Friday, 29 October 2010

Meu primeiro voto, ou corra coelho de Alice!




Meu primeiro voto, no exterior. Nesta eleição votei pela primeira vez em eleições gerais democráticas brasileiras aqui em Londres. Votei no Plínio no primeiro turno, que aqui na capital da ilha teve apenas 33 votos. Agora, no segundo turno, vou votar na Dilma.


Em 2006 consegui evitar esse dilema. Não estava na Inglaterra na época das eleições e, paradoxalmente, estando no próprio Brasil, não pude votar. Isso não foi um problema, senão uma espécie de alivio, pois não estava interessado na época, ainda sob a ressaca pós-implosao do PT – acostumado que era a militância partidária ideológica – em votar nem no PT nem no PSOL e nem anular. Mas dessa vez não apenas queria votar, como também abro meu voto.


Claro que minhas opções rondavam esse espectro. Sim, sou de esquerda ou/e socialista. E, sim, ainda usamos esses termos. Ainda tentamos traçar a linha que divide a esquerda e a direita, ideologias, projetos.


Hoje a retórica da suposta esquerda crítica, tão dividida, diz: “Derrotar a direita é o consenso”. Mas não por acaso tantos de nós nos perguntamos quem é a direita. É verdade, e qualquer brasileiro de senso crítico percebe, que essa linha, quando colocada na relação PT/PSDB, está cada vez mais tênue.


Não é segredo afirmar, nem mesmo as vésperas da eleição, que o PT se desfigurou a tal ponto que passou a ser confundido com o próprio PSDB. É obviamente legitima a critica da esquerda de que o PT, enquanto partido e logo depois como governo, optou por uma mudança de estratégia e aproximou-se da social-democracia; conceito da ciência política que, paradoxalmente, é o nome ao próprio PSDB.


Do outro lado, porem, o PSDB, quando recém-nascido do PMDB propondo o reformismo tradicional, acabou por perder o seu próprio programa político originario e encarnou-se com a ultra-direita brasileira: dos neoliberais aos fascistas.


E hoje o PT e seus milhares de intelectuais e analistas políticos e/ou seguidores insistem em colocar o partido no espectro da esquerda. Contudo, perguntas basicas inevitáveis (e apenas as relacionadas ao contexto eleitoral...) : E a troca de afagos e elogios a José Sarney? (quais são os limites do absurdo?!) E a alegria saltitante de Collor de Mello indo votar com adesivo do PT?(meu deus , que vergonha!)


Em resumo, para muito da nossa modernidade intelectual, eis a prova da nossa maturidade política e consolidação da democracia: as louvações ao pragmatismo. Sim, é a prova Matrix, a pílula azul ou a vermelha. Não há saída. Corra coelho de Alice! porque mesmo que a morte seja certa é melhor morrer tentando do que esperar resignada e assustadamente o famigerado resultado. Ou não? Ou é melhor jogar-se com luxuria aos intensos últimos momentos?


NÃO É SONHO MAS É MELHOR QUE PESADELO


É aí que a outra retórica eleitoral da esquerda faz sentido: “A Dilma não é o governo dos nossos sonhos, mas Serra é o governo dos nossos pesadelos”.


Sim, acredito nisso. Serra representa um assustador retrocesso, e Dilma não representa o que esperamos de compromissos sociais e construção socialista. Mas não pela diferença “óbvia” e imaculada entre um e o outro. Por mais malabarismos que a intelectualidade da “esquerda” brasileira tente fazer para estabelecer o bem e o mal (leia-se, respectivamente, PT e PSDB) o PT, há muito tempo, entrou definitivamente, em termos de política partidária, para a vala dos comuns: fisiologismos, corrupções, maniqueísmos. Ou, em outra palavra atualmente mais digerível, o tal do pragmatismo – a única maneira de se fazer política séria na visão desses obcecados com a governabilidade (palavra, aliás, tão na moda quando o PT decidiu radicalizar em direção a centro-direita e aliou-se com o PL na eleição de 2002).


