecer e projetar como nossos representantes no partido e na esfera de poder do Estado, na perspectiva de um projeto estratégico da classe trabalhadora. Estou falando do fundo de minha alma em honra à minha história e à de meus companheiros e companheiras que foram assassinadas pelas forças oligárquicas e de extrema direita neste país.”

Tuesday 15 June 2010

Caí de pará-quedas





Hoje é o dia do primeiro jogo do Brasil na Copa e as atenções, pelo menos certamente dos eventuais leitores brasileiros deste blog, estão voltadas para o desempenho da seleção. Mas enquanto não chega a hora desse, para mim, não tão esperado evento (mas que eu inclusive também assistirei) tento recontar a experiência do meu acontecimento particular no sábado, do que significa um salto de pára-quedas.

E a verdade é que não sei. É único – pese o clichê – e isso é certo. Mas a descrição, propriamente, acho que vai além do que consigo escrever. Não me atrevo a dizer tampouco que foi a melhor sensação que já tive, mas foi definitivamente singular e espetacular.

Não tenho fotos ou vídeos durante o salto em si, pois o valor a pagar para isso era quase o preço de outro pulo, e efetivamente prefiro, como vou, saltar de novo.

Não fiquei nervoso, e digo isso genuinamente sem querer bancar nada, em nenhum momento. Nem ao chegar à beira do avião com as pernas para fora. Não entendo particularmente o que passou nos três primeiros segundos. Dentro do avião o instrutor me disse que iria dar umas cambalhotas no inicio da queda, e que logo de estabilizar, se eu quisesse mais, deveria fazer um sinal positivo. Fiz um negativo, pois queria poder sentir a queda, a força do vento, a velocidade incrível que não te deixa nem gritar. O deixar-se cair no nada e seguir caindo a mais de 100km/h é um tanto incompreensível pro corpo e pro psicológico. Abri os braços e percebi, num lapso, que caiamos. E eu queria seguir caindo. Só via o branco das nuvens que cortávamos e gritava apenas para mim, como se o vento empurrasse o som de volta para dentro. E tudo isso muito rápido, exageradamente rápido. Caímos por 35 segundos e para mim foi como se apenas cinco tivessem passado. Minha vontade assim que o pára-quedas foi aberto era voltar a me atirar do avião na mesma hora.

O pára-quedas, então, foi uma brincadeira, foi como estar numa roda-gigante em escassos minutos de recomposição, olhando a paisagem, desejando que assim que pousasse fosse possível subir de novo, como uma criança que desce pelo escorregador e corre para deslizar novamente. E definitivamente farei de novo!

Foi excelente, rápido e provocador. E aprendi que, mesmo que te atires de um avião, soluções não caem de pára-quedas.

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Today is the first Brazilian match in the World Cup and all the attentions, at least of the eventual Brazilian readers of this blog, are caught by the performance of the national squad. While it is not the time for this (not so much for me) awaited event, (although I am also going to watch it), I will try to recount my particular experience on last Saturday when I first skydived.

The truth is that I do not really know how to say it. It was unique, despite this description being a cliché, and that I can say. But the proper description of it goes beyond my writing skills. I do not dare to say it was the best sensation of my life, but it was definitely something singular and stunning.

I do not have photos or footage taken during the fall, because the price to hire it was almost as much the price for jumping again. I preferred to save it for, as already decided, doing it another time effectively.

I did not get nervous at any time (and I am not saying this because I am trying to play the cool), nor when I was at the edge of the aircraft with my legs hanging outside it. I do not understand, particularly, what happened during the first three seconds of the fall. Inside the plane, the instructor told me he was going to do somersaults at the beginning and that should put my thumbs up or down whether I wanted to continue or stop it. I put my thumb down so I could feel the fall, the wind strength, the high speed that prevents you from screaming. Give yourself up to the vastness and keep falling at 100km/h is somewhat incomprehensible for your body and mind. I opened my arms and noticed, at a blink of eyes, that we are falling. And I wanted to continue falling. I just saw the whiteness of the clouds that we are cutting across and screamed only for myself, as if the winds pushed the sound back inside me. And all of it was quick, excessively quick. We fell during 35 seconds and for me it was if only 5 seconds have passed. I wish I could, as soon as the parachute deployed, to throw myself out of the plane again.

Then, the parachuting was as if I was playing in a Ferris Wheel during few minutes necessary to resume myself, looking at the view, wishing I could, as soon as we landed, to go up again, as I child on the slides running to coast one more time. I am definitely doing it again!

It was excellent, quick and provoking. And I learned that, even if you jump off a plane, solutions will not fall from the sky.

Friday 11 June 2010

Agora salto

Por fim. Amanha ao que tudo indica, depois de duas postergações, realizarei meu primeiro salto de pára-quedas. Como já mencionado, isso estava na minha lista de “coisas a fazer antes dos 30”... Os ventos gélidos desta ilha empurraram o plano um pouquinho pra frente, mas agora, finger crossed, saltarei neste sábado. Antes de abrir o pára-quedas, são cerca de 40 segundos de queda livre, a 110km/h, a 13 mil pés de altura. Adrenalina é pouco. Insights espero que também. Aliás, três coisas: - sim, defino prioridades; - “yo soy yo y mis circunstancias”; - não, o céu não é o limite.

P.S: se eu demorar mais de uma semana para postar algo aqui, procurem por mim.

Wednesday 9 June 2010

Não permita deus que eu morra sem ter visto a terra toda


Não permita, deus, que eu morra

Sem ter visto a terra toda

Sem tocar tudo o que existe

Não permita, deus,

Que eu morra triste

Dê-me a graça

De viajar de graça

Por essa esfera afora

De virar uma linda senhora

Uma linda lenda

Cantar cada fio da renda

Tecer cada cacho

De cabelo de anjo

Transformá-lo num bonito arranjo

Da mais bela canção

Não permita, deus, que eu me vá

Sem sorver esse guaraná

Sem espalhar meu fogo brando

E acalmar a brasa do mundo

E aquecer mais uma vez

O coração do universo

Nas contas do meu terço

Nas cordas do meu violão


Viajei. Fui e voltei. Ou ao revés? Enquanto considero, estudo e recupero, escuto e comparto descobertas da excelente poesia e música brasileira. “Oração ao Anjo” é uma canção dessa nova –para mim – compositora de nome Ceumar, mas me foi apresentada na interpretação cheia de arte de Rubi. O vídeo que achei na internet não tem exatamente uma boa qualidade, sobretudo de áudio, mas é uma síntese pertinente.