Monday 28 February 2011

Comissão da Verdade brasileira ainda neste ano?

Os ministros Nelson Jobim (Defesa), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Maria do Rosário (Direitos Humanos) vão procurar líderes partidários no Congresso para articular, ainda neste semestre, a criação da Comissão da Verdade e Justiça*. Caberá à comissão esclarecer crimes de lesa-humanidade cometidos pela ditadura militar (1964-1985), como mortes, desaparecimentos e torturas.


A mobilização dos ministros começará nas próximas semanas, conforme informou, neste domingo (27), Maria do Rosário, em Genebra. Apesar dessa articulação pela Comissão da Verdade, a ministra afirmou que a presidente Dilma Rousseff não tem planos de propor uma revisão da Lei da Anistia**. "Não cabe ao Executivo propor isso. Essa deve ser uma questão da sociedade", disse Maria do Rosário.


Segundo a ministra, a criação da comissão está entre as prioridades do governo. "Vamos ter um diálogo mais direto com os líderes, sobre o significado disso", explicou, ponderando que o Executivo não irá além disso. "Alguns acham que pode ser a porta para buscar a revisão da Lei da Anistia. Mas nós nos movemos dentro do que está no ordenamento jurídico do Brasil", afirmou.


Segundo ela, "é uma comissão do resgate da memória, do direito de saber o que ocorreu. Não cabe ao Executivo hoje, com os limites que temos, iniciar o debate da anistia. Não é nossa proposta e nem está dentro das nossas possibilidades."


No Congresso, os líderes dos partidos aliados também vão tentar a aprovação do projeto da Comissão da Verdade neste primeiro semestre. O texto em discussão no Legislativo foi enviado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em maio de 2010 e diz que a comissão tem por objetivo "promover a reconciliação nacional" e "o esclarecimento circunstanciado dos casos de torturas, mortes, desaparecimentos forçados, ocultação de cadáveres e sua autoria, ainda que ocorridos no exterior".


Na época, houve reação de setores militares, que temeram tratar-se de proposta revanchista. "O ideal é votarmos a proposta como ela veio do Executivo", diz o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP). "O projeto já foi costurado com os Direitos Humanos, a Defesa e a Justiça", afirmou.


Em janeiro, Maria do Rosário já havia se comprometido a trabalhar pela aprovação do projeto. Ministro da Defesa desde o governo Lula, Jobim travou duros embates com o antecessor da ministra, Paulo Vannuchi***. Após a posse de Dilma, reafirmou apoio à criação da comissão.


As informações são de O Estado de S.Paulo


Três comentários:


* Este semestre? Mesmo? Fingers crossed...


** Tá bem. A sociedade continuará propondo, pode confiar. A Comissao, via Executivo, não irá rever a lei da Anistia, mas se depender dos que lutam por Justiça e Memória no Brasil, ela será sim uma porta de entrada para acabar com a impunidade de aposentados generais torturadores.


*** Onde está Paulo Vannuchi?

Thursday 24 February 2011

Revoltas árabes, Slavoj Zizek e o caos debaixo dos céus: a situação é excelente!*

De carnaval para a pauta política internacional, também vou dar meu pitaco sobre tão essenciais eventos que temos acompanhado diariamente na mídia. A Revolta Árabe confunde e parece não ter fim. Os acontecimentos iniciados em dezembro de 2010 na Tunísia e que na metade de fevereiro deste ano derrubaram o governo do Egito, fez-se tao grande que se move do Marrocos até lugares o Bahrein, do Atlântico até os limites da Ásia.


O rótulo de “primavera árabe” vem de alguns analistas que entendem que esses eventos podem representar a maior redistribuição de forças no tabuleiro geopolítico global desde o fim do comunismo no Leste Europeu.


Mas o termo já havia sido usado no começo de 2005 quando se acreditava que os efeitos da invasão do Iraque poderiam resultar no surgimento de democracias no Meio Oriente amigáveis ao Ocidente. Como a coisa não se moveu nesse sentido, o termo foi deixado de lado, e ressurge agora no contexto de ebulição que se vive na região.


