Tuesday 12 March 2019

Raiva, pressa e cuspe

Às vezes eu escrevo como cuspo. Não por desgosto, mas pelo abrupto. Não porque é rápido, mas por viscoso e dissoluto, que é como tantas vezes sinto que devo escrever, porque experimentei longas conversas com meus botões, percebi que “tô me cobrando muito e recebendo pouco”, como diz o poeta, sinto urgências, e por fim me permito à raiva ancestral que acompanha minha memória genética, minhas vivências, meu espirito.
Raiva é a palavra mesmo. Urgência também. Hoje faço público um aviso, um anúncio, que não é grave, mas pra mim é solene: quero deixar bem avisado a quem se detém por aqui que do que eu falo é do que eu vivo e vivi. Eu só falo do que eu faço. Eu não sou um espectador, e nada tá dito em vão. Esse texto é pra isso. E isso não é 'só isso', é muito, embora pra ti possa parecer pouco. Eu falo escrevendo, e o signo ‘eu’ acaba por fazer-se dêixis quando aponto o dedo pra mim mesmo; me expresso na dependência do contexto, “yo soy yo y mis circunstancias”, a primeira pessoa é um lugar, de fala, de luta, de reflexão.
Não programei tempos para publicar logo agora, num ‘desaniversário’, essa reflexão-aviso. Mas é provável que venha a calhar. Ou atrapalhar. Como faço a cada março, respondi uma-a-uma todas as mensagens de felicitação e bons desejos pelo novo ano. É sincero mesmo, porque tão ocupadxs que somos todxs, digitar os caracterizinhos ali toma nosso tempo de uma forma que quem recebe deve sentir-se privilegiado... (imagina telefonar!!), assim que pra quem se digna, não por protocolo, mas por atenção, a escrever mais de duas palavras (tem que ser mais de duas, pô!) pra deixar um registro de boas vibras, eu também escrevo de volta, ritualizando mesmo a dinâmica, porque “gentileza gera gentileza”, disse outro poeta.
Mas mais um ano, e você, foi o gatilho para cristalizar o pensamento de muitos anos de autossabotagem. Na verdade minha intenção, desde dezembro passado, era não publicar absolutamente nada em redes sociais até este texto vir à tona. Não deu certo porque, ainda que com poucas incursões, tive que me manifestar em alguns assuntos, mas uma ‘nova fase discursiva’ começa agora.
‘Quando tudo começa’ em fato foi em 2007, estando na Inglaterra já há dois anos como migrante laboral, quando iniciei um blog tardio impelido pela experiência, pela necessidade de expressão de percepções e opiniões em escrito, que é a linguagem com a qual me sinto intimo.
Mas o tal blog sempre foi feito apenas para ser o que é até hoje: um precário arquivo pessoal on-line. Nunca tive outra pretensão com aquele projeto que não fosse essa, e por isso ele segue e seguirá com essas características.
Este testemunho, então, não é nenhuma estratégia de marketing pessoal nem publicidade de qualquer novo projeto digital, mas sim uma forma de vir afirmar que eu falo de um determinado lugar social que carrega ancestralidade, subalternidade , força e revolta; e que já naquele período de inicio de blog eu admitia a hegemonia da pessoalidade na linguagem, mas paradoxalmente tenho desde então, e antes, constantemente tergiversado e evitado falar sem a capa supostamente protetora da linguagem analítica e racional, propriamente séria, do texto cientifico, exemplarmente impessoal...
Sob um alto titulo acadêmico, diante da vida que me tomou produzir textos de maneira ‘asséptica e descontaminada’, tal como a maioria das instituições formais exigem, minha lógica era a de que assim poderia obter legitimação entre pares do meio. Um intelectual doutor, especialmente em certos campos das Humanidades, precisa fazer-se respeitar por sobriedade e elegância na escrita, diziam, me inculcavam, como se tais atributos fossem o contrário da primeira pessoa.
É verdade que naquele ‘Como tudo começa’ – titulo do meu primeiro post (numa coxa reflexão sobre a própria decisão de iniciar um blog) – eu já revelava que não era da minha predileção escrever em primeira pessoa ou com termos coloquiais e linguagem dita espontânea. “Antipatizo com a gratuidade ou com o levianismo que por vezes, muitas, isso gera no contexto escrito. É melhor não confundir o direito à comunicação e expressão com a proliferação da verborragia insistente”, encontrei que dizia eu mesmo há mais de uma década.
Esse argumento tem força, mas era mais bem parte da roupa de racional-objetivo que me ensinaram que eu deveria vestir, e que vinha em novas cores e modelos mais refinados particularmente no programa de doutorado que realizei. Fui sufocando pouco a pouco, embora apresentando algumas resistências, as demonstrações e produções de criatividades e deslocamentos.
Não por coincidência, ingressei nas redes sociais apenas em 2012, mesmo ano em que também ingressava no doutorado.
É por isso que muitos e muitas de vocês que eventualmente me leem e veem aqui não sabem nada de mim, ou muito pouco, além da condição sisuda de acadêmico que me deixei gerar a partir do tipo de fala que majoritariamente passei a falar neste tipo de mídia.
Ano passado, contudo, fiz uma experiência e publiquei dois textos abertos, como post de facebook, a partir de, digamos, subjetividades e identidades. Um sobre meu pai e outro sobre minha mãe. Numericamente pouco, simbolicamente bastante. Aos poucos fui e vou me dando conta, ou assumindo, que é de identidades mesmo que falo, construo e problematizo no meu trabalho que é, ipsi litteris, minha vida (um pouquinho de latim ai porque eu tô problematizando meu lugar acadêmico, não negando...).
