Tenho estado escrevendo sobre a crise política, de representação e representatividade que vive o Brasil desde março de 2016, momento em que se atingiu um ponto alto de um longo e complexo processo da conjuntura nacional que se arrasta desde as eleições de 2014, e com mais precisão pelo menos desde 2013.
Em tempos de facebook, muitos textos são apenas breves posts, que para não se esfumaçarem nas timelines, vou deixar registrado aqui para eventual consulta aos alfarrábios...
Outros são mais longos, produzidos diretamente em espanhol (a maioria sem revisão), também deixo em evidência aqui, neste meu grande arquivo pessoal online.
Se o impeachment não for barrado no Senado – e tudo indica que não – então provavelmente, sim.
Essa polêmica proposta, que teve como umas das primeiras vozes a corrente do Psol, Movimento Esquerda Socialista, onde participa a ex-candidata Luciana Genro pode ser, por vias tortas, efetivado.
Particularmente porque eleições gerais agora podem evitar o pior cenário, possível, para a conjuntura brasileira, que é aquele em que uma nova presidência da república seja eleita por VOTO INDIRETO.
Ou seja, um novo Executivo eleito pelo Congresso Nacional, por estes mesmos deputados que deram um show de horrores ao Brasil e ao mundo no dia da votação do Impeachement de Dilma ao mostrarem toda sua baixaria. Uma eleição indireta, contudo, seria algo inédito na história do país, mas sim, isto é bem possível.
Serão estxs homens e mulheres, que deixaram expostas em transmissão ao vivo as vísceras, podres, da crise de representação política brasileira – fruto das regras do jogo como elas são hoje – que elegerão outro(a) presidente(a) caso a chapa presidencial eleita em 2014, Dilma\Temer caia, por uma eventual impugnação do TSE, a partir do ano que vem, em 2017. Neste caso, porque haverá passado mais de dois anos do início do mandato, segundo a definição da jurisprudência da Justiça Eleitoral brasileira, a escolha de uma nova Presidência da República seria, para materializar nossos piores pesadelos, indireta.
Para evitar isso, que é um enorme e real risco, e entendendo que o afastamento de Dilma do cargo após a votação no Senado (15 de maio) por 180 dias, até o julgamento final presidido pelo STF, é uma realidade, a alternativa que tem crescido como “solução” para o PT seria, efetivamente, aproveitar as eleições municipais de outubro deste ano para que sejam chamadas também novas eleições gerais.
Segundo algumas fontes, o PT, como mínimo, já flerta com a possiblidade, e para outros já a tem como certa. Com isso Dilma evitaria uma renúncia, que disse reiteradamente que nunca faria, e armaria um “contragolpe” a Temer, que já tem feito às amarras com nomes para ocupar cargos no governo, dando por certo o impedimento da presidenta.
Considerando que já há, e pode haver ainda mais, suficiente evidência também para impedir a Temer de governar (e ele sabe que sua governabilidade seria muito fraca realmente, tendo, como mínimo, a vigência de um “inferno” nas ruas até 2018) mesmo que ele diga se opor a ideia hoje, deverá aceita-la, ou ser forçado a isso.
O impeachement, neste caso, pode ser vantajoso para o PT, que poderá reforçar a narrativa do “golpe”, e ter uma forma, estranha, de seguir no jogo, muito provavelmente com Lula - já que o partido, em termos de grandes atores de expressão nacional, se converteu numa sigla de um nome só.
O que as esquerdas farão neste caso? Aceitarão conversar com o PT? E o PT finalmente fará a autocrítica e dobrará, por razões pragmáticas, a um outro tipo de agenda e alianças? Não tendo mais “pra onde correr”, aparentemente, tendo quebrado os pratos, ou sido descartado, por todos aqueles atores partidários da velha e nova direita que davam sustentação ao modelo Lula-petista, como o Partido dos Trabalhadores enfrentaria uma outra eleição? Será factível pensar numa chapa entre o Psol e o PT?
