Esses dez anos de atividades emancipatórias do projeto Zapatista, que não ignoram o peso das críticas que tem recebido com essa experiência, foram celebrados neste mês de agosto na Escuelita para la Libertad según los Zapatista, em Chiapas.
No ano que a rebelião iniciou, em 1994, o jornal New York Timesdenominou-a como a “primeira revolução pós-moderna latino-americana”. Muito dessa ideia era marcada pela sua maneira de falar, particularmente nas palavras do rosto-público-fumando-cachimbo da organização, Subcomandante Marcos, que expressava uma postura nova e entusiasta para um grupo insurgente. Diferentemente dos marxistas revolucionários que os precederam, os Zapatistas não falavam com imposições e determinismos, suas mensagens eram mais poesia do que bravatas. Eles apresentavam uma imensa imaginação política e usam desde o inicio da rebelião a internet e as novas tecnologias da comunicação com satisfatório êxito.
Mas desde La Sexta Declaración de la Selva Lacandona, em junho de 2005 (La Sexta), e do começo da La otra campaña, em janeiro de 2006, os Zapatistas estiveram afastados da mídia, numa, denominada pela imprensa, “tática do silêncio” e interpretada por muitos como um enfraquecimento dos rebeldes. Ainda há muita pobreza nas comunidades zapatistas. No entanto, há também conquistas materiais, tangíveis, e não apenas avanços em dignidade e conceitos abstratos.
Os cerca de 1500 ativistas convidados para visitar Chiapas observaram o que foi dedicado neste tempo de distancia dos holofotes. Estudaram e receberam aulas dos próprios indígenas Zapatistas, de três equipes de professores e professoras que contaram com material didático, quatro livros e dois dvd´s, sobre Governo autônomo, participação de mulheres e liberdade, sobre sua experiência com autonomia. Os estudantes foram hospedados pelas próprias famílias nas suas terras e casas para aprenderem como é ser membro de uma base de apoio Zapatista.
“¿Será porque acaso intuyen, saben, conocen, que la luz no viene de arriba, sino que nace y se crece desde abajo? ¿Que no es producto de un líder, jefe, caudillo, sabio, sino del común de la gente? ¿Será que en sus cuentas lo grande empieza pequeño y lo que sacude al mundo cada tanto, inicia con apenas un murmullo, quedo, bajo, casi imperceptible? O tal vez imaginan cómo es el estruendo de un mundo cuando se desmorona. Tal vez saben que los mundos nuevos se nacen con los más pequeños.”
Algumas críticas ao Zapatismo consideram os rebeldes uma força desgastada, com grande retórica, mas pequena capacidade, incapaz de projetar-se para alem de suas bases rurais: “O exemplo Zapatista não pode ser seguido em todos os lugares, nós não vivemos nas selvas de Chiapas para criar exércitos rebeldes e comunidades autônomas”. A resposta, porém, é simples: os Zapatistas nunca se projetaram como o modelo a ser copiado. Eles construíram um mundo no qual eles realizaram sua própria visão de liberdade e autonomia, e continuam lutando por um mundo onde outros mundos sejam possíveis, e na celebração de suas experiências convidam o mundo para vê-las.
*Aleksander Aguilar é jornalista, doutorando em Ciência Política e Relações Internacionais, candidato a escritor, e viajante à Ítaca, especial para o Nota de Rodapé
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