Minha "carreira" de colunista de opinião no Diário Popular foi bastante curta. Trabalhei como repórter no DP, que é um jornal da minha cidade natal que figura entre os mais antigos do pais ainda em circulação, no período de 2003 a 2005, logo depois de graduado e até o momento que decidi ir para Londres, naquele ano. Tenho ótimas relações com muitos nomes, em todos os níveis, da empresa e tenho certeza que também tenho o afeto de muitos lá. Entretanto, o texto que deveria ter sido minha segunda coluna para essa recente e nova relação profissional estabelecida com o jornal foi impiedosamente censurado. Havia escrito algo com referencia, em tom critico, a posse do novo bispo da cidade que se daria justo no dia em deveria ser publicada o que seria minha segunda coluna e para minha surpresa (sim, surpresa) o texto foi ignorado e outro, que embora também seja de minha autoria mas não estava fechado, foi publicado sem minha autorização.
A direção do jornal manifestou, curiosamente, que o texto não esta de acordo com a linha editorial do jornal (pese seja um texto de opinião e, por conceito, não tem obrigação de estar em acordo com a linha do jornal) e ao fim de um longo debate decidiu dar por encerrada minha atuação como colunista. Sobre o texto alegam que ha “inverdades” e “agressividades”, quando, muito diferentemente, trabalhando com o conceito de perspectiva que seria um dos motivos da minha disposição no desafio de escrever colunas quinzenais de opinião, apenas comento questões simples e quase obvias - mas num tom critico – para quais pensava, pelo tipo de acordo que havia sido estabelecido, que o jornal estaria aberto e preparado.
Minha relação pessoal com os editores responsáveis em nenhum momento foram ríspidas ou deixam de existir, no entanto em âmbito profissional, como claro deixamos, estão cientes de que contataria outros meios de comunicação em Pelotas para esclarecer o ocorrido e oferecer o texto em questão para publicação. Assim, segue abaixo "texto da discórdia".
Y seguimos adelante!
O novo bispo mete os pés no barro!
Por Aleksander Aguilar - Artigo censurado pelo jornal Diario Popular no dia 27 de setembro de 2009
Dez estatuas de mártires cristãos do século XX conformam a chamada Galeria dos Mártires que adornam a fachada oeste da abadia de Westminster, aquela mencionada no famoso livrinho de Dan Brown, em Londres. Está bem em frente ao Parlamento, onde fica também aquele relógio conhecido como Big Ben (que na verdade é o apelido do sino da torre, não do relógio). Justo ao lado da estatua de Martin Luther King está a do quarto arcebispo da república de El Salvador, Monseñor Óscar Romero. Homenagem a um bispo que entregou vida e morte em defesa dos direitos humanos e que, como muitos outros bispos, teve muita influencia política. A de Romero (tema para outro artigo) foi tamanha que ajudou a conformar o destino do país nos anos 80. Ao longo dos séculos, seja no império Carolíngio medieval ou na America Central contemporânea, os bispos têm poder e em Pelotas a regra não é exceção.
Alguns setores da cidade, os que pertencem ou se relacionam com o poder, aguardaram e receberam a noticia de um novo bispo para a unidade administrativa católica local com a ansiedade de um adolescente planejando sua primeira vez. Especulações sobre o futuro da diocese, da universidade, entrevistas “em primeira mao” com os atores envolvidos, todo um fuzuê. É um novo bispo, e numa cidade onde em várias circunstancias o ditado popular “vá se queixar ao bispo” tem valor literal, a mudança desse que, stricto sensu, é apenas o funcionário de uma organização religiosa tem peso de novo governo em processo de instalação.
Justiça seja feita, o provincianismo nesse caso não é culpa de Pelotas. Prova cabal e atualizada do poder dos bispos é o vizinho Paraguai, cujo presidente recém-eleito, Fernando Lugo, é um bispo que deixou o sacerdócio em 2007 para se tornar mandatário do país (e, diga-se de passagem, é aparentemente pai de seis filhos gerados não pelo Espírito Santo).
Contudo, isso tampouco é apenas um sintoma do “atraso terceiro mundista”. A legislação espanhola, por exemplo, que determina a separação entre o estado e a igreja só entrou em vigor com a Constituição de 1978. Ainda assim, segundo o jornal El Pais, 144 milhões de euros (algo em torno de 380 milhões de reais) foram transferidos em 2006 do “Ministerio de Hacienda” espanhol para uma conta da Conferencia Episcopal destinada, entre outros gastos, ao pagamento de salário dos bispos.
Ninguém no mínimo de sua sobriedade se atreveria, então, a questionar o óbvio: a igreja católica ainda é uma poderosíssima potencia econômica, cultural e educativa e, inclusive, imobiliária.
Esse poder de facto se manifesta, por exemplo, na gestão de obras de caridade, serviços culturais, hospitalares e educativos onde a UCPel, no caso de Pelotas, é o mais destacado caso. A universidade, com importante papel social em toda a região, tem grandes dividas e sofre criticas por, ao que parece, haver mantido uma administração a base de compadrerismos. O chanceler da UCPel, que é quem escolhe o reitor da instituição, é o bispo de Pelotas.
Mas um bispo em Pelotas também tem o poder de definir calendários de massa. A Romaria de Nossa Senhora de Guadalupe, que todos os anos leva milhares de pessoas até o santuário na Cascata, foi instituída pelo bispo demissionário, Dom Jaime Chemello. A santa mais importante do México começou a fazer-se popular na região de Pelotas depois que Dom Jaime participou de uma conferencia de bispos naquele país e decidiu “importá-la”, em 1979.
Em 2003, na 18ª ediçao da romaria, o agora novo bispo da cidade, Dom Jacinto Bergmann, participou das seis horas de caminhada sob chuva e muito barro que caracterizou o evento aquele ano. Acompanhei e conversei com ele – que na época atuava como bispo-auxiliar – durante todo o trajeto, numa reportagem para o Diário Popular. Bem-humorado, lembro que diante do enorme lamaçal no caminho, Dom Jacinto afirmou: “Eu gosto quando os desafios não são assim tao fáceis”. Palavras proféticas.
4 comments:
Censurado é muito melhor!!! Principalmente quando se trata da nossa opinião, da nossa vontade... só fiquei aqui pensando que o divino espirito santo deve ter feito milhões de testes de dna, e se bobear ainda foi pago por isso.
Beijo
Ahhh!! já to divulgando o texto proibido, viu
O texto já está lá, sabe que eu não gosto de perder uma "briga" destas em defesa da liberdade de expressão.
Beijão
excelente Aleks!! pucha carajo en que siglo estamos trabajando "nosotros" periodistas??? realmente es un escandalo! pues molt bé tu toma de posición y nada sabes que un momento crítico siempre se supera (cap.7) adelante no más!
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