Há espaço para uma nova articulação, uma nova identidade, precária e contingencial, como sempre é, mas particularmente neste momento, possível e necessária.
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Argumentando pela “
#autocríticadoPT” na atual conjuntura sociopolítica nacional tenho tomado pedras de vários lados.
Há entrincheiramentos de posições baseados em assunções sobre o sentido da posição do outro.
É preciso começar por esclarecer, porém, que não há ingenuidade nem inocência em fazer esta discussão, como a arrogância da crítica à esquerda muitas vezes ironiza ou transparece.
E tampouco se está simplesmente entrando pro grupo dos que gritam “bem feito”, ou apenas apostando no fogo no circo para purificar os pecados da mulher barbada...
Não podemos deixar falsos binarismos ganhar momentum.
Quando governistas fazem a linha de “criticar a crítica que pede a autocritica”, acabam por soar como fazendo a defesa incondicional – que parece, e é, típica de muitos governistas.
Da mesma forma que chamar o PT a assumir responsabilidades pode ser visto por aqueles como uma postura que se enquadra entr o grupo dos "quanto pior melhor".
Não acho que há dicotomia entre “verdadeiros” e “pragmáticos” de esquerda, contudo, porque não entendo identidades políticas como fixas, razão mesma pela qual não acho que o PT está em uma “crise” de identidade, e que precisa ser “resgatado”.
O que deve ser primordialmente entendido é que dentro do próprio jogo institucional o PT está ficando sem opções. Dialogar e sentar com a esquerda será o quase o único movimento pragmático possível que lhe resta. Não tem nada a ver com o despertar, um belo dia, de uma consciência que lhe atormente a alma e buscar4á redenção...
A "autocritica do PT", ou outro melhor nome que se encontre, está acontecendo. E por razões, que os mestres da realpolitik adoram gabar-se que são as que os movem, bem reais.
O PT vendo que não tem outra saída a não ser dialogar com outras forças políticas de esquerda já está em curso. Não sou eu que estou dizendo (repetindo...), e sim, entre outros, o Fernando Haddad, prefeito de São Paulo pelo PT, em recente entrevista para a Folha. O jogo do “ganha-ganha” para todos (que foi mote do modelo petista: pobres menos pobres, ricos mais ricos) é, e sempre foi e será, insustentável a longo prazo.
Nas palavras do Haddad: "O PT tem muita capilaridade. Mas o PT vai ter que pensar, daqui para a frente, mais o campo progressista do que o próprio partido. Isso já estava na cabeça do Lula em 2010, quando sinalizava inclusive um apoio ao Eduardo Campos em 2018".
Não precisamos ser lembrados de como funciona o PT internamente. Estivemos bem lá dentro. E por isso também sabemos que se a posição interna do partido por reconhecimentos de responsabilidades, tão mais coerente e socialmente responsável, fosse tão “imensa” assim, (como alguns dizem que é) não seria lógico deduzir que ela simplesmente “não se reflete nas escolhas do governo”.
Haveria disputa, e disputa não existe no PT há pelo menos mais de 15 anos. Podem dizer: “sim, porque o governo não é só o PT”. Exato, não é só o PT, nem deveria nem poderia ser, mas tinha que ser com toda a corja histórica da política nacional?
Ah, tinha que ser com partidos que tivessem força legislativa, pra garantir a governabilidade... Eram só estas opções possíveis diante do presidencialismo de coalizão?
A lógica de que governar sempre “é um serviço sujo mas alguém tem que fazer” é uma falácia! A questão de fundo do governar é sempre a mesma: onde traçar a linha limite? Como e onde definir o “nós” e o “eles”?
Se realmente se disputasse poder na sociedade, e não apenas governos; se o foco da conquista fosse por gerar cidadãos, e não acreditar que se está fazendo inclusão social ao simplesmente se aumentar o número de consumidores de eletrodomésticos da linha branca, então talvez estes partidos e seus nomes, ignóbeis, que hoje tem imensa força legislativa não fossem tão fortes assim.