Uma revolução se caracteriza pelo estabelecimento de um novo começo. As revoltas em curso conformam um novo começo?


O atual momento árabe pode ser entendido como um exemplo da luta pela dignidade humana. Os árabes dizem basta! Mas por que os protestos só ocorrem agora? Por que desta maneira? Lamentavelmente não enfocarei nessa análise o crucial fator internet no processo, mas cada vez mais a revolução digital que temos o prazer de presenciar (e que os maiores de 25 viram nascer) reforça essa sua mesma natureza revolucionário e inclusive seu poder revolucionário. Para lerem alguns comentários sobre esse assunto podem acessar meu texto sobre o Wikileaks, AQUI mesmo no blog.


Se se trata de considerar a real dimensão dos eventos no mundo árabe, o professor de história da Trinity College, Vijay Prashad , em artigo na Carta Maior, nos oferece com propriedade algumas idéias:


“Essas manifestações só parecem improváveis porque a onda de protestos que irrompeu no fim dos anos 50 e chegou aos 70 foi interrompida no início dos anos 80. Encorajada pela derrubada do monarca no Egito com o golpe liderado por Gamal Abdel Nasser, as pessoas comuns ao redor do mundo árabe queriam suas próprias revoltas. O Iraque e o Líbano seguiram a mesma linha. Na península, o povo queria o que Fred Halliday chamou de “Arábia sem sultões”. Os militantes da Frente de Libertação do Golfo Árabe Ocupado emergiram da batalha de Dhofar (Oman). Queriam levar adiante sua campanha à toda a península. Em Bahrein, o braço mais tímido da batalha foi a Frente Popular. Não durou muito. Com o declínio do Nasserismo nos anos 70, chegou um novo momento para esse republicanismo árabe a partir da Revolução Iraniana de 1979. (...)

Por mais inspiradoras que essas revoltas atuais sejam, elas são parte de um longo processo no mundo Árabe que remonta ao século XIX. Esse longo processo é a Revolução Árabe, cuja luta é por uma transformação total das estruturas de dominação que constrangem o futuro árabe. Um episódio desta longa Revolução Árabe é a revolta de Nasser em 1952. Outro episódio é a onda atual. (...)”


No entendimento de Prashad, o mundo presencia um capitulo a mais da “ longa Revolução Árabe” que põe em evidência duas questões básicas:


- Quando os árabes comandarão a si mesmos, e não serão comandados por ditaduras de partidos únicos e monarcas sustentados por mercados de ações e capital externo? Não há muito tempo a França de Sarkozy e os EUA de Clinton rendiam homenagens aos seus amigos “democráticos” Ben Ali e Mubarak.


- Quando as economias da região árabe serão capazes de sustentar suas populações, antes de engordarem instituições financeiras no mundo Atlântico, e de ofereceram fundos maciços e seguros para ditadores e monarcas? Amaldiçoado pelo petróleo, o mundo árabe tem visto pouca diversificação econômica e quase não consegue usar a riqueza do petróleo para fomentar e equilibrar o desenvolvimento social para o povo.


DOIS FATOS


Um fato é que nesse momento os lideres árabes, de países ricos ou pobres, estão no mesmo barco, com sua legitimidade questionada pela população. E vêem no destino do egipico Barak o mesmo que pode ocorrer com eles.


Seja revolução, seja uma revolta como um capítulo desse processo maior, o povo árabe está questionando sua própria ordem, e com a audiência de um Ocidente que sabe que foi por muitos anos cúmplice das autocracias na região. Estados Unidos e Europa preferiram por décadas a "estabilidade" em lugar da democracia; tudo no pacote de escambo por suprimento de petróleo e por “segurança”. Tradicionalmente o raciocino foi de que se não fosse ditadura, seriam governos islâmicos fundamentalistas, e isso conformaria um risco muito grande.