Foi no ano passado, entre tanta vida na estrada que já me marcou na pele e no espirito, as viagens que mais recentemente me abalizaram particularmente, e que ainda elaboro: o período entre outubro a dezembro me foi especialmente provocador e transformador, e é desde lá entre recuperações e compromissos que lentamente tenho chegado até aqui, a essa fala desarmada que faz a antessala do peso da digna raiva, da urgência de gritar que não falo de exotizacões, não trato de problemas alheios, não me meto em projetos aleatórios e difusos, não vivo a vida olhando de nenhum lugar reservado na janelinha; falo de mim buscando a mim mesmo, entre outras subjetividades; sou centro-americanista porque sou centro-americano, sou brasileiro gaúcho porque cresci nos pampas. Essa Los Angeles no ano passado, que começou e não termina, foi/é um abismo e uma porta. Vou falar com densidade sobre isso em “UN CENTROAMERICANO DEL SUR EN LA CENTROAMÉRICA DEL NORTE”, texto em produção que também vou postar aqui.
Pode parecer hesitação quando eu demoro pra te responder o que eu faço, onde eu moro, pra onde eu vou, mas se estou eu mesmo pensando pra te dar a resposta objetiva que tu qualificas como eficiente, imagina tu que não sabe porra nenhuma de mim!
Eu venho de pai guerrilheiro e de mãe guerreira, e a partir desse lugar o que falo é o que eu vivo. Você pode não saber, mas eu quando eu falo sobre periferia, comunidade e organização sociopolítica não é porque eu li num livro, é porque eu cresci numa Cohab 2, e a gente se reunia e se organizava lá, através da cultura da rua e das esquinas, do mesmo jeito que fizemos em outros bairros da minha cidade natal, do mesmo jeito que me reúno e me organizo até hoje em diferentes quebradas da minha atual cidade de residência e de outros territórios em que morei, incluindo meu segundo país El Salvador e outros onde pude viver. Quando eu falo de discriminação e preconceito é porque já tive muito segurança de loja me seguindo nos corredores, muita porta fechada na cara, muito porteiro me barrando, muito baculejo (atraque) na hora errada, muita mochila revistada. Quando eu falo de hip hop, poéticas contemporâneas, e força organizativa é porque eu comecei a ouvir rap nos anos 90, ia nos eventos locais naquele tempo, escutava-via-fazia; é porque consegui me graduar, também, em Letras, porque a gente lotava evento literário quando não tinha rede social pra divulgar. Quando eu falo de artes visuais é porque eu produzo, pesquiso, tenho instalação, perfomances e exposições no Brasil e fora; quando eu falo de música é porque leio partitura, tenho vários anos de Conservatório como aluno de extensão universitária, bandas em que cantei, alguns shows, composição de letras e voz até já gravadas. Quando eu falo de partidos políticos e de movimentos sociais não é só a teoria que li e aprendi a sistematizar por conta de ofício, são muitos anos de reunião, muita greve e protesto, choque com policia, retaliação de autoridades federais, perseguições administrativas, marchas curtas e longas, acampamentos. Quando eu falo de democratização da comunicação não é só porque eu também me graduei em Jornalismo, e sim porque a gente construiu uma rádio comunitária que já, já cumpre 20 anos; é porque eu fui impedido de emprego ‘bom’ em empresa jornalística grande por me negar a cortar o cabelo, é porque a gente fez fanzine, gritou em alto-falante em caminhãozinho pelos bairros, e hoje mobiliza muito também em redes sociais nestes tempos digitais. Quando eu falo em capoeira é porque eu vivo nela há muitos anos, onde quer que seja que eu viva, deixo seu braço de mãe me abraçar. Quando eu falo que me preparo para finalmente publicar livros de literatura stricto sensu é porque, além do acadêmico (capítulos, compilações e organizações), tenho muita história pra contar e pra inventar do que eu mesmo pude viver em cinco países em menos de 40 anos. Quando eu falo em inglês, Ah, mó véi, é porque esfreguei muito chão, distribui muito panfleto, entreguei muita pizza, carreguei muito copo, passei muito frio. Quando eu falo de carnaval é porque vivi "Pernambuco Imortal", desci e subi muita ladeira na cauda e na cabeça do Elefante, acompanhei o Homem da Meia Noite, tomei axé pra ficar legal. Eu falo em discurso e descolonialidade porque aprovei uma tese doutoral, e porque cosmopolítica, tecnopolítica e geopolítica são o eixo do que tô produzindo, falando, vivendo. Mesmo o meu centro é periférico, viva a América Central!
É poeira da terra, queimadura do sol, queimadura de gelo, vergonha, sangue, sujeira, lágrima de raiva, humilhação, indignação, tendinite, gastrite, morte, gargalhada.
Mas pra quem quiser detalhe e todo curriculum vitae eu passo a porra do meu Lattes, Linkedin, portfolio e ainda mando o Facebook fazer um videozinho comemorativo de história pessoal. Me respeita, caralho! Não se espante, não se comova, ironize se quiser, mas também seguinte, que vou repetir: me respeita, caralho!
O meu velho blog, que de tão velho tem o mesmo layout desde o seu inicio, tem inspiração no conceito de Deixis – do grego δειξις, ato de mostrar – que é o processo pelo qual palavras e expressões dependem absolutamente do contexto. Dêiticos são palavras que se referem ao pessoal, temporal ou espacial de uma expressão. Nos dêiticos incluem-se pronomes pessoais, pronomes demonstrativos e advérbios. Quando eu iniciei a escrever online não tinha ideia de que o simbolismo do conceito de dêiticos serviria pra chegar até aqui.
A deixis é um dos traços que distinguem a linguagem humana das linguagens artificiais. Mas de ti eu não quero assentimento nem distinção, senão quero deixar aqui, público, esse anúncio, esse aviso. Falar em primeira pessoa é mesmo uma dificuldade, mas eu também sei de onde venho, e quanto eu mais eu caminho mais eu sei pra onde eu vou. Tô com raiva, tô com pressa, tô cuspindo. E é só o começo.

