Friday 1 April 2011

Dia da mentira da “revolução”



**UPDATE (02/04): A jornalista Niara de Oliveira, conterrânea do” fim do fundo da América do Sul,” tomou a iniciativa de puxar uma campanha de ativismo online, que agora já está em sua terceira edição, através de um chamamento por uma blogagem coletiva coordenada: DesarquivandoBR


Em janeiro de 2010, blogueiros brasileiros foram convidados por Niara– e muitos aderiram a idéia – para durante um período determinado publicar um post em seus blogs com referência a Memoria Historica do período da ditadura militar brasileira, criando assim uma campanha conjunta na internet pela abertura dos arquivos secretos da ditadura militar e pela punição aos torturadores.


Entrei na iniciativa e este post, feito simplesmente para marcar o dia do aniversário do golpe, agora se inclui na campanha virtual Desarquivando o Brasil, a partir do uso do banner da campanha: a charge do cartunista Ton Noise que insta a presidenta Dilma Roussef a reclassificar os arquivos secretos militares como públicos e tome um passo determinante para o empreendimento de memória no Brasil.




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Há 47 anos, precisamente no dia dos bobos, se iniciava uma das maiores mentiras da história do Brasil – instaurava-se o regime ditatorial militar no país sob a nauseante e patética afirmação de que havia começado uma “revolução democrática”, como os generais tentavam ( e alguns ainda tentam) vender o golpe para a nação e para a história.


O conjunto de eventos de intervenção das Forças Armadas na ordem política democrática-institucional do país é normalmente narrado como ocorrido no dia 31 de março, mas alguns historiadores apontam que o movimento dos militares iniciou na noite do dia 31 e se concretizou já madrugada adentro do dia primeiro de abril. É pertinente considerar, como este autor, que para o regime era menos constrangedor que os antigos livros de “Educação Moral e Cívica” apontassem a data da “revolução” no dia 31 – afinal não seria adequado ligar o movimento ao dia 1º de abril, conhecido como o dia da mentira


Mas todos os 21 anos de terror que decorrem daí foram sérios, sangrentos, tristes e mancham e envergonham até hoje a história do Brasil. Mais vergonha ainda deveriam (deveriam...) sentir certos meios de comunicação que possuem esse editorial abaixo, como se vê na reproduçao da imagem, nos seus arquivos. Vexatório!



Editorial de “O Globo” do dia 02 de abril de 1964:

“Ressurge a Democracia”


"Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.


Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.


Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação existente, para que o País continue sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo.


Poderemos, desde hoje, encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com má-fé, demagogia e insensatez.


Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram de seus inimigos. Devemos felicitar-nos porque as Forças Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um daqueles poderes, o Executivo.


As Forças Armadas, diz o Art. 176 da Carta Magna, “são instituições permanentes, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade do Presidente da República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI.”


No momento em que o Sr. João Goulart ignorou a hierarquia e desprezou a disciplina de um dos ramos das Forças Armadas, a Marinha de Guerra, saiu dos limites da lei, perdendo, conseqüentemente, o direito a ser considerado como um símbolo da legalidade, assim como as condições indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das corporações militares. Sua presença e suas palavras na reunião realizada no Automóvel Clube, vincularam-no, definitivamente, aos adversários da democracia e da lei.


Atendendo aos anseios nacionais, de paz, tranqüilidade e progresso, impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo Palácio do Planalto, as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal.


Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais. Aliaram-se os mais ilustres líderes políticos, os mais respeitados Governadores, com o mesmo intuito redentor que animou as Forças Armadas. Era a sorte da democracia no Brasil que estava em jogo.


A esses líderes civis devemos, igualmente, externar a gratidão de nosso povo. Mas, por isto que nacional, na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso não pertence a ninguém. É da Pátria, do Povo e do Regime. Não foi contra qualquer reivindicação popular, contra qualquer idéia que, enquadrada dentro dos princípios constitucionais, objetive o bem do povo e o progresso do País.


Se os banidos, para intrigarem os brasileiros com seus líderes e com os chefes militares, afirmarem o contrário, estarão mentindo, estarão, como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente, as medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma época de justiça e harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro foi socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande favor.”

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