Sunday, 13 December 2009

Falar em indígenas irrita o presidente

* Articulo de mi autoria, solo en portugués, sobre la charla de Rafael Correa en la LSE, en octubre de 2009. Una sencilla contribución al debate.





O presidente Rafael Correa chegou pontual e sorridente à London School of Economics (LSE). Ex – professor universitário, não escondeu a satisfação de, como mencionou, relembrar os velhos tempos ao ser convidado, no final de outubro, para uma palestra na renomada instituição londrina sobre o seu conceito de “revolução cidadã”, que defende estar em curso no Equador durante o seu governo.


Elegantemente palestrando em inglês, fez-se muito claro, a pesar do forte sotaque castelhano, na critica a arquitetura financeira internacional e à “arrogância da sua burocracia que insiste em modelos de organização econômica que se provam falhos”, disparando contra organismos multilaterais como o Banco Mundial. Apenas um tema acabou com a tranqüilidade do presidente e o fez mudar o tom de voz e abandonar o inglês para responder em espanhol: os movimentos indígenas.


Para Correa, a explicação para os protestos violentamente reprimidos pelo governo, inclusive com saldo de morte, ocorridos no país em setembro são as eleições da Conaie – poderosa organização indígena do país que reúne mais de três milhões de originários – que ocorrem neste mês. Quando questionado sobre a posição dos povos originários acerca do risco da privatização da água no Equador a partir da nova lei, o presidente cerrou as sobrancelhas e logo mandou que alguém lhe trouxesse a Constituição nacional para provar que neste tema não ha debate.


Quase dez minutos gastos buscando e lendo artigos da Constituição para justificar porque esse tema o incomoda tanto. De fato, a carta magna parece clara ao proibir a privatização da água. E a contradição que havia na primeira proposta da lei que mencionava a possibilidade de gestão privada já não se vê na terceira versão do projeto, fruto também da pressão dos movimentos para a retirada das ambigüidades do texto da lei.


Entretanto, na visão de Correa, ao mesmo tempo em que isso prova que não ha razão para polêmica, tampouco não haveria nenhum tipo de erro por parte do governo na relação estabelecida com os povos originários, nem falta de compreensão, nem falta de diálogo. Correa defende, engrossando a voz, que todo o problema tem um fundo eleitoreiro, e que a pauta dos povos originários vai se esgotando diante da recepção e execução do governo de suas demandas.


Os povos originários no Equador apoiaram e re-apoiaram os dois mandatos de Correa. Votaram por ele, defenderam seu projeto e entregaram ao presidente “la chimba”, bastão de poder que representa a construção do bem comum. Os indígenas reconhecem os avanços do governo Correa como uma senda para mudanças estruturais no país. Mas Correa não parece ter a mesma disposição, nem capacidade de apreensão e muito menos tato. “O levantamento indígena contra a privatização da água foi uma grande irresponsabilidade, uma grande mentira”, vociferou. (Disponivel no videocast da LSE)


O presidente afirma ter trabalhado com os indígenas e conhecer suas ”virtudes e defeitos”. Mas apesar do voto de confiança dado pelos originários, Correa prefere tons de voz ameaçadores, alertando para o “cuidado que deve haver para não se mitificar os movimentos indígenas” e acusa-os de estarem criando uma falsa polêmica e criando tensões para se reposicionarem politicamente. Mesmo com todo seu suposto conhecimento da temática, o presidente ainda se vale apenas de uma linha de análise fundamentalista para tentar explicar as críticas que sofreu dos originários. Trata-se de uma posição paradoxal ao que defende como representante do Socialismo do século XXI, pois nessa lógica segue incorrendo na linha do quem não esta comigo esta contra mim, que não se encaixa ao socialismo que apregoa. “Foi uma jogada para se reposicionarem politicamente”, resume cartesianamente o presidente.


Mas não se trata de um jogo simplista, entre direita e esquerda, dentro do movimento indígena. Menos de uma conspiração para desestabilizar o governo, uma contra-revolução. Os indígenas trazem à discussão o tema do Estado plurinacional não porque estão desesperados na busca por uma agenda política, mas porque acreditam que é justamente o governo Correa que poderá dialogar sobre o direito que possuem de participar do acesso às riquezas naturais, que lhes foi arrancado durante séculos de exploração. Correa precisa ampliar os mecanismos de analise para a compreensão da questão indígena e fazer valer sua revolução cidadã.

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