O jogo não tem que ser assim tão imundo, não, se houvesse existido mais esforço para mudar as suas regras, que parecem que eram, e são, um horizonte intransponível para uma melhor forma de governar e com quem se aliar, na lógica do petismo hegemônico.
"(O PT)Jogou o jogo. E quando você joga um jogo com as regras que você contesta, está sujeito a cometer os equívocos que seus adversários cometeram", diz Haddad também.
A palavrinha perdida nas ciências sociais hodiernas é a chave: ideologia.
O campo hegemônico do PT nos anos 90, liderado por José Dirceu, ganhou a disputa ideológica do PT desde aquela época e por consequência o partido vem se “endireitando” cada vez mais desde então, principalmente sob esse discurso, perverso, de que “isso é realismo político”, “só se governa assim”, “vocês só sabem fazer oposição”.
E mais: mantendo, brilhantemente, a linha discursiva que permitiu o PT ser visto por incautos como o que encarna o “bem”, que o partido apenas é obrigado, pelas regras do jogo, a se prostituir com o “mal”, deixou de admitir, e portanto enganou a famosa base (pelo menos aquela mais combativa ainda restante) que essa é a identidade - algo do tipo centro-direita - que a sigla foi assumindo.
Esse discurso do suposto fetiche em se manter oposição, aliás, do qual somos acusados, curiosamente é o mesmo com o qual a direita atacava o PT antes dele ganhar o Executivo Federal, e o qual o PT fortemente rebatia. Veja a ironia. Ai o que aconteceu? O PT “amadureceu”, né, dirão alguns, com a “Carta aos Brasileiros”, que permitiu o acordão da governabilidade....
Acho que o partido fez, sim, e no mínimo desde as eleições de 2014, a construção de um maniqueísmo entre o bem e o mal: onde ele é o bem, e as forças todas asquerosas da direita velha e nova são o mal, sem reconhecer, porém, que este “mal”, não era apresentado como tal até o momento que passou a botar as asinhas de fora.
É o que os memes de facebook chamam de “a arte do PT-dô: atacar com a direita, se defender com a esquerda.”
O governo do PT foi e é este mesmo que vemos desde a aliança com o PL em 2002, mas até o momento que houve “traição” no Palácio tudo estava correndo sob a normalidade do presidencialismo de coalizão...
Ora, a traição então se configura quando? Quando o lixo que colocamos pra dentro de casa começa a feder? Mas não sabíamos que foi sempre lixo? É que antes domesticamos nossos narizes com os prendedores de roupas que demos a todo mundo, né? Daí, com a crise internacional das commoditties, não dá mais pra comprar prendedor pra todos, já que ter acesso a grandes quantidades desses prendedores estava calcado sumamente num modelo que não se sustentava mais, né? Então se começa a ouvir reclamações do cheiro. É, lixo fede mesmo.
Por fim, é evidente que há possibilidade de diálogo, desde que o PT passe a aceitar a crítica ao invés de tentar se defender, sempre, presunçosamente dela. E essa aceitação passa por entender que a sigla, ao fim ao cabo, não é nada, é apenas uma ferramenta, que quando fica obsoleta, deve ser jogada fora. O PT está nesta situação hoje, ao borde, e a única coisa que segura a queda da sigla é o fator Lula. Se Lula morresse hoje, o partido também deixaria de existir.
O que está em disputa, e que me anima a entrar neste debate, é precisamente o espaço, que não se tem há muito tempo, com muitos atores e coletivos (vide marchas dos dias 18 e 31 de março) para construir um projeto que não seja o do acordão do lulo-petismo vigente desde 2002, nem o “resgate” de identidade do PT.