Eis o dilema: partidariamente, o PT está morto. Como governo - impulsando um projeto de nação e de estado - o PT ressuscitou o Brasil.


E agora eis a pergunta, a velha de sempre, o que é que queremos? O Brasil foi ressuscitado como? Com consolidação democrática? Mas de que democracia estamos falando?


Com crescimento econômico? Mas qual é nossa idéia e/ou desejo de desenvolvimento?


Com redução da pobreza? Mas só o que queremos é um lugar ao sol no pátio do capitalismo ou queremos reinventar a vida?


A oportunidade de um futuro coletivo? Mas qual é nosso projeto para ele? O “direito” dos pobres a seguir a classe média e mofar horas enjaulados em seus automóveis, todos os dias? Casas para todos, mesmo que em regiões remotas das metrópoles, onde a natureza foi agredida e a mobilidade é quase nula?


Por enquanto é isso realmente. Quero, como todo brasileiro de bom-senso, que a pobreza siga caindo em quase 40%, e que isso permita a ascensão social de mais de 30 milhões de pessoas; que isso, por conseqüência, ative o mercado interno e que esse ciclo permita aumentar o orçamento da educação em mais de 120% para criar 15 novas universidades federais e expandir 42, além de mais de 200 escolas técnicas.


Esse mérito, como governo capitalista, o PT tem: permite acesso a educação que faz com que milhões de cidadãos, outrora excluídos da vida civil plena, se vejam como detentores de direitos e passem a exigir do Estado, em lugar de aceitar clientelismos.


O Brasil hoje, e morando fora percebemos muito bem isso, é um país que orgulha seus nacionais, porque além do trinômio estereótipo samba-praia-futebol há também um Estado sério em construção, que é ator principal nos principais tabuleiros internacionais, que vagarosa mas firmemente se impõe como Estado soberano e não apenas peça geopolítica manipulada pelas tradicionais potências do Norte ao bel prazer de interesses estratégicos estrangeiros. O Brasil hoje tem a sua própria estratégia.


Nesse sentido, uma teoria do Tarso Genro (hoje governador eleito do RS no primeiro turno) muito criticada pela suposta esquerda petista, no final dos anos 90, faz sentido : “inserção soberana no mundo globalizado”. É fato. O Brasil se insere e é ouvido. Mas não queremos apenas jogar, queremos também decidir as regras.


Ciclos de criação de direitos sociais como demonstra o retrocesso brutal que a Europa atravessa, podem ser interrompidos e não se mantém sem a mobilização social que garanta sua expansão.


Por isso que hoje é tempo de um posicionamento. A vitória do PT é determinante para que o debate alcance outra natureza: reivindicar, exigir, construir. Não será num melancólico PSDB e com uma frustrada turba de elites recalcadas no poder que se poderá ter esse nível de fazer política.


Dilma, a primeira presidenta do Brasil, deverá sinalizar à esquerda qual o propósito do PT no governo, pois dessa vez estará sob pena de romper de vez com qualquer laço de solidariedade com a esquerda e tornar-se um partido não apenas meramente institucional como execrável. Por outro lado, a própria esquerda precisará realizar uma severa autocrítica e, definitivamente, deixar de lado os sectarismos de toda ordem para poder pautar contraponto ao reformismo petista e aos limites da democracia formal burguesa.


E que nas próximas eleições, eu vote em casa, ainda mais orgulhoso por haver voltado ao lar.

Saturday, 23 October 2010

Textos curtos para Ítaca VIII

Um futuro-presente projeto literário. “Textos curtos para Ítaca” é a primeira materialização de uma das várias e extensas idéias em literatura, essencialmente em prosa, mas com flertes em verso, colecionadas ao longo da jornada até Ítaca. Em fato, os projetos para contos e novelas e outras literaturas de longo fôlego, ainda estão em fase sketch, talvez nem maquete, e irão tomando forma ao ritmo das circunstâncias, que sim, podem tardar como já tardam, mas ainda virão. Enquanto isso, num dia e momento aleatório, curiosamente com menos atraso, vão tendo agenda as mini-experiências em poesia e verso, do qual, lenta e despretensiosamente, faço um laboratório neste blog (único espaço onde o critério editorial é totalmente meu... ). Algum dia também ganharão forma impressa, sempre ao ritmo das possibilidades e, no dizer de Konstantinos Kavafis, do rogar por uma rota longa. Mas em textos curtos.