Outro fato é que há muita gente inocente morrendo. A indignação com a carnificina chegou inclusive a minha amiga Julieta Falavina, mais cidadã do mundo do que eu e doutoranda na prestigiosa London School of Economics com uma pesquisa sobre relações bi-comunais entre Palestina e Israel (perdão se a descrição da temática não está exata, Ju):


Que verdadeiro absurdo o que esta acontecendo na Libia enquanto a ONU, a NATO, e todas as outras ligas ficam "drafting resoluções". Quando eu comecei a ouvir a Al Jazeera ouvi um soldado explicando de Bengazhi, segunda cidade da Libia, que 130 soldados de Benghazi tinham sido mortos pelos soldados de Tripoli por se recusarem a atirar na população

Hoje assisti numa outra cidade a população rasgar o livro verde da Líbia ( uma tipo constituição de onde ontem Gaddafi leu umas ameaças brutais). Entre essas noticias aperecia tbm o Yemem, a Argelia, Bahrain, e o terremoto na Nova Zelandia. Uma ONU ridicula explicava que era feriado nos eua, e depois marcava um encontro para a tarde de terça. Claro ninguem quer se compremeter. Como é que a China ou a Russia vao apoiar protestos. Cada segundo que se passa no entanto nos assistimos de camarote mais alguem sendo morto na Libia.

Da ONU saiu um press release bem bunda. "Condenamos a violência" ou uma coisa ridicula qq como essa. Ouvi uma pessoa dizendo da Libia. Isso nao é suficiente. Nós precisamos de ajuda! Não dá para nao pensar na hipocrisia da Europa preocupada com o oleo e os imigrantes. Nao da para eu nao lembrar de Bush venting sobre ir la para o Iraque exportar democracia. É a chance agora... As pessoas estao la implorando ajuda. Fechem o céu pelo menos!


Julieta também menciona, acertadamente, que o Ocidente parece que terá finalmente que confrontar sua hipocrisia e sua “ladainha de democracia e liberdade já que o povo esta na rua expressando sua liberdade e sendo massacrado por ditadores tanto tempo mantidos ou pelo menos aceitos pela comunidade internacional por décadas”.


É nessa linha que o catedrático muçulmano Tariq Ramadan e o polêmico e genial atual pop star da Filosofia, Slavoj Zizek, não medem palavras em provocar a discussão sobre os acontecimentos ao reafirmarem – se não uma revolução per se – o caráter revolucionário dos eventos no mundo árabe.


No inicio de fevereiro ambos participaram do programa de TV Riz Khan, no canal Aljazeera, disponível na internet AQUI, e foram categóricos: a liberdade é universal.


Para quem quer ter uma reflexão de qualidade sobre o tema, o programa é imperdível. Zizek, com quem eu pude conversar pessoalmente, ainda que brevemente, e acompanhar duas de suas palestras em Londres para uma matéria publicada no jornal Brasil de Fato no ano passado, foi como sempre afiadíssimo:


“O que o Ocidente gostaria é de algumas mudanças que permitissem que situação global permanecesse a mesma.

Na nossa era multicultural somos todos desconfiados dos universalismos, e que a democracia como nós a entendemos é uma coisa especificamente ocidental, que deveríamos entender diferentes culturas.

Mas a realidade dos protestos que estão acontecendo no mundo árabe mostra o quão barato e irrelevante essa conversinha sobre multiculturalismo se torna! Estamos lutando contra um tirano, somos todos universalistas, todos solidários um com o outro. É assim como construímos solidariedade universal. Não através de uma estúpida UNESCO e bla-bla-bla sobre respeito multicultural, mas através da luta por liberdade.

Aqui nos temos uma prova direta de que a liberdade é universal.”


Zizek também aprofunda ao mesmo tempo em que busca despolarizar a questão fazendo um alerta: Se a escolha colocada é entre fundamentalismo islâmico teocrático ou liberalismo ocidental, então a batalha está perdida. “A verdadeira tragédia das nações árabes é o desaparecimento da secularidade das demandas por justiça e liberdade, desse tipo de valores de esquerda. Assim que o crescimento dos fundamentalismos deploráveis no mundo árabe é conseqüência desse vazio deixado pelas esquerdas na região”, opinou.