Nós, críticos à esquerda, não estamos nas ruas, e neste debate, para salvar a democracia liberal e a Constituição de 88 simplesmente... Podemos mais, e a conjuntura, finalmente, nos permite isso. Há espaço para uma nova articulação, uma nova identidade, precária e contingencial, como sempre é, mas particularmente possível e necessária neste momento, entre todos os atores políticos dispostos a esta mobilização que passa pelo reconhecimento do PT de que este modelo falhou, e pela descoberta de um ponto nodal que permita uma nova hegemonia discursiva.
Sem a disposição de ouvir as vozes mais combativas, como tem sido a marca da prática petista há muito tempo, até o ponto de expulsão de gente da sigla como se fez no começo dos anos 2000; sem fazer, por fim, a autocrítica, não vai dar. Um novo bloco histórico pode nascer, e nós precisaremos, sim, do PT para isso.
O passado não pode ser mudado, o futuro sim.
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É claro que não queremos Temer, (nem Cunha, nem Calheiros, nem ninguem da corja do PMDB), mas não é curioso pensar/lembrar que ele é o vice-presidente do Brasil porque também recebeu legitimamente os 54 milhões de votos que Dilma recebeu? Votaram nela, votaram nele, né? E olha, ele já era do PMDB, ta? E o PMDB ja era, e é, o que sempre foi...#pelaautocriticadoPT
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Tá reclamando do conteúdo da declaração de votos dos deputados no impeachement? Ta vendo e achando ruim o baixo nivel?
Pois esta é a Câmara de Deputados do Brasil, a dos que votam pela sua família e por Deus (pra mencionar só esses exemplos), e ilustram o tipo de gente e pensamento com a qual o PT fez 16 anos de "repactuação nacional"...
Chamou de aliado, de amigo, apertou mão, deu cargo, posou junto pra foto, em nome do "realismo" da governabilidade...
Dá pra entender porque fazemos a crítica de esquerda?
#pelaautocríticadoPT
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A pergunta óbvia é: por que o atual Congresso brasileiro é o que é? O mais reacionário da história do Brasil?
Não será que esse abjeto Congresso é o que é porque foi eleito por um eleitor que tem a noção de política que tem? Em parte.
Grande percentual dxs atuais deputadxs foi eleito em função do famigerado quociente eleitoral, que é parte das tradicionais distorções do nosso sistema de votos, um antigo problema, muito criticado, cuja famosa reforma política deveria atacar.
Mas esse eleitor (que ao fim e ao cabo votou em todos os personagens que ali ontem falaram) não tem essa (falta) de noção do poder do seu voto também porque os governos em questão não fizeram, deliberadamente, a real disputa na e da sociedade? Certamente.
O PT não tentou aproveitar seus quase 20 anos de governo para criar cidadãos. Insistiu e se contentou, através do chatissimo e perverso mantra do "realismo da governabilidade", em gerar apenas consumidores acreditando (?) e fazendo acreditar (!) que isso era inclusão social.
Seguiu todos esses anos confundindo governo com poder, e se apequenou ao fazer no Executivo apenas uma administração pública, um gerenciamento do capitalismo grotesco, comprometido com o grande capital financeiro, nacional e internacional.
O pensamento fundamentalista e reacionário hegemônico neste Congresso é também, sim, fruto desta covardia (e inclusive má-fé mesmo de vários oportunistas que se filiaram, ou já estavam filiados ao PT nesses anos) de não enfrentar estruturas e interesses da elite tradicional e da sociopatia dessa nova direita fundamentalista, de se refastelar com toda a corja da Bancada da Bala e Evangélica para que logo fosse execrado por esses mesmos sócios, em nome “de Deus”, da “netinha”, da “família” e “por todos os corretores de seguro”...
O PT hegemônico preferiu tentar acomodar a todxs, ignorando a realidade histórica infinitamente comprovada de que não há real transformação emancipatória sem rupturas. Ao longo desses anos o petismo abraçou-se a um lado, deliberadamente, e agora reclama que esse lado feio e sujo também o manchou e deixou fedendo...