Thursday 19 July 2018

A Saint is not an Orixa

O dia 16 de julho é feriado em Recife porque é dia da celebração de Nossa Senhora do Carmo, a sua padroeira, acontecimento cultural-religioso com mais de 300 anos de prática.

É dia então de compartilhar a reflexão abaixo, do Alexandre L'Omi L'Odò, que é a principal referência do meu texto-foto A SAINT IS NOT AN ORIXA: COSMOPOLITICS, FAITHS & STRUGGLES IN LATIN AMERICA, um dos capítulos do livro WORDS OF TRANSITION- RITES, CIRCLES, TRIANGLES AND WATER (2017, ISBN 978-9925-7376-0-4).

Daí vamos de Nossa Senhora do Carmo a Oxum analogamente como vamos de Afrodite a Yemanja (y San Simón/Maximón/Ri Laj Mam).

Essa publicação (cuja versão impressa está em circulação e a versão digital ainda não foi liberada para compartilhamento) é um dos resultados do projeto, de movimento continuo, do coletivo artístico ‘Re-Aphrodite’, conformado por pesquisadoras e ativistas do campo das artes no Chipre que, muita gente não sabe, é uma pequena ilha de grande e antiga complexidade política e cultural (culturas otomanas e helenísticas tem ali uma milenar conflitividade), independente como país desde apenas 1960, hoje parte da União Europeia, situada na histórica posição geográfica entre a Grécia e a Turquia, e em cujas praias nasceu a mitológica deusa Afrodite.

Pessoalmente, fui migrante laboral vários anos em Londres e Barcelona, entre 2005 e 2011, mas meu maior intercâmbio cultural por aquele lado do Atlântico talvez tenha sido mesmo com as culturas helenísticas, do Chipre e da Grécia, dado a minha história de relação pessoal construída por lá com Evi Tselika. Desde que voltei ao Brasil, em 2011, temos realizado várias trocas de projetos em algumas linhas de preocupação e reflexão comuns na interface da arte e da política.

A ideia desse livro surge de uma dessas trocas sobre aprendizagem e arte, que de alguma forma fez-se em conversas sobre Afrodite e Yemanjá (e outras divindades femininas de outras culturas) e ao mesmo tempo em materializações, em forma de exibição e práticas artísticas, sobre arte socialmente engajada, particularmente em Nicósia (capital do Chipre) e Rio de Janeiro.

O foco foi/é a reflexão sobre transição, em termos de integração, amalgamento, fluxo de sistemas de crenças e a rearticulação de rituais religiosos através das migrações (historicamente falando) e sobre o desenvolvimento de práticas ao redor dessas questões em contextos políticos específicos. Não se trata de uma afirmação ou avaliação do “multiculturalismo”, mas um esforço de registro de práticas e pensamentos de práticas vividas, políticas e existenciais.

Seus contornos foram dados a traves da exploração das trocas de visões sobre altares religiosos e hábitos cotidianos sociopolíticos em projetos realizados nos Jardins Municipais da cidade de Nicósia (2016), em uma ampla exposição que o “Re-Aphrodite” teve o privilégio de realizar no Museu de Arte Contemporânea de Niterói (Guanabara Bay: Hidden Lives and Waters Exhibition 2016), e numa cozinha na Shelly Residence, na cidade de Pafos, também no Chipre (2017).Cremos que elementos de nossas práticas ritualísticas são refletidas em nossos hábitos de mobilização política, nossa performance na comunidade, em como somos e nos comportamos em nosso cotidiano. Cremos que essa publicação serve para reativar nossos próprios questionamentos transicionais.

Fotos: Aleksander Aguilar - exemplo de imagens presente na publicação: Aniversario de San Simón, en San Andres Itzapa, Guatemala, 2017; IX edição do Kipupa Malunguinho, matas do Catucá, Abreu e Lima, PE-Brasil






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A FÉ NEGRA E O RISCO DO BRANCO DOMINADOR DE MENTES

“O povo de terreiro, herdeiros da fé negra e da fé indígena, portanto, a fé da resistência contra o poder do dominador branco, em ato xenofílico (de agregação religiosa), celebra o sincretismo histórico de Nossa Senhora do Carmo com o Orixá Oxum, divindade yorùbá, responsável pela fertilidade da terra, pela força dos rios, pela beleza, pelo amor e prosperidade.

