Monday 4 April 2011

Filha da Anistia


Filha da Anistia é uma peça séria. E excelente! Tive o prazer de assistir esse belo e pertinente exemplo do teatro brasileiro ontem à noite aqui na capital pernambucana.


Recife é uma das seis capitais do Brasil com o privilégio de receber esse trabalho digno de todos os elogios realizado conjuntamente pelo projeto “Marcas da Memória” – uma iniciativa da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça – e pela Caros Amigos Cia de Teatro. O objetivo principal do Marcas da Memória é estimular práticas que dêem visi­bilidade ao processo de transição brasileiro, a luta pela anistia com foco especial na memória pela perspectivas dos perseguidos políticos.


Um dos grupos de ações do projeto é o Fomento a iniciativas da Sociedade Civil, por meio de Chamadas Públicas, e através disso a Comissão selecionou projetos de preservação, de memória, de divulgação e difusão advindos de Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) e de Entidades Privadas Sem Fins Lucrativos, entre eles, a peça Filha da Anistia. ATENÇAO: todas as apresentaçoes da peça sao gratuitas!


SINOPSE: "Filha da Anistia" conta a história de Clara, uma advogada que procura refazer sua história e esclarecer seu passado, uma jovem que parte em busca do pai que nunca conhecera e acaba descobrindo um passado de mentiras e omissões, forjado durante os anos de chumbo no Brasil. Suas certezas caem por terra diante das descobertas sobre seu passado familiar e sobre um período da história de nosso país que poucos conhecem - e que a maioria prefere esquecer. "Filha da Anistia" provoca no espectador a reflexão sobre esse período, usando como metáfora os desencontros de uma família despedaçada pela ditadura.


A tensão dos diálogos é a própria materialização da violência, fugindo de fórmulas prontas, como cenas de tortura, por exemplo. Todos os artifícios e recursos foram eliminados, e para compor o cenário apenas algumas caixas de papelão foram espalhadas pelo palco, “ilustrando o desnudar dos personagens a cada passo em busca do esclarecimento”, explica o press release da peça.


“O jogo cênico é o mais importante. O confronto entre os personagens, as perspectivas que surgem e a visível reação da platéia não permitem aqui diálogos que explorem o didatismo ou mesmo uma mão pesada no discurso político.”


Para escrever o trabalho, Carolina Rodrigues e Alexandre Piccini, co-autores e atores da peça, mergulharam em três anos de pesquisa em arquivos públicos e bibliotecas, selecionando documentos, jornais, livros, teses e biografias. Foi imprescindível conhecerem o olhar e a experiência de pessoas que viveram e lutaram na resistência ao regime autoritário. Construíram, assim, uma ficção que busca apropriar-se deste período, desvendar seus mitos, elucidar e questionar a história, incitando no espectador o surgimento da consciência crítica. “Buscamos produzir algo que vasculhe o inconsciente coletivo e, fora da racionalidade incapacitada pela conjuntura histórica, torne esse trauma mais nosso, mais visível, mais elaborável.” – sintetiza Carolina.


Um objetivo dessa montagem, certamente atingido, é desfazer a sensação de que o que aconteceu só diz respeito aos diretamente envolvidos. Olhar o passado para construir o futuro, como diz o texto, funciona!


AGENDA: Confira as datas de apresentações em cada cidade AQUI. As capitais que recebem "Filha da Anistia" são Fortaleza, Recife, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Teresina, e Brasília. As apresentações são seguidas de debates com a participação do público, do elenco e de convidados locais que participaram da resistência à ditadura implantada com o golpe de Estado de 1964, com curadoria do Núcleo de Preservação da Memória Política.

2 comments:

Léli said...

Oi Aleks,
quando escrevi no blog sobre esta peça fiquei louca de vontade de assistir, mas não sei se conseguirei.
Valeu pelo comentário lá no blog. A luta continua!
Beijão

Alice Nascimento said...

É uma pena que em nosso estado de vasta cultura não abra espaço para peças maravilhosas como essa, até porque temos um teatro belíssimo, mas se não há investimento...não adianta teatro...triste, não?