Aliterações Rodrigueanas


Dorotéia, hiena,


restricela.


Responde, conterrânea,


à Crista e Calista,


à romana Capadócia


repica,


dileta herege


renegada, rasteja


rameira comedida,


restricela.


*Aliterações são repetições da mesma consoante ao longo do poema. O leitor deve buscar seu efeito em função da significação no texto.


**Dorotéia são duas:


- uma santa católica, virgem e mártir, conhecida como a santa das flores, que ao converter duas prostitutas condenou-as à morte.


- uma das peças menos conhecidas de Nelson Rodrigues e foi raramente encenada, segundo o crítico Anchyses Jobim Lopes. Trata-se possivelmente da obra mais controversa de todo o polêmico repertório dramático rodrigueano. O texto começa:


"Casa de três viúvas - d. Flávia, Carmelita e Maura. Todas de luto, num vestido longo e castíssimo, que esconde qualquer curva feminina. De rosto erguido, hieráticas, conservam-se em obstinada vigília, através dos anos. Cada uma das três jamais dormiu, para jamais sonhar. Sabem que, no sonho, rompem volúpias secretas e abomináveis.

Ao fundo, também de pé, a adolescente Maria das Dores, a quem chamam por costume, de abreviação, Das Dores. d. Flávia, Carmelita e Maura são primas.

Batem na porta. Sobressalto das viúvas. D. Flávia vai atender; as três mulheres e Das Dores usam máscaras."


Chega outra prima - Dorotéia - que em contraste com a soturna castidade das mulheres de luto veste-se de vermelho, como as profissionais do amor e não usa máscara. Dorotéia define-se como um ser extremo, de contrastes brutais.

Sunday, 17 October 2010

Nombres para no olvidar

Desde el final de la guerra civil en El Salvador (1980-1992), diversas organizaciones de la sociedad civil del país mantuvieron su exigencia por verdad, justicia y reparación como requisito imprescindible para la construcción de un verdadero Estado de Derecho.


Hasta la fecha, ante el incumplimiento del Estado en atender recomendaciones de la Comisión de la Verdad de la ONU, fueran estas organizaciones de promoción y defensa de los Derechos Humanos que impulsaron la mayoría de las acciones de memoria histórica.


Fue la sociedad civil, encarnada en diferentes instituciones, que construyó el monumento a las víctimas del conflicto (como parte de las reparaciones morales) “Monumento a la Memoria y a la Verdad” en un parque céntrico de la capital salvadoreña, el parque Cuzcatlan.


El monumento fue un paso notable hacia la dignificación de las víctimas de la primera fase (la guerra) del delirio salvadoreño (hoy se vive la violencia urbana como segunda fase).


Un muro de 85 metros de granito negro con más de 30 mil nombres de desaparecidos y víctimas civiles, acompañado del mural del artista plástico Julio Reyes (es la imagen que ilustra la portada de este blog y la foto fue sacada por mi) conforma “un espacio para la esperanza, para seguir soñando y construir una sociedad más justa, humana e equitativa”, como dice el texto en el muro.


La iniciativa fue inaugurada en 2003 y el documental abajo, en dos partes disponible en YouTube, recientemente lanzado, cuenta la historia del monumento.






Friday, 15 October 2010

Novo artigo meu na Caros Amigos

Massacre de Tamaulipas: imigrantes que não importam

Este texto foi escrito originalmente por mim em espanhol e foi publicado no website da revista eletrônica Panoramica Social, da Espanha, no final do mês passado.

Agora a versão em português desse artigo sobre assunto de tamanha relevância foi publicado pela Caros Amigos.

