Saturday 31 December 2011

Existencialismos de ano-novo

I did not restrain myself. I let go completely and went.

To those pleasures that were partly real,

parltly swirling in my wind,

I went, into the lighted night.

And drank of potent wines, such as

the fearless in their sensual pleasure drink.


(I went - from C.P. Cavafy)



Tratei sempre dos lugares em que morei mundo afora com a maior naturalidade possível. Nunca busquei, no entanto, a forçação de barra da integração, tentando fazer do estranhamento algo usual, artificializando-o por conta do desejo e/ou necessidade da adaptação. Tampouco porém estabeleci relações alienigenas, daquelas que não apenas apontam todas as supostas diferenças como também correm atrás delas por conta também do desejo e/ou necessidade de demarcar-se, buscar pertença.


Um viajante não busca marcar diferenças - como o colecionador de curiosidades de antigamente para serem exibidas num circo de excentricidades. Busca antes encontrar as semelhanças na diversidade, busca encontrar os entendimentos.


Nem trato o corriqueiro de um lugar como exótico e surpreendente só porque não é o "meu" corriqueiro, nem assumo a postura blasé, (muito comum inclusive em londoners) ,sobre o novo, pois isso significaria a tentativa patética de incluir-se sem reconhecer a diferença; como se existisse entrosamento natural.


Eu criei, em considerável medida sem querer, uma amplitude de supostas possibilidades pessoais baseadas na vivência direta que não muitos experienciam, o que é um privilégio por um lado mas desestabilizador por outro. A dinâmica de existência que resulta desse instável estilo de vida tem seu quê de opressor. Bem-vindo ao clube dos eternos insatisfeitos e inconformados, cuja filiação , apesar de emitir uma carteirinha atraente e brilhantes ás vezes é mais maldição do que benção.


Eu sei que não participo solitário desse circulo marcado pelo paradoxo, mas estamos demasiadamente espalhados e nossas reuniões são muito eventuais. Por isso valorizamos tanto o encontro, e fazemos dele o bálsamo que cura a ferida dos constantes "adeuses". Não é porra-loquice, não é excentricidade, não é desorientação. É apenas uma percepção posta em prática através das oportunidaes surgidas ou criadas mediadas por uma dose de audacidade.


É claro que a implementação dessa percepção é mais fácil para aqueles que contam com salvaguarda material e financeira e por isso, sem dúvida, paga-se duro essas escolhas. A opção pelo desenraizamento é um processo efetivamente dialético, por vezes doloroso, o qual eu, sem criar factóides de exoticidades, nem fazer cara blasé, ainda estou construindo.


E para manter o paralelismo e abrir e fechar este "inner-texto" como uma citação, lembro da frase de outra poeta, caribenho, prêmio Nobel de Literatura, Derek Walcott, a quem vi ao vivo este ano em Olinda: I didn´t want a category, but an experience".

3 comments:

ediane. said...

A nossa casa é onde a gente está
A nossa casa é em todo lugar.

D&R said...

Não são raros os assuntos em que nos colocamos em campos opostos, mas esse me surpreende. Não concordamos em nada! Óbvio, concordar não quer dizer aceitar. Existem palavras que são muito tu: encontros, reuniões, agenda, opção, experimentar. Elas me dizem muito sobre tu, assim como diz o amor fati, a postura não blasé, o surpreender-se sem naturalizar a surpresa. Tudo é tu, Aleks, tu faz tudo teu e eu não entendo como tu consegue porque tu sabe que eu não conseguiria. Tenho minhas raízes bem fincadas (mas não presas, eu espero..hehe), minhas resistências, meu chão. Tem rastros teus por toda a cidade: lembranças ao passar por alguma rua, pessoas que me perguntam por tu, o Manu Chao que toca dnovo (ahaha). E, me pergunto, como pode isso não ser teu? Ah...são coisas que me escapam ao entendimento, coisas que talvez eu nunca entenda. Pq é tu. Pq sou eu. Mas, venha simbora, hômi, a casa é tua, a porta tá aberta e a rede tá posta. E, quando chegar, vai cantar aquele frevo, tal qual eu te disse uma vez. hahaa

manu, a riane said...

o 'me gusta' não deu conta. me encanta, monster :)