O povo árabe quer efetivação de seus direitos civis e políticos. Para a região, esses eventos de 2011 podem não ser a inauguração de uma nova história, senão a continuação de uma luta de mais de 100 anos em que, prever que esse será a batalha final, pode ser um exercício arriscado e leviano. De todo modo a velha ordem árabe está sendo sacudida, mas não se pode ainda afirmar que será seu fim.


*Frase atribuída a Mao-Tse-Tung: “Há um grande caos debaixo dos céus – a situação é excelente!”

Wednesday 23 February 2011

Carnaval começa hoje

Então, é carnaval! Oh, sim, senhoras e senhores, eu, que nunca nem fui do ramo, atuarei dessa vez todo o papel de “o folião”. Porque as forças do “destino” (?) me trouxeram até Pernambuco, até Recife, e aqui comprovarei todos os mitos e todas as verdades dessa quase abstração que pra mim é o carnaval. Porque strictu sensu eu não o entendo, mas aos poucos, diretamente no ambiente tropical-pré-festa-oficial, eu o assimilo. Os sulistas que não viveram nada dessa atmosfera senão a experiência carnavalesca do próprio sul perceberão esse comentário quase como um cliché, o que revela a ignorância sobre o tema.


A questão não é a festa per se, não é desculpa para exacerbar-se num período inconseqüente de folia; isso se pode fazer em qualquer data em qualquer lugar do mundo. O cerne é a mobilização popular, as ruas tomadas ( e não apenas um medíocre espaço público fechado para a passagem de grupos às penas pobremente financiados), os palcos em várias esquinas, o reconhecimento e a valorização cultural que atingiu invejáveis níveis de produto de exportação – algo que até aqui, em termos de experiência pessoal em eventos grandes, prazerosos e bem-organizados, eu só posso comparar, ainda que sob o risco de levianamente, aos Acampamentos da Juventude nas edições do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre e ao Festivales de La Mercé, em Barcelona, mas já percebo que a participação e mobilização de massa aqui é realmente maior.


No sábado passado já pude apreciar a “Cena Peixinhos” (Peixinhos é um bairro de Recife com um interessantíssimo projeto cultural que já começo a investigar) que teve a apresentação de grupos locais com participaçao de Fred 04, Otto e B-Negao. Tudo de graça!


Pra mim o Carnaval Multicultural do Recife 2011 começa hoje (sim, hoje!) com o inicio do excelente Porto Musical, que nao é parte da programacao oficial da festa (cujas palestras - só as palestras, os concertos sao gratis - sao pagas, e bem pagas, e entao nao poderei participar) mas é parte da minha seleção pessoal do calendário de shows e festas para que os amigos saibam que nesse período estarei culturalmente bem protegido. E com a ressalva, novamente, que é tudo de graça! Não é pra causar inveja em ninguém, não. É só vir! O calendário abaixo é só dos, na minha opinião, melhores shows disponíveis. Fora isso tem todos os intermitentes blocos e maracatus nos dias oficiais do carnaval pelo Recife Antigo e pela belissima Olinda. A programaçao completa, oficial, só do Carnaval de Recife, tem 36 páginas.


23/02 - Wassab, Torre Malakoff, 22h


24/02 – Lucas Santanna, Praça do Arsenal, 22h


25/02 – Naná Vasconcelos e ensaio de Maracatus, Rua da Moeda, 19h

Orquestra Brasileira de Música Jamaicana, Praça do Arsenal, 21h


26/02 – Lindigo, Praça Arsenal, 22h


27/02 – Ensaio da Noite dos Tambores Silenciosos, Praça do Arsenal, 16h


28/02 – Ensaio de Bois-bumbá + Moraes Moreira, Praça do Arsenal, 19h


01/03 – Ensaio geral da Abertura do Carnaval, Marco Zero, 19h


03/03 – Caboclinhos + Indios, Rua da Moeda, 19h


04/03 – ABERTURA: 500 integrantes de maracatu + Yamandu Costa + Hermeto Pascoal + Ceu + Maria Gadu, Marco Zero, 19h