Minha prévia contribuição deste ano para a notória revista foi em fevereiro, sobre a petulante e inegociavel posição britânica sobre as Malvinas e a arrogância de alguns setores da classe política aqui desta ilha. O texto está aqui e na seleção de textos disponiveis neste blog, na lista ao lado.

Neste novo texto, sobre o indignante massacre de imigrantes no Mexico, abordo a negligência das autoridades mexicanas e centro-americas ante o conhecido problema e a falta de entendimento do Brasil sobre o tema, mesmo havendo cidadãos brasileiros entre as vitimas e sendo a Imigração uma realidade também do pais.

Acesse o texto diretamente no site da Caros Amigos aqui.

Tuesday, 12 October 2010

FMLN: 30 años de luchas y victorias



El Frente Farabundo Martí Liberación Nacional (FMLN), hoy el principal partido político de El Salvador, cumplió 30 años este mes. El FMLN gobierna el país por primera vez desde el año pasado luego de una historica victoria electoral.


El FMLN es resultado de la unificación de cuatro organizaciones político militares que estaban en actividad revolucionaria en El Salvador desde finales de los 60 y –junto con el Partido Comunista Salvadoreño ( cuyos orígenes se remontan a los años 30)— conformaran finalmente un Frente en octubre de 1980. Este, como ejército insurgente, será uno de los protagonistas principales de la guerra civil de 1981-1982.


Cuando el FMLN fue fundado para, a partir de entonces, cambiar (para bien o para mal) El Salvador, yo tenía apenas meses de vida, pero la historia de la organización siempre me fascinó.


El FMLN es un marco en la historia política latinoamericana. En los años 80 probó que la insurgencia del pueblo organizado fue capaz desafiar militarmente al ejército gubernamental entrenado y financiado por el gobierno de Estados Unidos. Después de los Acuerdos de Paz de 1992 demostró ser capaz de dejar las armas y llegar la estabilidad como partido político institucional.


Según el sociólogo salvadoreño, Luiz Armando González “en el tránsito de las organizaciones político militares al FMLN ejército hubo más de continuidad que de ruptura; en el tránsito del FMLN ejército al FMLN partido político hubo más de ruptura que de continuidad. Y es que este último tránsito fue, en ciertos momentos, traumático” (articulo publicado en ContraPunto).


La organización llevó casi una década para lograr concluir su institucionalización, destituir su ejército, destruir sus armas, cambiar sus estructuras, aprender a hacer política partidaria y no apenas la lucha revolucionaria. “Pero el FMLN no sólo se consolidó partidariamente, sino que maduró lo suficiente como posicionarse como una alternativa real de poder ante ARENA”, opina González.


Hoy el FMLN tiene 30 años y con Mauricio Funes en la presidencia y Sanchez Ceren como vice (el único líder histórico que queda en el FMLN de la ex Comandancia General Revolucionaria) es el partido que en marzo de 2009 ganó las elecciones generales salvadoreñas y, por primera vez, gobierna El Salvador.


Viva Farabundo Martí, Viva Schafik Handal, Viva el FMLN, Viva El Salvador

Monday, 11 October 2010

"Tangled Up in Blue" Wins Best Film Award in Milan



Haider Rashid é um jovem, bastante jovem, italiano-iraquiano, talentoso e estreante cineasta a quem pude conhecer e me tornar amigo através da sua assídua freqüência e amizade com os demais artistas moradores dessa casa onde residimos no Noroeste de Londres.

Acabo de entrevistar-lo para uma matéria especial para o jornal Brasil de Fato que deverá ser publicada em novembro. Seu primeiro filme longa-metragem “Tangled up in Blue” vem colecionando títulos em festivais internacionais independentes e de médio porte e reconhecimento do público e da crítica. Premiado previamente nos festivais de Seul e em Dubai, o trabalho acaba de ganhar também no I've Seen Films International Film Festival, em Milão.