Devemos lembrar que o sincretismo afro religioso nos tempos da escravidão servia para que o senhor de engenho não mandasse matar os negros e negras que estivessem cultuando suas divindades africanas. Enganando esses seus algozes, colocavam uma imagem de um santo ou santa em um altar e cantavam em língua africana (que ninguém entendia), para ludibriá-los. Na realidade, ali estavam prestando culto aos seus orixás, voduns, inkises, encantados etc. Assim, os padres e os capatazes não identificavam o que de fato acontecia ali, e até achavam engraçado e bonito, mas foi isso que nos garantiu a sobrevivência de nossa religião. Hoje isso não é mais necessário, obviamente.

Este sincretismo a cada dia vem se enfraquecendo com o fortalecimento dos membros do candomblé (culto nagô de PE) e da jurema, que em busca de estudos, compreendem que a santa católica não é o Orixá, e vice e versa, e também entendendo que precisamos fortalecer nossa identidade religiosa própria, tendo em vista que o universo cristão historicamente destruiu quase todas as culturas dos negros e dos indígenas, utilizando-se de um processo violento de proselitismo e catequismo, objetivando a “salvação” das almas...

É difícil ser negro, pobre, de comunidade e assumir a fé negra de nossos ancestrais. O mundo ainda é racista o suficiente para fazer com que a maior parte da população negra se submeta a fé do dominador. Isso não é nada mais que uma conseqüência psicológica do quanto violento foi o processo de repressão de nossas fés e compreensão de mundo. Se achar dentro da religião de terreiro, com toda a beleza e problemas que ela tem, é um desafio que tem que ser enfrentado por pessoas que desejam retomar suas raízes e sua verdadeira identidade ancestral.

O direito livre a escolha religiosa é um direito constitucional garantido. Sendo assim, qualquer pessoa pode escolher qual religião professar, ou até mesmo não ter nenhuma religião, ou ter várias. Contudo, esta breve reflexão, serve para tentarmos ampliar nossa concepção de lugar no mundo. Se nossos ancestrais sofreram o peso dessa conversão pesada e violenta trazida no bojo do cristianismo europeu, por que nos submetemos? Será que por termos uma estima muito baixa, preferimos acreditar no mais óbvio, no que está posto como o Deus cristão? Será que realmente conseguiram sujar/embranquecer nossas mentes e nos fazermos acreditar que Tupã, Olorun, Zambi, os Orixás, e os Encantados são demônios e que devem ser esquecidos? O dominador tem muitas estratégias... Ele tem poder ($) e tem grandes templos e concessões públicas de televisão ao seu dispor.

Se desconstruir é muito difícil. Seja em que contexto for. Mas se não nos propusermos a nos superar e mergulhar na força e energia das tradições de nossos ancestrais, jamais conseguiremos sentir o quão magnífico é a força de nossas entidades e divindades. Acordar para o axé e para a ciência da jurema é necessário. Romper respeitosamente com o sincretismo, muito mais! Temos que ter força e auto estima de afirmar que Oxum não está ligada a nenhuma santa da Igreja, ou templo que nos perseguiu historicamente. Oxum mora nos rios, na natureza e nos Ori (cabeças) de seus discípulos.

Nas comunidades, os terreiros competem com as igrejas evangélicas de garagem que substituindo o papel da Igreja Católica, promovem a perseguição à fé negra e indígena, satanizando e perseguindo os seguidores de terreiro. Esta é uma recapitulação histórica do que foi no passado o fazer religião cristão. O cristianismo não se renova, ele entra mais uma vez no ciclo da perseguição e da verdade única, do Deus único, e da lógica que o mal e o diabo está no outro, e não dentro deles mesmos, afinal, o diabo é cristão, não fazendo parte da história e nem da fé afro indígena.

Infelizmente, essas investidas religiosas de conversão tem dado muito certo... Muita gente de terreiro, ou negros e negras, por serem fracos ideologicamente e estarem vulneráveis e sem auto estima suficiente com o axé e a jurema, ou com a consciência negra, preferem acreditar que foram salvas e que irão para o céu, do que entender que desonraram seus ancestrais por terem se permitido desacreditar no bem maior deixado per todos àqueles e àquelas que lutaram para que pudéssemos estar aqui hoje.

A pobreza e a injustiça social também são responsáveis pela perda de auto estima na fé negra. As pessoas preferem acreditar na teologia da prosperidade, de que Deus pode nos abençoar e nos enriquecer, do que entender que religião é um lugar para o bem estar espiritual e para o equilíbrio de suas questões pessoais etc. Essa teologia da prosperidade é uma forte inimiga da fé negra e da luta contra o racismo. Ela apenas fortalece o capitalismo, que é uma filosofia vigente e pujante, muito negativa de concepção de mundo.

Ser descendente de negro e indígena e aceitar a fé do branco, é se tornar branco. Branco não na cor, mas na compreensão de mundo. Isso ao meu ver é uma das faces mais cruéis da realidade do negro pobre brasileiro, os negros e negras que viram brancos e brancas (ver Fanon). Os aperreios da vida os tornam brancos... A falta de dinheiro, a falta de oportunidades o tornam brancos... Isso é muito triste.
Respeitar a diversidade de opiniões e de religiões é fundamental. Este meu texto não trata de um desrespeito contra a opção religiosa dos negros e negras que se tornam evangélicos ou católicos. Este texto, fiz por entender que é necessário refletirmos mais sobre estas questões que são vitais para a manutenção das tradições de matrizes africanas e indígenas no Brasil.

