Saturday, 2 October 2010

Às urnas! Mas, definitivamente, já temos PRESIDENTA

Dilma Roussef será a primeira mulher na presidência do Brasil. No primeiro turno será sua vitória nas eleiçoes de amanha. Sim, está consumado. Todos nós brasileiros já sabemos.


Não fiz deste blog um espaço de opinião sobre as eleições gerais brasileiras porque já há mais do que suficiente gente tratando do tema na mídia e na internet de todo o mundo. Mas na véspera da votação, da qual eu também participarei desde aqui de Londres, faço minha nota.


Lula, pese todos os pesares, é de fato um fenômeno. Conseguiu definitivamente ser maior que o PT, conseguiu entrar definitivamente para a história não só nacional como mundial, conseguiu definitivamente transferir sua popularidade para a “tecnocrata sem-graça” (de acordo com a revista The Economist -UK desta semana) que era a Dilma e a mulher será a primeira presidenta brasileira. Todo mundo sabia que o desafio do Lula (e do PT neste caso) era esse: transferir sua popularidade para seu candidato sucessor. Lembro de conversar sobre isso em El Salvador, em 2008, quando me perguntavam sobre o que passaria no Brasil depois da Era Lula. E ai está.


Agora, também é digno de nota o editorial do site Carta Maior do dia 29 de setembro sobre as últimas horas antes da eleição no qual faço breves comentários sobre alguns trechos selecionados:


Objetivamente, o conservadorismo nativo não tem nenhuma proposta, nenhum projeto capaz de mobilizar uma virada estatisticamente colossal, que envolveria a migração oito milhões de votos.


Resta-lhe, porém, uma endogamia publicitária apoiada em duas frentes, cujo desfrute mútuo produz efeitos não subestimáveis; a saber:

I) soterrar os avanços sociais e econômicos dos últimos oito anos num 'mar de lama' cenográfico, anabolizado pelo dispositivo midiático até o dia da votação;


É fato. Única estratégia mais ou menos viável para uma oposição perdida e sem projeto. Mas deslegitimar um fenômeno mundial, Lula, não é fácil. O cara pode ser inclusive o primeiro brasileiro a ganhar um prêmio Nobel!


Tentou- se tanto por ai que a coisa atingiu níveis incríveis: a grande mídia brasileira abriu seu voto, revelou suas posições, deixou de lado o discurso hipócrita da imparcialidade. A Folha de São Paulo e o Estadao fizeram história com seus editorias de setembro abrindo voto para José Serra e criticando o PT.


II) usar --o termo é tristemente esse-- 'usar' Marina Silva como glacê verde do udenismo lacerdista, emprestando-lhe um frescor de photoshop que a direita nunca teve neste país e Serra, naturalmente, foi incapaz de suprir.


Sim, a aliança de forças pró-Dilma também inclui remanescentes da direita e centro direita abrigados em partidos aliados. A diferença na história é sempre quem detém a hegemonia do processo.


Do lado de Dilma, em última instancia, são os sindicatos operários e os movimentos sociais que concentram uma capacidade de mobilização capaz de fazer a diferença no prato da balança política."


Tchê, essa é difícil. Tá certo que a Carta Maior é pró-governo. Agora, o PT, companheiros e companheiras, tem como “diferença no prato da balança política”, não a generalidade dos movimentos sociais do país. Os combativos não esta lá porque não toleram alianças com gentes ou forças políticas degradantes como José Sarney, Renan Calheiros e Fernando Collor.


Ok, Lula é um fenômeno, bla-bla-bla. Mas a falta de escrúpulos petistas em nome da famigerada governabilidade – palavra que esteve tão na moda logo antes da primeira eleição do Lula – atingiu níveis inacreditáveis.


A esquerda brasileira ainda terá muita estrada pela frente até se entender, até encontrar o sentido profundo do "lulismo" no espectro político e saber o que fazer com ele. Há várias reinvenções políticas em curso no mundo e o Brasil faz parte dos papeis principais nesse jogo. No dizer do filósofo Slavoj Zizek, “o espaço da sociedade como conhecemos está para terminar e é tempo para interpretações mais radicais”. Isso, também definitivamente, se aplica ao Brasil e a esquerda nacional.

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