Apenas uma posição governista fisiológica ou fervorosa - espero que um fervor não tão fundamentalista quanto a do perfil desse Congresso - é que se nega a admitir isso.
Só a autocritica do PT, real e profunda, sempre postergada daquelxs companheirxs que estão ali que ainda merecem ser assim chamados (eu sei, compas mais críticos, esse otimismo...) poderá dar margem a uma articulação das diferenças das forças de esquerda do país para uma, necessaríssima e única possibilidade conjuntural, cadeia de equivalências em torno ao antagônico que este impeachment-golpe representa.
#pelaautocriticadoPT
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O que chamamos hoje no Brasil de crise política é, no frigir dos ovos, uma crise de representação e representatividade. Portanto, quando nos perguntamos se “acreditamos que há qualquer possibilidade de haver um governo de esquerda que não se renda à necessidade de maioria no congresso, ou seja, ao capital”, ou se “teremos de ser eternamente oposição?” deixamos de lembrar que essa é a questão eterna, sim, de grande parte da esquerda, expressa poderosa e materialmente na nossa conjuntura nacional.
Mas há uma distorção nela: ela pressupõe que há uma esquerda "pura" e "verdadeira", e que a ideia de que uma "revolução"(...) é o horizonte emancipatório a ser alcançado.
Ora, não, não há horizonte final, não há redenção, a história não termina com o estabelecimento de uma outra, hipotética, narrativa. Este é o meu entendimento mais marxista: o conflito nunca acabará, e é o motor da dinâmica social. Política é processo de estabelecer uma ordem da comunidade, de uma sociedade, não de gerir uma empresa.
Governar nunca foi, e nunca será, sinônimo de poder, e este foi o grande problema petista: fez TUDO para governar, não fez quase nada para disputar poder.
Essa linha de raciocínio de que "nada podia ser diferente"; o exemplo claro do "realismo da governabilidade".demonstra que o PT ganhou a disputa discursiva que estabelece a linha divisória: "até aqui podemos chegar". É o exemplo típico do maniqueismo: parte-se do pressuposto, que muita gente, boa, parece acreditar e estar convencida, de que o teto é baixo, mas é melhor ficar abrigado sobre ele mesmo, porque pior do que está pode ficar,sim (Cunha, Bolsonaro e os demais).
Claro que é verdade que pode ficar pior, mas também é verdade que poderia ter ficado melhor. Nesse debate, como há um bom tempo tem-se feito nas ciências sociais inclusive, se deixa de lado um conceito que não se pode mais ignorar: ideologia.
O PT, que não é um partido homogêneo, como sabemos, foi capturado há muitos anos por uma direção majoritária com uma ideologia do tipo "inserção soberana no mundo globalizado" que levou o partido a se afiliar - definitivamente, ao que parece, baseado em quase 20 anos trabalhando para isso- por um entendimento no mínimo socialdemocrata.
Isso significa que ele não foi apenas refém da direita, ele se tornou mesmo, em grande parte, a direita.
As direções do PT não acreditam que fizeram concessões à direita, mas sim fizeram o que tinham e era possível fazer. E a sua militância, onde ainda se inclui gente sincera e inocente, ficou ali acreditando nisso... submetendo-se à essa hegemonia discursiva perversa que os envolveu.
A forma de governar do lula-petismo, de "pactuação nacional" (que nem isso Dilma conseguiu fazer), jogando a culpa dos seus limites na regras do jogo, sem nunca fazer nenhum esforço por mudar essas regras, comprova sua opção ideológica, da qual muitos, talvez a maioria dos petistas, é parte.
Isso é a arrogância, a falta de autocrítica, a sensação de autossuficiência que caracterizou este partido porque sempre teve um coringa para jogar: o Lula.
Deixe Lula de existir hoje,e o PT morre com ele, porque não houve e não há outros quadros que segurem a coesão da sigla.
Isso significa que Lula é o melhor e o pior do PT ao mesmo tempo.