Recife, hoje se veste de amarelo para homenagear Nossa Senhora do Carmo. Outros se vestem de amarelo para louvar Oxum... Prefiro louvar Oxum qualquer dia... Sem vinculá-la a nenhuma santa. Mas respeito quem o faz e até acompanho algumas vezes as procissões, pois sempre encontro pessoas maravilhosas lá. Afinal, lutar contra um processo de dominação de mais de 500 anos não é simples e requer muita paciência e respeito. Temos avançado bastante. As redes sociais tem sido uma excelente oportunidade de fortalecer nossos debates. Mas ainda temos muito o que contribuir na discussão e no avanço das compreensões libertadoras de mundo. Não caiamos na lógica racista. Acordai!

Quando falta pretitude e consciência negra, o branco entra em nossas mentes e nos convence que estamos errados nas nossas práticas religiosas afro indígenas. Contra isso temos nossas raízes negras e indígenas. É só se permitir vivenciar e mergulhar sem preconceito”

Sunday 20 May 2018

En el centro


Esta semana que se inicia é pra mim especial e emocional, particular, desafiante. Pela primeira vez desde 2011, regresso ao outro lado do charco, ao Velho Mundo que me fez novíssimo durante os seis anos que lá vivi, quando, no ano que completei um quarto século, me lancei, sem planejamento e sem condições, numa jornada que é pessoal e simultaneamente social, de vários significantes: trotamundos, nomade, ojuara, stranger, Ítaca.

Entre Londres e Barcelona, todos esses, e outras alcunhas mais internas, carregaram-se naquele período da 'viagem que não termina nunca', e hoje estão carregadíssimos de significados, razões e emoções que, apesar de tudo, me anima no momento de 'voltar' onde 'começou'.

Foi numa espécie de movimento clássico, de quem olha da distância pra enxergar o próprio, da vida de migrante laboral áspera e exasperado, que reconheci tanto a enormidade brasileira materna quanto minha "centroamericanidad" paterna, e assim pude rever e viver El Salvador e a América Central ao ter me jogado da capital cosmopolita do mundo colonial na aventura do "universo de incertezas tropicais" que vivo desde então. Dali veio a Catalunya, novamente Londres, meu Pernambuco imortal...,a Costa Rica, todas essas diferenças atadas na mesma linha seeming like an eternal inbetweens life, em que tudo é despedida, tudo é finalmente. Mas logo tem mais. É só mais uma viagem, sempre é só mais uma viagem.

Esta viagem, desta vez, só se realiza e é possível porque é parte de um trabalho coletivo, cheio de dedicação, esforço e afeto, qualificativos que podem até ser clichés, mas que representam elementos concretos e de orgulho dessa jornada à Ítaca em que ainda sigo.

'O Istmo' foi um projeto, é uma realidade e ainda são muitas possiblidades. É com essa rede-plataforma centroamericanista, e graças aos companheiros e companheiras nele vinculadxs, que posso fazer esse ir-voltar, retomar, reconstruir, resignificar, regressar. 
Esta é a nossa intensa programação da semana em Barcelona. 

Gracias, compas. "Entre el Norte y el Sur está el Centro".






Thursday 11 January 2018

Tudo o que me lembro de 30 anos atrás


Num dia como hoje, há exatos 30 anos, me acordei na cama da mãe e do pai e caminhei diretamente ao quarto que meu irmão e eu dividíamos, onde havia uma TV daquelas que se tinha que literalmente puxar um botão/pino para liga-las. A ideia era assistir os desenhos do Show da Xuxa, que naquele tempo incluía Thundercats e He-man. O trajeto cruzava a sala, onde minha vó falava ao telefone, daqueles de disco, claro, sentada no braço do sofá. O tal botão/pino da TV estava quebrado, e era difícil puxá-lo sem a ajuda de um adulto. A vó veio até o quarto. Pensei que precisamente para tal tarefa, mas a vi algo chorosa, meio-que secando uma lágrima, e me disse: “- Não, meu filho, hoje não é dia de ver televisão". Claro que lhe perguntei por que, mas ela simplesmente respondeu: “- Volta pro quarto e tenta voltar a dormir”. Obedeci, sem mais questionamento, mas com uma segura desconfiança.


Deitei novamente, com um pensamento latente: “- O pai morreu”, disse a mim mesmo sem produzir som.


O sentido comum, e o clichê, nos chamam a definir a morte como mistério, mas é evidente que uma criança de sete anos dificilmente pensaria nesses termos, embora eu sentia que se tratava de uma ausência, que também chega, e também pesa, e que minha vó certamente chorava porque lhe haviam contado que meu pai havia morrido. Fiquei na cama pensando: “Como será agora na escola?” “O que dirão meus amigos e colegas?” Todos sabiam que meu pai estava doente. Sabiam talvez até mais do que eu. Uma vez uma colega me disse que havia visto minha mãe na TV. Eu disse que não, que minha mãe não trabalhava na TV, mas ela insistiu e me assegurou que lhe tinha visto no telejornal da hora do almoço. Só muitos anos mais tarde é que cheguei a saber que a mãe havia estado em uma campanha de arrecadação de doações para o tratamento da leucemia da qual o pai padeceu por mais de dois anos – tratamento caríssimo, especialmente nos anos 80, quando o transplante de medula óssea era algo novo e arriscado, sobretudo em adultos. Em justiça, como a mãe mesmo costuma enfatizar, sem o apoio material da empresa para a qual ele trabalhava (que custeou boa parte das idas e vindas ao hospital de referência em Curitiba), teria morrido bem antes, pois não tínhamos nem temos meios financeiros.


