Wednesday 27 June 2007

Como tudo começa

Levou tempo. Nada parecia convincente. A menção de teorias jornalísticas, a utilização por prestigiosas personalidades e organizações, a lembrança dos 15 minutos de fama de Andy Wharol, de 1984, de Big Brother e nem mesmo o ingresso no Orkut mostravam-se suficientes para justificar a manutenção de um blog.
Uma latente rejeição a novidades nerds e geeks, de origem desconhecida, foi agravada pela maneira com a qual o conceito de blog apresentou-se à época das descobertas do mundo on-line: “diário virtual”. Além da idéia cafona provocada pela “imagem acústica” de diário, essa definição incorpora outra antipatia que é o texto em primeira pessoa. Está na moda! E a culpa, ao menos em razoável parte, é dos blogs. O jornalismo, dizem boas e más língüas, morre logo ali. A despeito de qualquer debate conceitual sobre jornalismo, o fato é que todo mundo escreve, todo mundo pode ter seu texto publicado e eventualmente lido. Num antes historicamente não muito longe não era assim. Quem lembra o mundo antes da Internet deve ter feito curso de datilografia em máquina mecânica com direito a breves lições em máquina elétrica. Há quatro anos, durante uma enquete para uma matéria num jornal laboratório de uma das cadeiras da faculdade de Comunicação Social da UCPel, feita entre os próprios alunos do curso, a maioria respondia sobre blogs com a mesma interjeição (ãh??).
Hoje na babilonia tecnológica da comunicação, ou na revolução como alguns preferem, onde se está condenado a acompanhar de perto novos termos e ferramentas como podcasts, videopodcasts, feeds e streaming o coitado do blog já soa quase retrô. Mas se você é da area, não se atreva a dizer que não conhece esse interminável jargão! Pois o caso do jornalismo é tão sério que mesmo aquele editor cinquentão de jornal do interior que foi formado em linotipia tem um blog. E ele também está descobrindo o podcast… Logo, se o jornalismo está em extinção, chamem as organizações protetoras dos animais (nada pessoal) e salvem-no! Não houve sucesso com o pássaro Dodô, mas vejam o bisão americano! Está quase fora de perigo.
O fato de o mamífero mencionado ser chamado de bisão americano não é nenhum trocadilho com a Escola Americana. Essa não consegue salvar ninguém há tempos (agora sim tem trocadilho). Basta ver onde os blogs, que inclusive nasceram lá, foram parar. De diários virtuais, para meio alternativo a veículos de jornalismo e ao final o próprio veículo. E isso graças a que? Ao velho e renovado voyeurismo. "A discrição e o constrangimento em tornar pública uma história pessoal já não faz parte do sentimento de quem escreve um diário atualmente. A geração que cresce sob a adequação da rotina aos meios tecnológicos adota a internet (...) para expressar suas intimidades.", diz a revista Experiência, da Faculdade de Comunicação da PUC-RS (junho,2002).
Democratização?
Assim, uma característica óbvia que marca todo esse atual comportamento esquizofrênico da comunicação é a pessoalidade. Linguagem descompromissada e espontânea e, novamente, textos em primeira pessoa.
Sim, essa é uma condição sine qua nom característica em sua natureza. O blog mostra a personalidade de quem o escreve. Profissional ou amador, um weblog exige um toque pessoal, uma individualidade que reflita seu autor. Daí vem o fascínio, do voyerismo pós-moderno que confirma as previsões de Wharol, Orwell e que alguns se atrevem a apontar como avanço na democratização da comunicação.
Tô dentro!
Eu não gosto de escrever em primeira pessoa ou com termos coloquiais e linguagem espontânea (Afinal que diabos é “linguagem espontânea”?). Antipatizo com a gratuidade ou com o levianismo que por vezes, muitas, isso gera no contexto escrito. É melhor nao confundir o direito à comunicação e expressão com a proliferação da verborragia insistente.
Vale a lembrança da letra de João Ricardo para o Secos e Molhados, “Eu não sei dizer nada por dizer, então eu escuto”. Eu muitas vezes escuto. Mas também muitas vezes digo, quando acho que tenho o que dizer. Gosto do conceito de dizer e não-dizer do lingüísta Oswald Ducrot. Por isso agora tenho um blog. E isso se chama Dêiticos.
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Deixis – do grego δειξις, ato de mostrar - é o processo pelo qual palavras e expressões dependem absolutamente do contexto. É a forma de designar o tipo de relação referencial que se estabelece entre uma expressão lingüística e um elemento da situação de enunciação. O modelo deste tipo de referência é o signo eu, que designa, no enunciado, a pessoa que diz “ eu”. Dêiticos são palavras que referem ao pessoal, temporal ou espacial de uma expressão. Nos dêiticos incluem-se pronomes pessoais, pronomes demonstrativos e advérbios. Se alguém diz: Eu quero ler este blog, o referente de “eu” é identificado de forma completa pelo fato de ser "eu quem enuncia a frase". Mas para destacar o blog que eu quero ler entre os outros que estão na rede, é necessário a presença do dêitico “este”, elemento da “mostração” por meio do gesto, do olhar, da atitude. A deixis é um dos traços que distinguem a linguagem humana das linguagens artificiais.

5 comments:

Anonymous said...

eh isso ai meu bruxo !!!!!!!!
pod cre...gostei do argumento para ter um blog....
tenho certeza que tu vai contribuir com esse mundo virtual mais do que ele merece...heheh...
pq essa democrabanalização dos meios de comunicação ta foda....
ta virando bagunça....
e tu sabe neh....
"...nao irmao...artista nao...os bloggers tao ingrupindo sem nenhuma noção...."
abraço babilonico boa sorte nesse novo projeto

Anonymous said...

Oi, Aleks
Ameiiiiiii....tudo de bom mesmo.
Sou tua fã, tu sabe disso, né?
Vou ficar ligada no teu blog.
bjs com saudade
Fernanda Romagnoli

Anonymous said...

Oi Aleks!
Adorei o espaço... pra mim também serve pra treinar a leitura em inglês... e saber das tuas aventuras e aprendizados por aí.
De vez em quando te visitarei...
Forte Abraço!
Aline Crochemore Hillal Leal
From Pelotas/RS

Alberto Lung said...

bem vindo! gostei muito do texto introdutório, espero, não duvido, encontrar material bom de leitura por aqui, já assinei o RSS.


se tiver vontade da um passada pelo meu blog... o estilo é algo diferente, mas podes chegar a gostar.

so algumas dicas... NãO DESANIME! blogs costuman brincar bastante com nosso sentimento... hehe...



Bom Blogging...

Moisés said...

vose eh inteligentaum!!11 (y) huhu a confirmaçal é ixprk :o