Em resumo, se eu acho que dá pra ser diferente? Acho. Se temos que ser eternamente oposição? Depende de quem é o "nós", e do que entendemos por Política, com P maiúsculo mesmo. Quem acha que não havia e não há outro caminho, e, se o capital é tão imbatível quanto nos tentam fazer crer que é quando se joga por dentro, me parece que poderia abandonar de vez a luta institucional e eleitoral e jogar apenas de fora.. o que muita gente boa também faz, e me parece legítimo.
E ai não me refiro a ser apenas "oposição", não, mas ser antissistema mesmo. Nem peçam reforma política de nenhum jeito, nem ampla nem profunda, já que isso, nessa lógica, não servirá para nada. Isso seria mais coerente do que apenas lamentar o resultado pelo impeachment, sem fazer, enquanto governo, a indispensável autocritica e articulação, humilde, com as forças políticas que sempre apontaram que esse caminho teria um resultado deprimente.
A real disputa Política é uma disputa por corações e mentes na sociedade, uma disputa que gere uma população com educação e senso crítico para votar não apenas pelos "homens brancos cristãos" que conformam o atual Congresso, mas que nos permita reconfigurar a noção de jogo, de representação e representatividade, uma disputa por hegemonia discursiva.
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E se Dilma não cair?
O que virá? Como e com quem governar?
Os petistas realmente acreditam que se não houver impeachment-golpe "tudo" acaba ali? Naquele triste balcão de pronunciações no Congresso e em números num painel?
Não, claro que não!, dirão.
Mas o que haverá, então?
=-=-=-(Vai chegando ao fim as retoricas de "defesa da democracia", ao fim e ao cabo vazias, pois já tive que ouvir governistas me dizendo que é "dualismo" ser contra o impeachement e não apoiar o governo Dilma ao mesmo tempo...)=-=-=-
O que o PT quererá será um governo de "repactuação nacional", como tem feito menção Lula? Que mais bem pode ser lido como a tradicional acomodação, feita desde 2003, do capital e e das suas elites?
Continuara na ignóbil tentativa de repactuação intra-oligárquica que caracterizou os governos petistas por mais de uma década e que agora na hora do incêndio,(como bem explicitamente também se viu nas eleições de 2014) pede para os movimentos sociais e as esquerdas ajudarem a a pagar o fogo?
Ha uma chance concreta para a reorganização social através do governo com real representação da cidadania. Estamos na luta por "essa" atual democracia ( medíocre, que permitiu ocorrer tudo que ocorre neste momento no Brasil) por conta deste espaço de disputa. O PT saberá aproveita-la?
O PT fará, finalmente, a autocritica? Entenderá que o seu nome e sua história é poderoso, sim, para AINDA ser considerado pelas forças de esquerdas deste país (não apenas partidárias) para uma nova articulação em cadeias de equivalência das nossas diferenças, desde que faça este "mea culpa", também pragmático e realista (como sempre esse partido gostou de arrogar-se), porque já está comprovadíssimo que são as forças de esquerda as que sabem pelear e as com quem pode contar?
Mas esta luta será cobrada. Não se aceitará mais estelionato, mais retórico de "coração valente" pra depois chamar a escória da política brasileira pra governar, e não os reais atores de verdadeiras transformações sociais.
O sentimento que sairá da votação deste domingo realmente não será o da concórdia.
Se Dilma não cair, depois desta mobilização nacional gigante e radicalizada, e o PT seguir nesta posição patética de fazer retorica de esquerda, fazer questão da cor vermelha, mas seguir governando com e para a direita, ai sim teremos um golpe! E ai sim verão nossa desobediência civil!
Não há paz, ha trégua.
#pelaautocriticadoPT
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Este periodo de movilizaciones “contra el golpe” en Brasil no han ganado la tilde de “históricas” porque fueron a favor del PT, sino porque como no ha sido visto en más de 30 años, articularon alrededor del punto nodal "Abaixo a rede Globo!" a las izquierdas brasileñas, incluso y principalmente las no-partidarias, fortaleciendo a su paso el discurso por la democratización de los medios masivos de comunicación. Esto debe ser respetado y comprendido.