Não lembro o que houve entre aquela reflexão na cama, intrigado pelo impedimento aos desenhos, e a chegada de uma amiga da família que tinha duas filhas, mais ou menos da idade do meu irmão e da minha, e que haviam sido nossas vizinhas no endereço anterior ao daquela casa na rua Alberto Pasqualini. Ela foi a encarregada de dar-nos a noticia, da qual já sensorialmente sabia. “- O pai de vocês foi morar com o Papai do Céu”, foi que ela mais ou menos nos disse.


De alguma forma eu sabia que depois da noticia ela e minha vó – e talvez também havia mais gente na casa – esperavam muito choro e dor por parte de nós, os pequenos. Mas eu não chorei imediatamente, eu processava a confirmação da informação que já havia percebido, ciente de que era algo muito grave, que me exigia estar triste. Então eu chorei lentamente, solucei. Me levaram até o pátio da casa, onde havia um tanque de lavar roupa, e me limparam o rosto com água. Havia sol naquela manha. É vivida essa lembrança.


Essa amiga então, mãe das nossas ex-vizinhas, pediu que nos arrumáramos para que fossemos passar o dia com elas. A ideia era entreternos, evitar nossa exposição às dores e arranjos logísticos para o traslado do corpo do meu pai de Curitiba até Pelotas, onde ele foi enterrado, tão distante de sua terra natal centro-americana. Ficamos a sós no quarto, meu irmão e eu, juntando alguma roupa e brinquedos. Meu irmão então, com cinco anos de idade, de repente para de mexer na mochila, me olha diretamente com uma expressão confusa e pergunta: “- O pai morreu, mano?” “- Morreu, Vladi, morreu”.


Agora ele chora copiosamente, como se tivesse entendido. Eu o abraço e digo algo que não lembro. O que temos de fazer é terminar de arrumar a mochila porque nos estão esperando.


Da tarde naquela casa, grande, das ex-vizinhas, lembro que todos as brincadeiras que queríamos fazer eram aceitas, todos os jogos, todas as vontades. Elas tinham uma daquelas máquinas de brinquedo de fazer pipoca de verdade, um dos êxitos da Estrela no período, e até esse experimento fizemos. Em algum momento, no sobe-e-desce escadas entre os quartos e a sala, me detive no meio do caminho e expressei em voz alta: “- Será que o meu pai está me olhando agora?” Uma das gurias respondeu, provavelmente que sim, porque eu sentia que ela ia dizer sim, era parte do conforto obrigatório.


Ao final do dia fomos dormir na nossa casa. E creio que estávamos exaustos. Também anos mais tarde minha mãe contou que tentou acordar-nos para o velório – uma decisão que lhe foi difícil pois definir se se deve levar ou não duas crianças pequenas, os dois filhos, a participar do ritual de despedida do pai em um caixão é sempre polemico. A mãe nos contou que o pai não queria que lhe víssemos em tal circunstancia – seu corpo vazio preenchendo o espaço de uma caixa; não queria que tivéssemos essa memória. De fato não a temos. Tentaram despertar-nos, conta a mãe, logo da controversa decisão, mas aparentemente estávamos demasiadamente sonolentos, e isso foi tomado como o sinal para não insistir em levar-nos ao velório.


Hoje são 30 anos depois daquele dia. Eu hoje não lembro da voz do meu pai, não lembro se tinha sotaque português espanholizado como dizem que tinha. Não lembro de suas manias e teimosias como dizem que tinha, nem do gênio forte que dizem que tinha. Lembro que lhe tínhamos muito respeito, algo de medo. Uma vez ele disse que jogaria nossos brinquedos pela janela se não arrumássemos a bagunça do quarto por onde estavam espalhados, e assim o fez! Mas era uma casa, não um edifício, então era coisa de apenas ir ao outro lado da parede junta-los da rua, mas ainda assim. Logo disso, sempre que ouvíamos o barulho do motor do fusca que ele dirigia, que reconhecíamos a uma quadra de distancia, corríamos para arrumar o quarto.


Hoje, 30 anos depois daquele dia, com quase a idade que ele tinha quando morreu eu escrevo do que lembro desde Manágua, da capital revolucionaria do país vizinho a nossa terra El Salvador, que inspirou toda uma geração de centro-americanos em lutas emancipatorias. “Si Nicaragua venció, El Salvador vencerá!”, dizia um dos slogans da guerrilha, da qual meu pai havia participado ainda antes que se desatara oficialmente a guerra civil no país que durou até 1992. E hoje há tanta decepção na Nicarágua 'neo-sandinista'... Toda Centroamerica fervia nos anos 80, quase que literalmente, e quase toda minha família paterna em função disso è hoje parte das estatísticas da diáspora salvadorenha pelo mundo.


Meu pai morreu antes do fim da guerra salvadorenha, antes do assassinato dos jesuítas da UCA, antes do fim da Guerra Fria, antes da queda do Muro de Berlim, antes da nova ordem mundial… Meu pai morreu quando em Nicarágua ainda se resistia em contra da “Contra”, quando ainda não havia decepção, senão esperança.


No extremo sul do Brasil, contudo, ele não tinha esperança contra a batalha pessoal contra aquele câncer que lhe consumiu lentamente. E ainda assim – isso também só aprendi anos mais tarde – minha mãe não retrocedeu nem um centímetro, nem durante nem depois. Acalmou, amenizou, confortou e sustentou todas as dores que ele sentia ao chegar em casa, calvo e exausto, das longas sessões de quimioterapia em Curitiba, que nos impediam até mesmo de sentar na cama junto a ele, pois seu corpo estava decompondo-se.


