Afirmar e reafirmar que “as coisas são assim” é conformar-se com a própria realidade criticada e, assim, mergulhar numa profunda contradição. Eu trabalhei e aprendi muito no DP e sempre mantive uma respeitosa relação. Por isso, não se trata só de uma discussão sobre o que Diário Popular é e quem eu sou e o conteúdo do texto em questão, o que, segundo nosso conformismo arraigado, faria natural a incompatibilidade. A pergunta é por que isso é considerado natural.
O debate sobre esse episódio que por uma coincidência, pessoalmente triste, teve meu protagonismo, trata em verdade dos paradoxos do exercício do jornalismo e poderia, ou até deve, desenvolver-se num marco teórico sobre teoria da comunicação (o que, a propósito, puxando um pouquinho o tema para uma relação com uma polemica afim, também é argumento para a necessidade da formação superior em jornalismo, pois é essa capacidade de análise que faz a diferença entre um jornalista e um relator de fatos, que, em gordos setores do imaginário popular, são a mesma coisa e por isso o “jornalista” só precisaria ter o “dom” de escrever bem).
Nesse marco, entre diferentes análises poderiam ser feitas, algumas são:
1- a mercantilizaçao da informação (jornais são considerados empresas comuns, apenas um empreendimento a mais no “ramo da comunicação”);
2- a institucionalização, com mentalidade prioritariamente empresarial, dos editores dos veículos (que ao assumir a lógica mercantil tratam com desdém qualquer argumento que ressalte a influencia ideológica e de interesses de poder);
3- a auto-censura dos funcionários das “empresas” de comunicação (pois no jogo da sobrevivência, se a organização é, na verdade, mais empresa que meio de comunicação, então ou se joga as regras ou se fica sem emprego);
4- a falta de importância ao jornalismo de opinião (mesmo um jornal sumamente conservador poderia, inclusive como estratégia empresarial numa tática de marketing, abrir, honestamente, espaço para colunas de opinião, como qualquer veiculo serio faz, que eventualmente vá em contra sua linha editorial. Por isso se chama jornalismo de opinião, não é complemento editorialista).
Isso para não falar da já clássica discussão sobre a hipocrisia do jornalismo brasileiro que, via de regra, insiste no discurso da objetividade e imparcialidade e, muitas vezes, como nesse episodio em questão, se vê obrigado a assumir suas posições
Por fim, há ainda os fatores locais também, ou seja, o modus operandis das instituições, governo, organizações e empresas pelotenses, que muitas vezes confundem os limites dos seus espaços, talvez propositalmente, e configuram essa realidade, tão sujeita a critica, tão pouco disposta a auto-refletir e avaliar se isso não é, também, fator essencial para as barreiras de um real projeto de cidade.
2 comments:
Minha opinião sobre o fato já conheces. Não repetirei. Já faz um bom tempo que tu me disse: pa'lante y masna! Temos muito o que fazer ainda! Com total consciência da tua capacidade e valor e, também, da beleza de ser quem tu é, me lisonjeia caminhar junto contigo nas empreitadas da vida. Assim que, coloquemos em prática: pa'lante y masna!
Sou pelotense nascido e criado aqui. Morei um tempo em PoA mas acabei voltando afinal essa egregora pelotense nos suga de volta e não satisfeita ela nos arremessa ao chão. Sou Professor na UCPEL, formado e mestre em Ciência da Computação. Queria te parabenizar pela perfeita descrição que fizesse, exatamente o que eu sempre digo mas conseguisse expressar com palavras muita coisa que ficava trancada no meu coração de pelotense, de quem ama essa cidade apesar de tudo e todos. Nota dez para teus artigos e gostaria de ver tu escrever mais sobre a Satolep! Grande abraço
Post a Comment