Sinopse oficial: (se você não lê inglês, aguarde matéria completa no Brasil de Fato)


"Filmed in and around the streets of London, this award winning cosmopolitan drama, depicts the son of a world renowned Iraqi writer facing the aftermath of his father's assassination in Baghdad, his moral dilemma about the publishing of a book he has been writing for five years and his unrequited love for his best friend."


Tangled Up in Blue será exibido em Londres entre os dias 27 e 31 de outubro. Informações no websiste Shortwave Cinema.


O filme deverá também ser exibido no Brasil a partir de novembro.


O video abaixo é o clip da equipe durante a premiaçao em Milao.






Saturday, 9 October 2010

Nobel para Llosa, Tributo a Salarrué

El escritor y destacado intelectual peruano Mario Vargas Llosa obtuvo el pasado jueves, al fin y a los 74 años, el premio para el que fue eterno candidato año tras año desde la década de 1980.


El premio Nobel de Literatura fue galardonado por la sexta vez en la historia a un latinoamericano

.

Llosa es un novelista formidable, y como tal merece felicitaciones, pero también un gran polemista político, que merece las críticas recibidas a lo largo de su historia.


El peruano tuvo un gradual paso de izquierda hacia un capitalismo de libre mercado con un credo entusiasta, ortodoxa y militantemente liberal.


Esas posiciones lo han puesto en desacuerdo con gran parte de la élite de intelectuales del hemisferio.


Nacido en la ciudad andina de Arequipa en una familia de clase media, fue miembro de una célula clandestina del Partido Comunista de Perú y que admiró y defendió la Revolución Cubana.


La ruptura se produjo en la década de 1970. En medio del despegue del "boom", dejó atrás "todo lo que significa dogma y exclusivismo ideológico". Criticó a Cuba, consideró al socialismo enemigo de la libertad y se apegó a ideas liberales de derecha.


Vargas Llosa ha peleado con el presidente venezolano Hugo Chávez y a menudo critica al mandatario cubano Fidel Castro.


En un famoso incidente en 1976 en la ciudad de México, Vargas Llosa le dio un puñetazo a su otrora amigo Gabriel García Márquez. Se dice que ambos no se han hablado en décadas. No hubo reacción al premio por parte de Gabo.


Vargas Llosa es ganador de premios como el Cervantes, el Príncipe de Asturias, y doctor Honoris Causa de universidades americanas, asiáticas y europeas. En su vitrina ya no falta ahora también el Nobel


El escritor dijo que el galardón es para la lengua en la que él escribe y para la región de la que procede.


De hecho, nunca un no hispanohablante ha ganado el codiciado premio.


En la corta lista de los “Nobeles” del continente, están:


Mario Vargas Llosa (Perú, 2010)

Octavio Paz (México, 1990)

Gabriel García Márquez (Colombia, 1982)

Pablo Neruda (Chile, 1971)

Miguel Ángel Asturias (Guatemala, 1967)

Gabriela Mistral (Chile, 1945)


Todos hispanohablantes. Y, si, un centroamericano. El guatemalteco Miguel Ángel Asturias escribió obras indispensables, como “Hombres de Maíz”.


Nunca un brasileño ha ganado un Premio Nobel. Tampoco un salvadoreño.


Pero en esta semana de alegrías para la literatura latinoamericana, hago mi registro de la conquista de Mario Vargas Llosa a través del homenaje a otro escritor del continente entre tantos que merecen reconocimiento.


Particularmente en Brasil, donde el promedio de conocimiento sobre Latinoamérica es casi ridículo, queda esta pista de uno de los monumentos de la literatura latinoamericana.


Cuentos de Barro, de Salarrué, es probablemente el libro más conocido por los lectores salvadoreños, y el que de alguna manera “representa” las letras de El Salvador en numerosas antologías de literatura latinoamericana.


Salarrué, supremo habitante del gran libro del trópico, cuyo centenario de nacimiento se conmemoró en 1999, merece dimensión universal para la que siempre estuvo señalado.



