Friday, 18 February 2011

Welcome to Recife!



Olhando para a pequena feridinha na parte interna dos dois pés, resultado do uso inexperiente de sandálias novas de couro, duro, de bode, eu vou assimilando, sob a água quase morna do mar, numa ampla e típica paisagem de praia com palmeiras, que estou de volta, por enquanto – o mundo é grande e nunca se sabe – ao Brasil. E não em qualquer época, senão no verão, pré-carnaval; e não em qualquer lugar, senão nos próprios trópicos, no Nordeste, onde, por enquanto de novo, estarei.


Hoje alcancei aquele vermelhão, mesmo com essa cútis salvadorenha que deus me deu, de quem abusa, negligenciadamente ou não, do sol. Não se trata só de se expor ao maçarico que se acende tão forte no céu já às 7h da manhã como se fosse meio-dia num cenário clichê de areia com água de coco; apenas ao locomover-se pelas ruas do centro em qualquer hora do dia em que ele reina, impassível, já se pode obter “lesões”. E vez em quando chove como em qualquer trópico, em grandes pancadas, como em El Salvador, por vezes demasiadamente grandes.


Com uma semana de chegado, eu olho para minhas novas e necessárias sandálias – o uso de sapatos fechados nesse calor é quase uma espécie de penitência – que aliás já tive que levar de volta à banca da dona Teresa no Mercado São José para que se arrume uma sola mal-colada, como olho para as placas de aviso de risco de ataque de tubarão ao longo de toda a praia de Boa Viagem, como lembrei da música do Lenine ao ver a Torre Malakof, como escuto todas as variações rítmicas dos sotaques de “S” aspirado em meio de palavra, de vogais abertas e de apagamento do “R” no final de vocábulo: um novo mundo lingüístico. E de aventuras maritimas...



De Porto Alegre a Recife são quase 3.100km de distância, um vôo sem escalas teria quase cinco horas de duração – esse país também é grande. Mas mesmo nessa lonjura ainda encontro um Seu José Augusto, segundo ele quando recém tinha cumprido 80 anos, cantando “Coração de Luto” em pleno Recife Antigo, fazendo uma inusitada interrupção do “Forró de um real” que animava um barzinho depois que a Orquestra de Frevo do Recife havia terminado seu ensaio no palco ao lado. Sim, isso mesmo, o grande clássico de Teixerinha, aquele que está para o RS como Luiz Gonzaga está para PE, sendo cantado aleatoriamente por um senhorzinho do Sertão, de chapéu de couro e sem dente, assegurando quando fui conversar com ele que era amigo de Teixerinha, quando esse passou por essas bandas. E tão amigo que ele, como vários outros compositores ludibriados que parecem existir em Recife, deixou a música, que teria originalmente sido de sua autoria, para o gaúcho gravar... Tenho aprendido que em Recife compositores assim são tão comuns quanto Produtores Culturais em Olinda, a famosa cidade histórica-colonial das ladeiras ao lado da capital pernambucana – tem pra todo lado, todos os bolsos, todas histórias.


Claro que também já comi tapioca, pra mim um deleite gastronômico regional quando consumida com café, que se encontra com facilidade em carrinhos nas esquinas, embora em geral tenha que solicitar que amigos locais façam o pedido, com receio de ser cobrado mais do que deveria, o que parecer ser uma prática comum aqui e sofrida por forasteiros. Outro dia na praia o “caba” quis me cobrar três reais por uma garrafinha de 500 ml de água! E sem gás! Assim vamos, aprendendo as minúcias, como um estrangeiro no meu próprio país; “Paciência, que o mundo é assim mermo!”, como expressou o senhor que puxava um carrinho de papelão tentando cruzar uma rua, no meu primeiro dia aqui.


E o ritual do consumo do caranguejo, ou guaiamum, que também já pude presenciar (até que tentei comer também...), merece um capítulo a parte – peculiar observação antropológica que vou registrar em foto, como um bom forasteiro impertinente, nesse universo de incertezas tropicais.

4 comments:

E said...

sounds like great place to be!

I feel like a foreigner in my own country too, but in your heart you know you would never be...

Anonymous said...

agapoula mou

avoid the waters....

beijos

Unknown said...

Hola Alexei..y cómo funciona esa advertencia de tuburones?? Es decir, debe quedarse uno a la orillita con esa gran tentación..jjee Besitos...!

E said...

agree with Laura ;-)

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