Monday 6 December 2010

Um pouco sobre o frio


Este blog, quem tem a paciência de acessar-lo de vez em quando já bem deve saber, nada mais é do que o meu arquivo pessoal on-line das minhas pesquisa - ou pretensões - acadêmicas, das minhas contribuições jornalísticas que faço aqui e ali e de alguns registros de impressões pessoais desses anos de jornada a Ítaca. Claro que não tenho nenhuma pretensão, neste momento, de estar presente “as vera” na blogosfera. Digo isso porque foi preciso dizer, você sabe quem.


Pois bueno, na terça-feira passada nevou pela primeira vez neste inverno de Londres. Neve em novembro não é o mais usual para a cidade onde, em geral, não se costuma ver muita de todos modos, mas dessa vez a quantidade, além de ter caído em época antecipada, foi considerável. E como o frio aqui é daqueles bem úmidos, com bastante vento, que sopra gelado pelos poros até a alma, quando neva desse jeito é sinal que a coisa foi de “ranguear cusco” mesmo, para usar uma expressão tão conhecida lá nos pampas como esse tipo de frio.


Seguem então algumas considerações, depois de alguns dias afastado do blog justamente por conta das conseqüências desse frio, motivado por tal ambiente “inspirador”:


O parâmetro de frio para mim é quando me vejo obrigado a usar luvas. Não sou muito fã de luvas, mas há um momento em que é fisicamente impossível andar na rua com as mãos expostas, quando os dedos realmente doem de gelado e ás vezes chega a parecer que vão congelar mesmo. E as luvas foram dessa forma necessárias já no começo de novembro, isto é, a situação climática típica de Londres: frio de verdade que se estende de novembro até pelo menos abril. Ou seja, o frio não acaba em abril, mas vai certamente até lá e não raro chega a durar até o inicio de junho.


No entanto a primeira neve deste inverno caiu justamente no dia em que os estudantes saíram em marcha pela segunda vez em um mês numa série de grandes protestos de rua que, como há muito tempo não se via no Reino Unido, Londres tem testemunhado em função dos fortes cortes de subsídios para a educação no país que devem ser implementados em breve pelo atual governo e um tremendo aumento nos preços das universidades. Um excelente registro digno de se guardar, tanto pela neve caindo na capital como pelo ato, é o vídeo feito pelo jornal The Guardian, que reproduzo aqui:






Mas neve de verdade mesmo eu vi, pela primeira vez, em Estocolmo, onde a percepção sobre o que é frio atinge outro patamar. Uma paisagem realmente cinematográfica, cenário daqueles filmes natalinos, onde o local é absolutamente coberto de branco, em quantidades que ultrapassam um metro de neve e com temperatura média de -10 (sim, dez negativos!). Sem duvida a região nórdica é um dos lugares mais diferentes que já visitei e achei que valia a pena mostrar umas imagens:





E para terminar, para não dizer que não falei de flores, claro que me lembrei do verão do meu Brasil não -tropical, que faz juz a esse titulo inclusive por suas praias e o nosso típico “veraneio” gaúcho, que merece o textinho abaixo que recebi esses tempos por email. Como dizia aquele típico personagem de Pelotas “Isso é Brasil!”.


"Está chegando o verão e com ele o "veraneio", como chamamos aqui no Sul.

Não sei se vocês, de outros Estados, sabem, mas temos o mais fantástico litoral do País: de Torres ao Chuí, uma linha reta, sem enseadas, baias, morros, reentrâncias ou recortes. Nada!

Apenas uma linha reta, areia de um lado, o mar do outro.

Torres, aliás, é um equívoco geográfico, contrário às nossas raízes farroupilhas e devia estar em Santa Catarina. Característica nossa, não gostamos de intermediários.

Nosso veraneio consiste em pisar na areia, entrar no mar, sair do mar e pisar na areia. Nada de vistas deslumbrantes, vegetações verdejantes, montanhas e falésias, prainhas paradisíacas e outras frescuras cultivadas aí para cima.

O mar gaúcho não é verde, não é azul, não é turquesa. É marrom!

Cor de barro iodado é excelente para a saúde e para a pele! E nossas ondas são constantes, nem pequenas nem gigantes, não servem para pegar jacaré ou furar onda. O solo do nosso mar é escorregadio, irregular, rico em buracos. Quem entra nele tem que se garantir.

Não vou falar em inconvenientes como as estradas engarrafadas, balneários hiper-lotados, supermercados abarrotados, falta de produtos, buzinaços de manhã de tarde e de noite, areia fervendo, crianças berrando, ruas esburacadas, tempestades e pele ardendo, porque protetor solar é coisa de fresco e em praia de gaúcho não tem sombra. Nem nos dias de chuva, quase sempre nos fins-de-semana, provocando o alegre, intermitente, reincidente e recorrente coaxar dos sapos e assustadoras revoadas de mariposas.

Dois ventos predominam, em nosso veraneio: o nordeste ? também chamado de nordestão ? e o sul, cuja origem é a Antártida. O nordestão é vento com grife e estilo... estilo vendaval.

Chega levantando areia fina que bate em nosso corpo como milhões de mosquitos a nos pinicar. Quem entra no mar, ao sair rapidamente se transforma no? como chamamos com bom-humor ? veranista à milanesa. A propósito, provoca um fenômeno único no universo, fazendo com que o oceano se coloque em posição diagonal à areia: você entra na água bem aqui e quando sai, está a quase um quilômetro para sul. Essa distância é variável, relativa ao tempo que você permanecer dentro da água.

Outra coisa: nosso mar é pra macho! Água gelada, vai congelando seus pés e termina nos cabelos. Se você prefere sofrer tudo de uma vez, mergulhe e erga-se, sabendo que nos próximos quinze minutos sua respiração voltará ao normal: é o tempo que leva para recuperar-se do choque térmico."

1 comment:

Anonymous said...

Com esse último relato, impossível não lembrar do Cassino... sol escaldante, total ausência de sombra e vento inigualável...
Se bobear, tem até pinguim fazendo companhia no mergulho.
Veraneio garantido uma barbaridade!