05/03 – Otto + Lirinha + Lenine + Vanessa da Mata, Marco Zero, 21h


06/03 – Antonio Nobrega + Marcelo D2 + Nação Zumbi, Marco Zero, 21h


07/03 – Martnália + Jorge Aragao, Marco Zero, 21h


08/03 – É a véspera do dia 09...

Tuesday 22 February 2011

Racismo treme!

Lendo o artigo abaixo tive que fazer uma reflexão sobre um tema que, correndo por fora das minhas principais áreas de interesse, me é bastante caro. Sobretudo com aqueles debates dos horrores surgido logo das eleições, no ano passado.


E agora, asquerosos senhores instigadores do ódio e do preconceito Brasil a fora, particularmente dos estados da região Sul e de São Paulo que se manifestaram tão ridiculamente nos episódios pós-eleições contra o Norte e o Nordeste do país, a ciência vai revelando vossa patética mediocridade.


Mas de fato, e grosso modo, há uma parte de paulistas e sulistas que acham (ou achavam...) que são superiores porque possuem sangue europeu?


Me parece que sim. Porém mais do que isso, creio que é bastante óbvio que há um fosco discurso, e prática, de São Paulo para o Sul que reitera falaciosos estereótipos da "superioridade", alegando motivos de descendência ancorada mais na “cultura” do que na “raça”. Um sociólogo francês Michel Wiewiorka, trabalhou para demonstrar que o apelo à cultura é o traço marcante do racismo multiculturalista. “A cultura hipostasiada é o novo emblema do racismo, e não importa muito em que sentido ou sob que marca ela é mobilizada como emblema segregatório, e isso inclui esse samba do crioulo-doido chamado "cultura africana" ou "cultura afro-brasileira”, afirma Wolfgan Lenk.


O que as pesquisas genéticas do Dr. Sérgio Pena mostram é que o apelo à aparência física faz muito pouco sentido quando se quer falar de ascendência. Os resultados de suas pesquisas anteriores levavam a projetar que cerca de 86% da população brasileira tem marcadores genéticos africanos, ou seja, são, de justo direito, AFRO-DESCENDENTES. Não são só os pretos que são afro-descendentes!


Logo, como definir quais são os problemas das políticas de “racialização forçada” da população brasileira? Onde termina uma "raça" e começa outra? O racismo no Brasil é racista ao dizer que não há racismo no Brasil? E se volta ao velho debate, mordendo o próprio rabo, do conceito de raça...


Ao fim e ao cabo a noção de "democracia racial" é usada contra as políticas de cotas raciais e demais ações afirmativas. Mas Sulistas que se acham europeus gostam, ou gostavam, de usar os argumentos genéticos para se marcarem como “brasileiros diferentes” do Norte e do Sul.


O fato é que seja pela via biológica ou seja pela via cultural, preconceito e racismo exploram sem escrúpulos aquilo que é mais conveniente para tentar justificar seu repugnante e sem-sentido ódio.

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Sorpresa en Brasil: negros y mulatos son genéticamente hasta un 80% más europeos que africanos o indios

*Tomado de el periódio Español, El País - 19/02/2011


"Un estudio científico, coordinado por Sérgio Danilo Pena, catedrático de la Universidad Federal de Minas Gerais (UFMG) ha cogido por sorpresa a los brasileños. Contra lo que se pensaba hasta ahora, negros y mestizos, cuyo porcentaje entre los 190 millones de ciudadanos ha superado ya el 52% de la población, tienen un ADN mucho más europeo que africano o indio.