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Me parece muy bien la preocupación de UNASUR con la seguridad jurídica, en sus palabras, de la región. Yo lo que no entiendo es este uso vulnerable y esterotipado del término "político". Y esto se ve en en la retorica comun de muchos y muchos actores políticos que refuerzan este sentido de lo político, sabendo, en realidad (quiero creerlo...), que no deberian hacerlo. ¿Es que no son las razones, motivaciones, existencias en general siempre políticas? ¿En cuaquier esfera de la vida? Me sorpreende que, estando en el punto donde estamos en las ciencias humanas aun nos intimidamos con la palabra IDEOLOGIA. En la contienda brasileña, los dos lados hablan de lo "feo" que es lo "político" por "detrás" de todo este triste momento de maniobras, golpes y excesiones.
No, señoras y señores, aqui lo que hay en evidencia es lo ideologico, por adelante y por supuesto. La politica nunca es y nunca sera algo "simplemente". Política siempre fue y siempre será conflicto.
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Um pedido, talvez inocente...: Petistas e governistas, não tentem sequestrar as marchas pela democracia e contra o golpe! Não façam coro à narrativa midiática da Globo, aquela rede de TV que vocês hoje tanto criticam também, que tentam dizer que temos no Brasil um binarismo entre pró-governo, e os contra-governo. Vocês sabem, esse binarismo perverso não representa o momento.
Sim, vocês sabem!
Essas marchas não são históricas porque são contra ou a favor esse governo, senão porque articulam (em torno ao ponto nodal precisamente do "Abaixo a rede Globo", fortalecendo o discurso pela democratização da comunicação), como nunca visto em mais de 30 anos, as esquerdas brasileiras, inclusive e talvez principalmente as não-partidárias, e isso deve ser respeitado!
Ontem estivemos nas ruas de Recife, mais uma vez junto a certamente mais de 50 mil pessoas contra o golpe e pela democracia. Mas ver bonecos gigantes, dos tipos de Olinda, do Lula e da Dilma, como se fossem estandartes da alegria, ouvir os gritos de "Lula-Lula", como se também a ele não fosse possível atribuir tudo o que o PT se tornou, é muito chato, muito difícil. É muito, muito cansativo mesmo, marchar junto a governistas do governo federal brasileiro hoje que não querem fazer autocrítica.
PT partido em disputa? Há muito, mas há muito tempo mesmo , que não há nem sombra de disputa. Isso era coisa dos anos 1990, e sim, eu estava lá nessa época. Ali já dizíamos que partido, qualquer um, é instrumento, não fim. Que não se devia pensar na sigla como um simbolo eterno, que no momento que o instrumento ficasse obsoleto, se deveria joga-lo fora.
O PT foi uma grande "frente ampla" que na sua trajetória optou por uma conjugação esdrúxula com o neoliberalismo e o neodesenvolvimentismo - algo hoje chamado de "lulopetismo", e isso foi o começo do seu fim.
O campo majoritário daquela época começou a ganhar definitivamente o partido em 1995, com a eleição de José Dirceu à presidência da sigla, e o instrumento, a ferramenta que era o PT, começou a perder fio. Dai foi tudo se "endireitando", pra nunca mais voltar. O ápice pra nós - de uma determinada corrente petista de então - foi a famosa "carta aos brasileiros" da campanha de 2002, e logo a coligação com o PL, que permitiu o Lula chegar ao governo para alisar com uma mão os pobres, e alimentar com a outra os ricos.
Para outros grupos, que vieram a fundar o Psol, o ápice foi a Reforma da Previdência de 2003, e o Mensalão de 2005.