O natal de 1987, seu último evento social, foi uma reunião 
naquela mesma casa da ampla família materna, naquela época, cheio de crianças, irmãos, tios e primos, e eu o encontrei em um determinado momento, quando todos os demais estavam trocando presentes e rindo alto na sala, sozinho sentado numa cadeira de praia no pátio. Parece que sabia que aquilo se acabava, e estava fumando, a pesar de que há muito já não podia fumar, e efetivamente havia parado. Talvez por isso mesmo se permitia um último sabor do vicio, um ultimo momento de solidão consciente, uma despedida de si mesmo. Eu lhe perguntei por que ele não vinha pra sala com a gente, ele me abraçou e disse que já iria. Fiquei no marco da porta esperando-o, vendo-o de costas, sentado olhando para a escuridão. Ele se levantou, apagou o cigarro, e entrou.

Monday 20 November 2017

Á distancia, duas notas sobre Recife/Olinda no 20 de novembro

Me chega nas redes o ocorrido ontem na nossa Olinda, há poucas horas da Dia Nacional da Consciência Negra no Brasil, que se celebra hoje, que mais que truculência e despreparo policial, foi ignorância, intolerância e racismo. Este vídeo demonstra. Sob o argumento da dispersão do público que terminava de assistir a um dos principais shows da programação da MIMO - aplaudido, notório e gratuito festival de música internacional em Olinda - esses agentes do Estado que detém o monopólio da força partiram para cima de uma RODA DE COCO, espontânea, natural, que algumas pessoas iniciaram ao pé da igreja do Carmo. E não era nem a hora da dispersão "oficial" ainda, isto é, foi puro exercício de violência, injustificável e opressor de uma poderosa manifestação cultural pernambucana motivado, provavelmente, por algum incômodo com alguma situação pontual anterior, porque o que se depreende do vídeo abaixo é que as pessoas iniciaram o coco ( e com apenas um pandeiro) em resposta a hostilidade dos policiais que se nota evidente antes do ataque à roda. Quer dizer, o coco foi a resposta do povo à agressividade policial, e a contra-resposta foi spray de pimenta, cacetete e bombas de efeito moral. Ou seja é isso mesmo que você está lendo, A POLICIA PERNAMBUCANA ATACOU UMA RODA DE COCO, em plena Olinda, em plena MIMO, em pleno Dia da Consciência Negra.
Força à resistência! Salve a cultural popular pernambucana!





E PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE 'ESTELITA' - a questão 'Cais Estelita', ou 'Projeto Novo Recife', são tão polêmicos quanto emblemáticos de um ciclo político que tem como marco em nível global - tampouco isento de discussões - processos desatados no post-2011. Na trilha dos ciclos "occupy", Recife fez bonito, aglutinando forças, perspectivas, temáticas e debates, gerando visibilidades de lutas, em torno a questão 'direitos urbanos', no eixo-mobilizador, e motivador, dessa zona do cais José Estelita, cujo nome ganhou notoriedade no Brasil, e mais além.
Eu estava lá no primeiro-primeríssimo 'Ocupe Estelita', em 2012, há pouco chegado em 'Hell' , e ainda ativo e envolvido até o pescoço num processo organizativo no bairro de Peixinhos (que depois afogou-se em águas turvas..), participando desde a gestão das atividades culturais até pendurar faixa do outro lado da rua com o dizer "Prefeitura covarde", numa imagem que ficou registrada para a posteridade...
Dali a coisa pegou, cresceu, subiu, desandou, explodiu, perdeu, retomou, caiu, complicou, baixou, arrefeceu, andou, parou, e assim vai, talvez como deve ser, embora se enmarque também como mais um caso da difícil relação entre os demônios Escila e Caribidis: "esto es: o seducido por una perspectiva puramente liberal, que acepta las formas institucionales existentes como el único marco posible de accionar el público, o estimulado por una política de pura protesta, que se agota en su autorreferencia" . Claro que com personagens/indivíduos que sempre ganham notoriedade e se formam "quadros" nesse não-inocente joguinho..
MAs bueno, aqui segue, e eu sigo por enquanto de longe e sempre algo (maldição!) atento, mais uma das etapas desse movimento. !!!!!!!!!!!!!


-------------Uma decisão do Tribunal Regional Federal favorável ao Projeto Novo Recife acendeu o alerta de todas as pessoas que defendem o Cais José Estelita e uma cidade mais democrática e inclusiva. Mas isso está longe de ser caso encerrado! O Tribunal disse que o leilão do Cais foi legal sem ter esperado o resultado das investigações criminais feitas pela Polícia Federal e o projeto, além disso, está coberto de várias outras ilegalidades. O Estelita resiste! A luta continua!
Para discutir a retomada da resistência, o Grupo Direitos Urbanos, o Movimento Ocupe Estelita, a Troça Carnavalesca Mista Público-Privada Empatando a sua Vista, o Centro Popular de Direitos Humanos (CPDH), Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Coletivo Arquitetura Urbanismo e Sociedade (CAUS), o grupo Meu Recife, coletivo Coque (R)Existe e o grupo A Cidade Somos Nós chamam para uma assembléia para discutir os próximos passos da mobilização em defesa do Cais.
Data: 20 de novembro ( 2aFeira )
Local: Sede do IAB_PE | Rua Jener de Souza, 130 - Derby, Recife - PE
Horário: às 18h
| fotos: Keila Vieira
| edição | vídeo: Sylara Silvério
A Cidade É Nossa. Ocupe-a!
#OcupeEstelita
#ResisteEstelita


Saturday 11 November 2017

Ri Laj Mam, San Simón, Maximón - conociéndoles directamente en Guatemala

"Ri Laj Mam, el Pequeño Gran Abuelo, el rebelde, el nativo que desde siempre supo que los pueblos indígenas están llamados a cuidar de la Madre Tierra y del Padre Cielo. El nativo revoltoso que daba ideas para defenderse, para evadir la explotación durante la conquista, para defender sus creencias durante la colonia, para resistir siendo fieles con su propio Ser.”