El estudio, que ha analizado genéticamente a un millar de personas desde Belem a Porto Alegre, demuestra que la ascendencia europea nunca es inferior. De media es del 60% y en muchos casos alcanza un 80%. La contribución africana es, sin embargo, mayor que la indígena que no supera el 10%.


Según Pena, el estudio revela que a pesar de las enormes diferencias regionales de Brasil, casi un continente, "la ancestralidad de los brasileños acaba siendo muy uniforme entre blancos, negros y mestizos". Según el catedrático, "la sorpresa y el mensaje del estudio es que genéticamente Brasil es mucho más homogeneo de lo que se esperaba".


Para analizar el genoma del muestrario, los investigadores, cuyo trabajo completo aparece en la revista Plos One, se valieron de un conjunto de 40 variantes de ADN, los llamados indels, es decir, pequeños trechos de letras químicas del genoma que a veces sobran o faltan en el ADN de la persona. Dependiendo de la combinación de estos indels en el genoma de un individuo, es posible estimar la proporción de sus ancestros, llegados de cada continente.


Según los realizadores del estudio, la combinación entre emigración europea desde el siglo XVI y los matrimonios de hombres blancos con mujeres indias y negras, generó una población en la cual la apariencia física tiene poco que ver con los ancestrós de dichas personas. Lo que ocurre, y ha podido llevar al error es que los genes del color de la piel o del pelo, por ejemplo, son muy pocos, una parte casi despreciable de la herencia genética, a pesar de que su efecto sea muy visible y evidente."

Sunday 20 February 2011

Barack Obama en Brasil y El Salvador

Aunque aún falte mucho para establecerme con tranquilidad (¿será esto posible?) en el nuevo "environment", trato de retomar las contribuciones analíticas a los medios para los cuales escribo con este articulo sobre la visita de Barack Obama a América Latina que, además de Chile, se centra justo y coincidentemente en Brasil y El Salvador, entre los días 19 y 23 de marzo.


El articulo ha sido publicado en Panorámica Social, España, AQUI y en el Latin American Bureau (LAB), Londres, en ingles, AQUI.

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El presidente estadounidense, Barack Obama, hará, a finales del próximo marzo, su primera gira regional tras dos años en el poder y apenas tres países serán visitados: Brasil, Chile, El Salvador.


El criterio de la visita en este esfuerzo diplomático de los Estados Unidos, en un año que nuevos presidentes en el continente fueran elegidos, puede ser apuntado para el pragmatismo: Obama quiere demostrar cuáles son los intereses y preocupaciones de la política internacional estadounidense en la región y ha seleccionado países gobernados por mandatarios que la diplomacia norteamericana considera pragmáticos lo suficiente para sintonizar con el gobierno del partido demócrata.


Según entrevista del director del centro Diálogo Interamericano, Michael Shifter, al periódico Portafolio, en pocas palabras el criterio de la visita fue: Chile por su éxito económico, Brasil por su peso geoestratégico, y El Salvador por los desafíos que supone el crimen organizado para la región.


El chileno Sebastián Piñera es un mandatario de derecha y presuntamente tiene un estilo ágil, como demostró con el rescate de los mineros, e interesa a los Estados Unidos establecer un nuevo aliado en Sudamerica, tan confiable cuanto Colombia. La antigua reclamación de Colombia por la aprobación de un Tratado de Libre Comercio, algo que Obama aún no tiene seriamente en su agenda, puede haber retirado el país de la ruta de visitas.


EN EL SALVADOR

Mauricio Funes, abiertamente un “seguidor” del modelo político del ex – presidente brasileño, Lula da Silva, y del PT, se mueve en una política bastante centrista y rotulada de pragmática, no raramente en conflicto con su proprio partido, el FMLN, organización ex – guerrillera transformada en partido político institucional después de los Acuerdos de Paz de 1992, con el fin de la guerra civil salvadoreña. Las preocupaciones en Washington sobre el alarmante nivel de inseguridad en Centroamérica han crecido mucho y la visita a El Salvador puede ser entendida como un apoyo al gobierno que está buscando combatir el problema. Según estadísticas de la Policía Nacional Civil salvadoreña, entre los meses de enero y octubre del año pasado, 3.367 personas fueron asesinadas en el país que tiene una media de 12 asesinatos diarios en una población de menos de seis millones de personas.


