Thursday, 1 March 2012

As "maras" salvadorenhas no Brasil?


Para os muito poucos no Brasil que estudam a América Central, a notícia divulgada hoje é impressionante, quase surreal.


O assassinato do bispo da Igreja Anglicana Robinson Cavalcanti, e de sua esposa, Miriam Cavalcanti, ocorrido esta há dois dias em Olinda, chocou o opinião pública, principalmente aqui do estado de Pernambuco, onde o bispo era uma personalidade conhecida e bem quista. O casal foi assassinado pelo próprio filho, Eduardo Cavalcanti, de 29 anos.


Para além do brutalidade do crime, em que em um ataque de fúria Eduardo matou a facadas seus pais adotivos, o mais curioso e chocante é que o assassino havia chegado há pouco tempo dos Estados Unidos e era parte da Mara Salvatrucha.


Trechos da matéria do Jornal do Commercio do dia 28/02/12:


“Eduardo Cavalcanti, 29, tinha a intenção de matar desde que voltou dos Estados Unidos para o Brasil, há duas semanas.

Ele havia mudado completamente. Do garoto dócil e amoroso, adotado pelo bispo e a esposa ainda criança, pouco restara. Estava com o corpo coberto de tatuagens.

O jovem tem passagens pelos departamentos de polícia das cidades de Plantation e Pembroke Pines, na região de Miami. Nos últimos dois anos, ingressou numa das maiores gangues de imigrantes dos Estados Unidos conhecida como Mara Salvatrucha.

Para ser aceito na facção criminosa, dominada por imigrantes de El Salvador, Eduardo tatuou a parte superior do corpo inteira.

A Mara Salvatrucha é conhecida pela extrema violência de seus integrantes e por dominar o tráfico de drogas em Los Angeles e na Flórida.”


Não é exagero dizer que a violência é uma característica da história salvadorenha, em particular, mas também como toda a centro-americana, em geral.


Dois exemplos: a revolta camponesa de 1932 que foi afogada em sangre de mais de 30 mil mortos, a a maioria indígenas, em apenas dez dias; e o golpe de estado militar organizado em 1954 pela CIA na Guatemala.


Além disso, em El Salvador os anos da guerra civil (1980-1992) deixaram marcas profundas, com um legado de uma violência endêmica alimentada por 400 mil armas de foto que circulam pelo país e comercializas a preços irrisórios. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, El Salvador tem um quadro epidêmico de criminalidade, com uma média de mais de 60 assassinatos para cada 100 mil habitantes anualmente, num país de 6 milhões de habitantes e de 21 mil km2.



O cineasta franco-espanhol, Cristian Poveda, autor do filme “La Vida Loca”, sobre as maras salvadorenhas e assassinado pelas próprias pessoas que retratou logo após o lançamento da obra, em 2009, analisou:


“Consecuencia indirecta de las migraciones provocadas por la guerra civil en El Salvador y la globalización, fue en Los Ángeles donde los jóvenes inmigrantes centroamericanos crearon, a principios de los años 80 del siglo pasado, las dos principales pandillas que se enfrentan hoy día en América Central: la Mara Salvatrucha (MS) y la 18, que tienen cada una su lenguaje codificado, sus ritos, sus tatuajes y, sobre todo, su odio inveterado. No hay diferencia ideológica o religiosa que pueda explicar esta lucha a muerte, cuyo origen, perdido en los bajos fondos de los barrios latinos de Los Ángeles, ha sido olvidado por todos.

Oriundos de América Central, esos adolescentes desorientados, inmigrantes económicos y políticos, desertores del ejército y de la guerrilla, miembros de los escuadrones de la muerte e hijos de los centenares de miles de salvadoreños que huían de la guerra civil, devinieron, en sólo una década, organizaciones criminales estructuradas, jerarquizadas, que para defender sus territorios y negocios, asesinaban a sus enemigos, tanto a los “internos como a los externos”. La primera pandilla centroamericana se llamó Mara Salvatrucha. Pero pronto apareció otra, la temible 18, que sentaba sus reales precisamente en la calle 18, al sur de Los Ángeles”.


É comum a presença de nacionais de outros países que não da América Central nas fileiras das maras?


É a condição de imigrantes ilegais nos Estados Unidos que atrairia mais membros de regiões fora do contexto centro-americano para essas gangs?


Há estudos sobre a presença desses outros nacionais nas maras?


Há mais brasileiros integrando as maras? Estão apenas nos Estados Unidos? Estão também no Brasil?


O Brasil prestará mais atenção a América Central a partir deste episódio, pelo menos em termos de segurança pública e dos significados da transnacionalizaçao das maras?


Questões em aberto e para o debate.

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