Quem ficou no PT: os incautos (ingênuos que nunca quiseram ver o rumo ideológico sem volta que o PT traçava e acreditam, até hoje, na "disputa interna"), os crentes (que tratam a relação com a sigla de maneira emocional-afetiva, como num dogma religioso), os fisiologisitas (que fizeram uma vida inteira de militância e dependência carreirista dentro do partido e dos cargos que as conquistas eleitorais permitiram), e os de direita mesmo, que sempre acreditaram na via "social-democrata" do PT, criticando a tal da "radicalização", termo muito comum naquele tempo para etiquetar as correntes do chamado campo de esquerda naquela época que denunciavam o que aconteceria (e aconteceu) com o partido se seguisse como seguiu.
Desde então, nunca mais houve disputa no PT, e nunca mais vai haver. O PT, agora, chegou ao seu limite em todas as dimensões, e por coerência ou pelo menos por um minimo de dignidade e responsabilidade, deveria autodestruir-se. Deveria acabar-se, olhar sua história, legado e atual situação e enterrar-se como uma referência do passado, sem fazer-se mais ridículo do que já fez. Deixar brotar o novo, porque "até do lixão nasce flor".
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"Está acontecendo" - El grito "Abaixo a Rede Globo" en las marchas contra el golpe y por la democracia en Brasil es no apenas indispensável, sino también representante de un determinante punto nodal para articulaciones de las izquierdas en el país. Crea muslos para la lucha historica por la democratización de la comunicación en Brasil. Y articula las izquierdas en un posible bloco historico, en sentido gramsciniano, en torno a este antagonico.
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Construindo hegemonia no Brasil? Sim, porque estamos vivendo um processo de universalização do particular. Porque estamos nas ruas do país nestes tempos na posição contra o golpe e pela democracia porque esta é a que agora articula, a partir de um antagonico maior, um conjunto de forças políticas de esquerda que de outra forma não marchariam juntas. Contingentemente foi este momento e posição, e não poutros, que foi capaz de canalizar o descontentamento, dar nome ao inimigo, tomar a iniciativa de convocar manifestações que aglutinem diferentes leituras dos acontecimentos. O slogan "abaixo a rede Globo!" é o ponto nodal para essa capacidade de representar, enquanto uma posição particular, algo maior, mais abrangente, neste caso a democratização da comunicação no Brasil que tem o potencial de incluir ainda outras demandas particulares. O teórico político argentino Ernesto Laclau chama isso de HEGEMONIA - essa situação resultante de uma relação em que uma determinada identidade, num determinado contexto histórico, de forma precaria e contigente, possa representar multiplos elementos. Vamos irromper como "terceira força" no Brasil através da luta pela democratização da comunicação, e não pelo chamado a eleições gerais. A hegemonia é contingente e precária. Há que lutar.
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Hoy en Brasil no tenemos apenas una judicialización de la política sino una politización del Judiciario. Y política se hace con lucha.
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LA HORA DEL CUARTO PODER - No hay los famosos y esperanzadores (muchos dicen ingenuos…) espacios y acciones de unidad e identidad de la izquierda brasileña desde los años 1980, se dice y parece evidente. Pero la situación resultante de la tilde, peyorada, de populismo que parte del Judiciario creó para sí mismo en su arrogante y, en la interpretación de muchos juristas, torpe actual forma de actuar - descaradamente asociada a una grande media corporativa nacional cada vez más denunciada como secuestrada de los intereses de las élites - parece haber generado un inesperado y necesario antagónico para establecer un articulador discursivo fundamental para promover cadenas de equivalencia entre actores políticos en la izquierda. Siempre tan desconfiados y sospechosos entre sí, y sin capacidad de coordinar un programa mínimo por todas estas décadas, parece que hay ahora un momento singular. La articulación de estos grupos parece ahora que ocurre alrededor de este negativo, de este antagónico que Sergio Moro y Rede Globo materializan, teniendo como punto nodal el inusitado discurso del Estado democrático de Derecho, expreso en el slogan “Nao Vai ter Golpe” y promoviendo el grito generalizado por la democratización de la media en Brasil.
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