Además, es sabido que El Salvador cuenta con uno de los índices más altos de inmigración, particularmente a los Estados Unidos, y sus ciudadanos deben parar de abandonar su país en busca de oportunidades y poner en riesgo sus vidas al cruzar Guatemala y México, donde enfrentan atrocidades y abusos a los derechos.


Como marco previo a la visita Obama a El Salvador el gobierno de Estados Unidos discute la incorporación del país al plan Partnership to Grow , un programa de la Casa Blanca para impulsar el crecimiento económico en varios países que enfrentan estabilidad política pero fuerte estancamiento en su economía. En Centroamérica, El Salvador es el país que menos ha crecido en los últimos años y fue el más golpeado por la crisis mundial de 2008. En 2010, el crecimiento de América Latina fue de 6%; mientras que en Centroamérica el desempeño fue más modesto (3.5%), según la Comisión Económica para América Latina y el Caribe de la ONU (CEPAL).


EN BRASIL

Brasil sigue ganando peso económico en la escena mundial, tiene su propia agenda diplomática y comercial y pretende asumir el rol de vocero del G20. El canciller brasileño, Antonio Patriota, ya declaró que los ejes de la política exterior del país no deberán cambiar radicalmente en el nuevo gobierno, de la presidenta Dilma Roussef, también del PT.


Pero la Casa Blanca apuesta en un nuevo acercamiento a Brasil a través de Roussef debido también al presunto mayor pragmatismo de la presidenta. Hay temas que unen irremediablemente a Washington y Brasilia, como el interés por las energías renovables y es posible que Obama haga público su interés en las nuevas reservas del petróleo brasileño.


Los Estados Unidos también quieren recuperar posiciones de los inversores del país en Brasil, que actualmente tiene China como su principal socio comercial. Brasil y Estados Unidos deberán firmar por lo menos diez acuerdos bilaterales, incluyendo los que tratan de ablandar barreras sanitarias para comercialización de carne y de frutas.

Friday 18 February 2011

Welcome to Recife!



Olhando para a pequena feridinha na parte interna dos dois pés, resultado do uso inexperiente de sandálias novas de couro, duro, de bode, eu vou assimilando, sob a água quase morna do mar, numa ampla e típica paisagem de praia com palmeiras, que estou de volta, por enquanto – o mundo é grande e nunca se sabe – ao Brasil. E não em qualquer época, senão no verão, pré-carnaval; e não em qualquer lugar, senão nos próprios trópicos, no Nordeste, onde, por enquanto de novo, estarei.


Hoje alcancei aquele vermelhão, mesmo com essa cútis salvadorenha que deus me deu, de quem abusa, negligenciadamente ou não, do sol. Não se trata só de se expor ao maçarico que se acende tão forte no céu já às 7h da manhã como se fosse meio-dia num cenário clichê de areia com água de coco; apenas ao locomover-se pelas ruas do centro em qualquer hora do dia em que ele reina, impassível, já se pode obter “lesões”. E vez em quando chove como em qualquer trópico, em grandes pancadas, como em El Salvador, por vezes demasiadamente grandes.


Com uma semana de chegado, eu olho para minhas novas e necessárias sandálias – o uso de sapatos fechados nesse calor é quase uma espécie de penitência – que aliás já tive que levar de volta à banca da dona Teresa no Mercado São José para que se arrume uma sola mal-colada, como olho para as placas de aviso de risco de ataque de tubarão ao longo de toda a praia de Boa Viagem, como lembrei da música do Lenine ao ver a Torre Malakof, como escuto todas as variações rítmicas dos sotaques de “S” aspirado em meio de palavra, de vogais abertas e de apagamento do “R” no final de vocábulo: um novo mundo lingüístico. E de aventuras maritimas...



