Thursday 9 December 2010

Wikileaks: um conto para Jorge Luis Borges

Tô me coçando, claro, para comentar sobre o impressionante caso dos “cablegates”. Para aqueles que se dedicam ou se interessam por Relações Internacionais, especialmente aqueles que tem formação na área da Comunicação Social, o momento midiatico-diplomático que se vive (chamemos assim) é sem duvida um divisor de aguas. Trata-se da oportunidade diária de atender, e se envolver, a uma verdadeira aula de alto perfil de jornalismo e politica.

Estou preparando meu proximo comentário de toda a quarta-feira na RadioCom 104.5FM sobre o tema. Enquanto isso deixo os links para o excelente artigo sobre o tema no jornal Asia Times, original em inglês, e a tradução em português publicada no blog do jornalista, conhecido ativista pro-Palestina, George Bourdoukan.

Selecionei um trecho, com a respectiva tradução, que merece destaque:

"Assange wants to fight the power of the system, treating it as a computer choking in the desert sands. Were he alive, it would be smashing to see the great Argentine writer Jorge Luis Borges penning a short story about this.

On top of writing his own "Book of Sand", Assange is also counter-attacking the Pentagon's counter-insurgency doctrine. He's not in "tracking-the-Taliban-and taking-them-out" mode. This is just a detail. If the conspiracy is an electronic network - let's say, the (foreign policy) Matrix - what he wants is to strike at its cognitive ability by debasing the quality of the information.

Here intervenes another crucial element. The ability of the conspiracy to deceive everyone through massive propaganda is equivalent to the conspiracy's penchant for deceiving itself through its own propaganda.

That's how we get to the Assange strategy of deploying a tsunami of leaks as a key actor/vector in the informational landscape. And that takes us to another crucial point: it doesn't matter whether these leaks are new, gossip or wishful thinking (as long as they are authentic). The - very ambitious - mother idea is to undermine the system of information and thus "force the computer to crash", making the conspiracy turn against itself in self-defense. WikiLeaks believes we can only destroy a conspiracy by rendering it hallucinatory and paranoid in relation to itself." Read full text here.


"Assange quer combater o poder do sistema, tratando-o como se fosse um computador sufocado nas areias do deserto. Se estivesse vivo, que grande conto o argentino Jorge Luis Borges escreveria sobre isso. Além de escrever seu próprio “Livro de Areia”, Assange também está contra-atacando a doutrina de contraguerrilha do Pentágono. Não trabalha no modo “rastrear-os-Talibã-e-desentocá-los”. Isso é detalhe. Se a conspiração está na rede eletrônica – digamos a Matrix (da política exterior) –, o que Assange quer é feri-la na capacidade cognitiva; para isso, detona a qualidade da informação.

Nesse ponto, há outro elemento crucial. A capacidade da conspiração, que engana todos todo o tempo mediante quantidades massivas de propaganda, é equivalente à tendência de a conspiração ser enganada também, ela mesma, pela própria propaganda. Assim chegamos à estratégia de Assange, de deixar vazar quantidades tsunâmicas de informações, como fator-vetor-chave da paisagem informacional.
Daí se chega a outro ponto crucial: não importa que os vazamentos sejam informação nova, pura fofoca ou opinião desejante (desde que sejam autenticados pela fonte). A ideia-mãe – muito ambiciosa – é minar todo o sistema de informação e, assim, “levar os computadores à pane”, quando a conspiração for obrigada a voltar-se contra ela mesma, em movimento de autodefesa. Para WikiLeaks, a única via pela qual se pode destruir uma conspiração é obrigando-a a entrar em modo paranoico-alucinatório focado sobre ela mesma." Leia o texto completo aqui.

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