Tranquera

"Como el alfarero de Ilobasco modela sus muñecos de barro: sus viejos de cabeza temblona, sus jarritos, sus molenderas, sus gallos de pitiyo, sus chivos de patas de clavo, sus indios cacaxteros y en fin, sus batidores panzudos; así con las manos untadas de realismo; con toscas manotadas y uno que otro sobón rítimico, he modelado mis Cuentos de Barro.

Después de la hornada, los más rebeldes salieron con pedazos un tanto crudos; uno que otro se descantilló, éste salió medio rajado y aquél boliado dialtiro; dos o trés se hicieron chingastes. Pobrecitos de mis cuentos de barro… Nada son entre los miles de cuentos bellos que brotan día a día; por no estar hechos en torno , van deformes, toscos, viciados; porque, ¿qué saben los nervios de línea pura, de curva armónica? ¿Qué sabe el rojizo tinte de la tierra quemada, lakas y barnices?; y el palito rayador, ¿qué sabe de las habilidades del buril?...

Pero del barro del alma están hechos; y donde se sacó el material un hoyito queda, que los inviernos interiores han llenado de melancolía. Un vacío queda allí donde arrancamos para dar, y ese vacío sangra satisfacción y buena voluntad.

Allí van esa hornada de cuenteretes, medio crudos por falta de leña: el sol se encargará de irlos tostando."

Thursday, 7 October 2010

Textos curtos para Ítaca VII

Um futuro-presente projeto literário. “Textos curtos para Ítaca” é a primeira materialização de uma das várias e extensas idéias em literatura, essencialmente em prosa, mas com flertes em verso, colecionadas ao longo da jornada até Ítaca. Em fato, os projetos para contos e novelas e outras literaturas de longo fôlego, ainda estão em fase sketch, talvez nem maquete, e irão tomando forma ao ritmo das circunstancias, que sim, podem tardar como já tardam, mas ainda virão. Enquanto isso, num dia e momento aleatório, curiosamente com menos atraso, vão tendo agenda as mini-experiências em poesia e verso, do qual, lenta e despretensiosamente, faço um laboratório neste blog (único espaço onde o critério editorial é totalmente meu... ). Algum dia também ganharão forma impressa, sempre ao ritmo das possibilidades e, no dizer de Konstantinos Kavafis, do rogar por uma rota longa. Mas em textos curtos.


No portão


Nenhum caminhão de cana nos matará.


Viveremos, sob o sol,


mesmo que não dances


nem com sanfoneiro


nem no casamento


nem por ordem do coronel.


Trocaremos todas as luzes por um único clarão.


Pois não te vejo quando as lâmpadas se acendem.


Só se é natural,


só se é abrasante, entre


cachos, tulipas, comandantes,


teorias construtivistas,


dialéticas materialistas,


eu primeiro, ao centro, ao léu.


“Saudaditu”,


e dos teus pronomes pessoais estranhamente precedidos de preposição.


Mas nenhum dos teus diminutivos


reduzirá a importância desse filme


no nosso parque que se chama Hernández


Minha paciência é teatro, tua calma é o céu


quando juras, urras, lacrimejas; incitas aos nômades, anuncias:


Tens nome de república.

Wednesday, 6 October 2010

O Vermelho e o Verde

"Agora, quando o resultado das eleições de 3 de outubro está emergindo em seu conjunto, já é possível fazer balanços mais abrangentes, menos enevoados por manipulações da mídia ou expectativas frustradas. Distinguem-se, no panorama que se abre, duas tendências consolidadas: as “ondas” vermelha e verde.


A ONDA VERMELHA


A “onda vermelha” veio antes, cronologicamente. Atingiu seu ápice em meados de setembro, recuando em parte nas três semanas anteriores às urnas. Significou um vasto desafio a alguns dos fatores que marcam a submissão social no Brasil, no passado e no presente. Entusiasmadas pelo tímido – porém inédito – movimento de redistribuição de riqueza ensaiado no governo Lula, as maiorias questionaram o poder dos coronéis (locais e regionais); a ditadura da mídia piramidal (inclusive a TV Globo); a influência dos “formadores de opinião” da classe média conservadora; a força dos velhos preconceitos econômicos, segundo os quais investimento público é sinônimo de “gastança”.


