Num período de asserções e acepções, nada melhor que a chance pra uma catarse.
Melhor ainda quando não é programado, quando ocorre como uma das sempre-possiveis-surpresas que morar em Londres às vezes proporciona.
Ultimamente os dias já não tem sido de muita rotina, pra ser honesto, e ontem, entre um bom café da manhã, British Museum, entrevista com Porcas Borboletas, e a normal corrida pra manter o email atualizado, uma ligação de fim de tarde: “Cara, o Sepultura toca daqui a pouco ali no Scala, vamos?”
Sim, o Sepultura. O que melhor que um show do Sepultura para uma catarse e release de más energias? Umas das características clichês de cidades como Londres: aqueles grandes eventos que mobilizam uma cidade “normal” meses antes, que exigem programar-se, aguardar e guardar, em Londres acontece assim, a 15 minutos da tua casa sem que nem fiques sabendo e ainda assim com a chance de ir num aviso de última hora. É clichê talvez, mas indeed f***ing cool!
O Scala, quase na frente da Kings Cross Station, me exige apenas um ônibus, que sai literalmente da esquina. Fosse o show em qualquer outro lugar que demandasse pegar mais de um meio de transporte, mesmo apenas para entrar num metrô, não me moveria. Não tinha certeza se entraria, mesmo que ainda houvesse tickets disponíveis, porque as finanças não andam exatamente boas. Graças a generosidade dos amigos, e uma garrafinha de JD que o Sam tomou sozinho, acabamos entrando.
A primeira e última vez, antes de ontem, que vi o Sepultura ao vivo foi em 2003 ou 2004, no Gigantinho, em Porto Alegre. Tocou também Hellacopters e Deep Purple. Lembro que fomos nas famosas excursões que se organizavam – e suponho que ainda se organizam –da galera metal de Pelotas para ir a este tipo de evento que só se tem acesso quando se mora em Pelotas quando ocorrem na capital do estado, ou em Buenos Aires. POA era sempre a opção mais óbvia, porque claro que para ir a Buenos Aires se gastava muito mais, se tardava mais, era toda “uma mão”. Naquela ocasião, a fila era inacreditavelmente grande, o palco só não estava mais longe do que quando vi o Rush, no estádio do Grêmio (ai sim tava longe do palco...) e a pessoa que foi comigo passou mal na segunda musica do Sepultura e eu tive que nadar no meio da multidão com ela pendurada até a enfermaria, perdendo por tanto as três ou quatro músicas seguintes até que ela se recuperasse. Mesmo assim, eu achei genial!
Ontem, porém, eu estive quase todo o show no meio dos moshing e head-bangings, o suficientemente perto do palco para cumprimentar os caras da banda. Eu, que só escuto Sepultura e assemelhados em festas ou shows ao vivo, suei tanto como no show do Café Tacuba em Barcelona, no ano passado. Mas digamos que uma performance do Sepultura é um pouquinho mais “wild” e acompanhar o ritmo no meio de verdadeiros fàs não foi fácil... Ainda por cima fui com os óculos, que quase perdi três vezes, mas não cai jamais! Amanheci com uma terrível dor no pescoço e nos ombros, mas a única perda, ainda que me incomode porque era um chaveiro especial, foram as chaves de casa.
Ok, eu ando numa fase complexa que não, não é exagero. Mas reconheço que poder assistir no espaço, literalmente, de uma semana (e grátis!) Arnaldo Antunes, Mutantes, Gilberto Gil e Sepultura aliviam a barra. Já dizia, ou pelo menos é atribuído a Rosa: “Quem não se movimenta não sente as cadeias que o prende”.
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