Friday, 16 March 2012

"Me detonei cortando lenha"


- E qual é o teu email? – perguntei naturalmente. Com mais naturalidade ainda, ele respondeu: - medetoneicortandolenha@(algum servidor).com


Impossível não rir, mas ele não se abalou. – Mas que email é este, tchê? – É que fui “pra fora” no final de semana e me cortei aqui, ó (mostrando o dedo), cortando lenha.


Era assim. Espontaneidade geral, honesta, Raul era um secundarista quando recém fundávamos o Instituto Mário Alves. Não lembro exatamente quando o conheci, mas foi naqueles anos de movimento estudantil. Ele ainda no CAVG, eu no inicio das faculdades, militávamos na mesma corrente do PT. E Raul sempre surpreendida a todos com sua disposição, alegre e sincera. Éramos parte de um mesmo grupo de debate, de articulações, de açoes, de sonhos. Dividíamos muitos finais de semana enclausurados em reuniões intermináveis, e dias de semana também. E festas no Direito (o original), e umas bandas pelas ruas do Porto, até o Quadrado.


Seu nome era Élvio, mas pra mim e pra muitos – e aposto que a maioria demorou pra saber que o nome verdadeiro era esse – ele é sempre Raul. Lembro claramente do jeito algo afobado dele pra puxar uma conversa. “- Aleks, temos que conversarrr um negócio, meu companheiro”. Assim, exagerando a letra r no final das palavras, numa entonação meio abagualada. Raul era cativante, daquele tipo que gera a simpatia de todos, e se fazia prezar pela amizade. E pese os já vários anos de distância, a julgar pela impressão de quem o conheceu mais recentemente ou que continuou sempre presente, ele não havia mudado essa característica.


Desde que saí do RS nosso contato ficou escasso, e nossos encontros, considerando as muitas poucas vezes que fui a Pelotas desde então, mais ainda. Neste último janeiro eu fui outra vez, e quis que saíssemos juntos. Nos encontramos por acaso num dos famosos trailers de lanches pelotenses, ele com um capacete no braço. Nos demos um abraço, aperto de mão firme, trocamos telefones, e combinamos de se falar para combinar uma volta. Nos falamos, mas não chegamos a sair. Eu fico com essa imagem dele, acenando um adeus, eternamente sorridente.

1 comment:

Anonymous said...

baby mou
i am so sorry for your friend, companero :(
he looks so young

a strong warm huge hug for you agapi