Os efeitos deste grande movimento são generalizados. Na disputa presidencial, a diferença entre PT e PSDB – os partidos que expressam, no imaginário popular, democratização e elitismo – alargou-se de 7 pontos percentuais, no primeiro turno de 2006, para 14,3 agora. No plano estadual, o PT obteve vitórias emblemáticas no Rio Grande do Sul e, quase certamente, Distrito Federal. Tanto no Senado quanto na Câmara os partidos que compõem a base de Dilma ultrapassaram os 60% necessários para mudanças constitucionais.


No Senado, aliás, o DEM, melhor expressão da velha direita, viu sua bancada eleita em 2002 reduzir-se de 14 integrantes para apenas dois, agora; enquanto a do PSDB encolheu de 8 para 5. PSOL e PCdoB, que não haviam elegido senadores em 2002, têm agora, respectivamente, dois e um representantes. A casa ficou livre, além disso, de alguns ícones sagrados do conservadorismo, como Tasso Jereissati (PSDB-CE), Arthur Virgílio (PSDB-AM), Marco Maciel (DEM-PE) e Heráclito Fortes (DEM-PI). Na Câmara dos Deputados também houve guinada à esquerda, embora menos pronunciada.


A ONDA VERDE


Já a “onda verde” formou-se na reta final da campanha. Em menos de vinte dias, Marina Silva (PT) passou de cerca de 12% das intenções de voto para 19,3%, no cômputo final. É o triplo do percentual (6,85%) alcançado por Heloísa Helena no primeiro turno de 2006, quando a então candidata do PSOL também representou uma espécie de terceira força. Mas a evolução qualitativa é ainda mais importante que a numérica. Heloísa expressava essencialmente uma frustração e um protesto – contra Lula e o PT. Setores da esquerda e (principalmente) da classe média, que idealizavam um governo mais radical (ou mais puro) que o real, descarregaram sua decepção na figura da senadora, amarga e embrabecida.


Reconhece os grandes avanços sociais dos últimos oito anos e o papel democratizador desempenhado pela esquerda histórica. Mas pensa isso não basta. Embora a enxurrada de votos que recebeu nos últimos dias tenha origens diversas e até contraditórias (como se verá adiante), o sentido político e simbólico que deu a sua candidatura é inconteste. Ela sugere que não basta integrar as maiorias nos padrões de produção e consumo do capitalismo, livrando-as da “exclusão”. É possível discutir os sentidos do desenvolvimento.


Afinal, que projetamos, como futuro coletivo? O “direito” dos pobres a seguir a classe média e mofar horas enjaulados em seus automóveis, todos os dias? O aumento indefinido da produção de energia, para que o consumo de latinhas de alumínio continue se expandindo? Casas para todos, mesmo que em regiões remotas das metrópoles, onde a natureza foi agredida e a mobilidade é quase nula? O título de maiores exportadores mundiais de alimentos, às custas de nossas florestas e preservando os latifúndios?


Marina não recebeu, é claro, apenas os votos de quem faz estes questionamentos. Ela foi beneficiada pelos eleitores que a mídia, após uma campanha abjeta e prolongada de calúnias, conseguiu tirar de Dilma – mas não foi capaz de transferir a Serra. Em seu colo caíram, também, as adesões por preconceito: gente amedrontada, nos grotões, por ouvir dizer que a candidata de Lula promove o aborto, é ateia, flerta com seitas satânicas. O PT deveria compreender que são circunstâncias da política institucional. Também ele foi beneficiado, mais de uma vez, por balas perdidas, nas disputas entre seus adversários. Para ficar num único exemplo, basta citar Maria Luíza Fontenelle, primeira prefeita eleita pelo partido numa capital (Fortaleza, 1985). Ela consagrou-se nas urnas também porque o PDS, partido da ditadura que recém-terminara, viu-se incapaz de derrotar Paes de Andrade (do PMDB, inimigo histórico) e preferiu descarregar seus votos na petista.


INCLUSÃO OU REINVENÇÃO?