De Porto Alegre a Recife são quase 3.100km de distância, um vôo sem escalas teria quase cinco horas de duração – esse país também é grande. Mas mesmo nessa lonjura ainda encontro um Seu José Augusto, segundo ele quando recém tinha cumprido 80 anos, cantando “Coração de Luto” em pleno Recife Antigo, fazendo uma inusitada interrupção do “Forró de um real” que animava um barzinho depois que a Orquestra de Frevo do Recife havia terminado seu ensaio no palco ao lado. Sim, isso mesmo, o grande clássico de Teixerinha, aquele que está para o RS como Luiz Gonzaga está para PE, sendo cantado aleatoriamente por um senhorzinho do Sertão, de chapéu de couro e sem dente, assegurando quando fui conversar com ele que era amigo de Teixerinha, quando esse passou por essas bandas. E tão amigo que ele, como vários outros compositores ludibriados que parecem existir em Recife, deixou a música, que teria originalmente sido de sua autoria, para o gaúcho gravar... Tenho aprendido que em Recife compositores assim são tão comuns quanto Produtores Culturais em Olinda, a famosa cidade histórica-colonial das ladeiras ao lado da capital pernambucana – tem pra todo lado, todos os bolsos, todas histórias.


Claro que também já comi tapioca, pra mim um deleite gastronômico regional quando consumida com café, que se encontra com facilidade em carrinhos nas esquinas, embora em geral tenha que solicitar que amigos locais façam o pedido, com receio de ser cobrado mais do que deveria, o que parecer ser uma prática comum aqui e sofrida por forasteiros. Outro dia na praia o “caba” quis me cobrar três reais por uma garrafinha de 500 ml de água! E sem gás! Assim vamos, aprendendo as minúcias, como um estrangeiro no meu próprio país; “Paciência, que o mundo é assim mermo!”, como expressou o senhor que puxava um carrinho de papelão tentando cruzar uma rua, no meu primeiro dia aqui.


E o ritual do consumo do caranguejo, ou guaiamum, que também já pude presenciar (até que tentei comer também...), merece um capítulo a parte – peculiar observação antropológica que vou registrar em foto, como um bom forasteiro impertinente, nesse universo de incertezas tropicais.

Monday 14 February 2011

Pernambucobucolismo


Sorry all, this post will not accept comments.

Lyrics in English are below.
.




http://lyricstranslate.com

I will make...
...a movement/revolution, my love.
A song to invent our love.

I will make ...
...a revolution

I'm going to London, I'm departing to far away
I know I'm going to...
... a place where the moonlight,...
... there's not a similar by here.
Like this place/land right here,...
..., there doesn't exist any place else

I feel bucolism
I feel bucolism

Bucolism for Pernambuco
Bucolism for Pernambuco
Bucolism for Pernambuco



Friday 11 February 2011

Textos curtos para Ítaca XIII

Much rush, changes, travelling, re-adaptation and inner perceptions have lately prevented me from keep this blog up-to-date. It may not be a coincidence I am writing this post in English .

The text below was written by me last October and was published originally in a zine edited by a friend in London, “Climb the Wall”(# 3). It may have references which are appropriate in the current period.



Escape or construction? Oh, dear human condition.


This is our history:


all these elements and moments of dislocation,


our hypes on a project of cultural reclamation,


and now this post- post 21st century way of living,


coping to the aspiration of a world citizenship while asserting particular social identities.


The movement from the homeland was occasioned by: comfort, fulfilment, an abuse of the concept of freedom.


And despite the pretentious privileged perspective, beyond the supposedly critical insights - “achievements are undermined by the loss of something left behind”.[1]


At the end of the journey, the grim reality: “stand at the gates as a stranger and outsider.”[2]


Alienated, having no place they can actually call theirs: “we are in London as though we were not at all”.[3]




[1] Edward Said, on “Reflections on Exile”

[2] Oyeniyi Okunoye, on “A song of Exile”

[3] Odia Ofeimum, on “Lagoon”