A emergência tão abrupta da figura política de Marina é mais um sinal de que o Brasil está mudando. Mas ao mesmo tempo em que confirma a potência das políticas de Lula, este fenômeno convida a atualizá-las, para que não se tornem repetitivas e obsoletas. A inclusão social, a criação da “nova classe média”, a “emergência das classes C e D” são reais e benvindas. Mas tende a repetir-se rapidamente, no Brasil, o choque que se deu entre o “welfare state” europeu e seus filhos rebelados de 1968.


Superada a “exclusão”, conquistado um lugar ao sol no pátio do capitalismo, uma nova questão se apresenta. Como continuar reinventando a vida? Certas análises muito recentes, sobre o primeiro turno brasileiro de 2010, tendem a diagnosticar a tendência de parte dos “incluídos” ao conservadorismo.


Vencida a condição de miserável, uma parcela se tornaria refratária às propostas que sugerem novas mudanças: ou por temer regressar à condição anterior ou por querer diferenciar-se da massa dos pobres, que votam à esquerda. Esta seria a razão para Dilma ter obtido, no Nordeste e Norte – as regiões mais beneficiadas pelos programas sociais – dianteira inferior à que se previa.


Para testar esta hipótese, será preciso examinar os resultados das eleições em regiões sociais homogêneas, comparando-os com os de pleitos anteriores. Um exame mais profundo do fenômeno talvez revele um bifurcação em Y. Ultrapassadas as condições de desigualdade mais dramáticas, parte da sociedade pode tender, de fato, ao conservadorismo. Mas um outro setor – especialmente entre a juventude, de todos os extratos sociais – passa a reivindicar mudanças ainda mais profundas.


Ele alegra-se com a superação da miséria, mas isso apenas aguça seu desejo de uma vida nova. A simples exaltação das conquistas alcançadas não o anima. E repele (talvez sem realismo, mas certamente com razão…) os “efeitos colaterais” do que foi obtido. Neste grupo, estão os eleitores que se chocam, por exemplo, com a ausência de uma política ambiental avançada; com a devastação contínua (ainda que decrescente) da Amazônia; com a lentidão da reforma agrária e a conivência com o agronegócio predatório; com a construção de grandes obras sem esclarecimento suficiente de seus impactos ambientais; com o envenenamento e congestão das metrópoles; com as alianças com certos coronéis da política.


Marina seduziu, provavelmente, uma parte importante (talvez majoritária…) deste eleitorado. Ele não se confunde com a ultra-esquerda clássica. Por isso, não optou pelo PSOL (embora tenha, certamente, admirado sua participação irreverente e pedagógica de Plínio Sampaio nos debates). Nem presta atenção ao fato de a candidata do PV ter como vice um empresário cotado na lista Forbes dos bilionários globais; de voar a bordo do jatinho mais luxuoso da campanha; de ter, como assessor econômico, alguém mais neoliberal que o próprio Serra; de ter se filiado a um partido cujo passado é marcado pelo fisiologismo. Muito além da causa ambientalista, este eleitorado vê, no Verde de Marina, o símbolo de uma ideia-base: não basta matar a fome, nem incluir a todos na ordem atual; temos um mundo e um país a inventar.


A existência de uma vasta parcela da sociedade que pensa assim é “algo nunca antes visto na história do Brasil”. Não vem ao caso, neste instante, debater os qualidades e limites da candidata, ou as inconsistências e contradições das forças em que seus planos se apoiaram. O importante, no momento, é perceber que Marina ajudou a expressar um fenômeno que Lula, Dilma e a esquerda que os apoia deveriam festejar, em vez de lamentar. Este setor, que se ampliará cada vez mais à medida em que ficar para trás a fase da mera “inclusão”, será contraponto aos “novos conservadores” e a seu peso imobilizante."


Reprodução de trechos de artigo do jornalista Antonio Martins, ex-editor do Le Monde Diplomatique Brasil, publicado originalmente no site Outra Palavras. Os negritos e os subtitulos saó meus.