Es un ícono que se ha constituido en uno de los símbolos de la concepción espiritual de la población guatemalteca, y que se extendió a otros territórios. Es tambíen SAN SIMÓN, él que cuida los caminos de los viajeros.



El culto a Maximón o San Simón, es sin duda UNA DE LAS EXPRESIONES SINCRÉTICAS MAYA-CATOLICA MAS PECULIARES DE LA REGIÓN CENTROAMERICANA. Cada 28 de octubre miles de personas provenientes de toda la república y de países vecinos, se reúnen en San Andrés Itzapa, para celebrar y agradecerle en su dia.



Hace dos semanas exactas fue el 28 de octubre, y yo estaba allá, en este pueblito perdido en la montañas de Chimatenango, a unos 20 km de la ya super-turística Antigua Guatemala, la más bien conservada ciudad colonial de América Latina, que fue la capital de la provincia durante el império. 



Yo nunca habia escuchado hablar de SAN SIMÓN, o MAXIMÓN, hasta el pasado miércoles. Fue el dia en que el uber que nos llevaba al hermoso Teatro Nacional de Guatemala, a la gran sala Efraín Rios, no sé porque lo mencionó y por ahi estubo comentando desordenadamente algo sobre él, y donde estaba su imagen y sobre quienes le celebran. 


Me pareció interesante, le puse atención, me autosugerí a grabar el nombre del pueblo al cual el señor habia descrito: San Andres de Itzpa.


Jueves, el dia siguiente, voy a una cena con amigxs de amigxs, guatelmatecxs y salvadorenxs - situaciones de las evoluciones por dicha constantes del proceso de trabajo intelectual en red - y entre pláticas sobre religión y política más una vez se comenta sobre el “Ri Laj Mam, el Pequeño Gran Abuelo” con más detalle y explicación y me parece aún más interesante. 



Al llegar el viernes a Antigua Guatemala vamos a un Café-Bar que nos recomendaron, que está en estilo más 'under', con ambiente media-luz-medio-cutre-cool, y la única mesa vacía en la penumbra de una esquinita del sítio lleva luego arriba por la pared una espécie de altar con una estatua de él, entre candelas - otra vez el San Simón! 



Ya me parece bastante coindencia, pido que por favor me saquen una foto con la imagen. Queda chivo.
Los compas se van y me quedo solo en las sillas bajas terminandome mi mezcalito, luego abajo de la imagen del 'abuelo', a veces mirándolo. 


Llega un tipo que se lleva los vasos vacios. Regresa. Me pregunta se conozco la história de San Simón. Hablamos. Está buena onda. Tiene rasgos notamente indígenas y mirada y actitud altiva. 

Su idioma origina es el Q’anjob’al, que sé que está al norte del país, y que luego el Google me afirma que se habla en solamente cuatro municipios del departamento de Huehuetenango, por el 1.42% de la población del país. Su segundo idioma es el Quiché y el español fue solo hasta después de grande que aprendió. Vivió de los nueve haste los 27 años en las calles de Mexico y de Guate, según lo que cuenta, y ahora tiene 32 años, dos hijas y vive en Antigua. 


Es él quin primer me cuenta que hoy, 28 de octubre, es el dia de fiestas de San Simón, en el principal pueblo de devoción de esta expresión sincretica maya-catolica, San Andres de Itzapa, el lugar que habia mencionado el uber y lxs amigxs de amigxs. Ahora estoy oficialmente interesado e impresionado. Le escuché describir un poco la fiesta, suena como fiestas patronales realmente, hay música y ofrendas.



Lo pimero que hago al regresar al hotel es googlear otra vez, y me voy ahogando en información e ideas de paralelos sobre el asunto. Tengo al menos que escribir algo mencionando todo esto. 



Del mezcal recordé que apesar de que estaba rico, no me atrevi y dejé un poquitico al lado de la estatua. Por los acasos. 
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"Aq’ab’al Audelino Sajvín explica que “en la tradición oral, se dice que lo comparan con la muerte de Kaji’ Imox el ultimo Ajpop Kaqchikel, cuando fue amarrado, torturado y asesinado, y a todo esto en idioma maya se dice Xkiyüt Xkixïm/Ximon, por eso seguramente le dicen Maximón, porque ma significa en idioma maya señor y ximón significa el que está amarrado.”



"Hay dos tendencias sobre este culto: la primera, propia de la cultura zutuhil, está en Santiago Atitlán (Sololá, al oeste) y tiene sus raíces en las culturas precolombinas, que veneraban a Rilaj Man, un espíritu protector. Con más influencia cristiana, está el san Simón de San Andrés Itzapa (Chimaltenango) que es el que mejor representa la amalgama de las diferentes culturas religiosas."



“Muchos dicen que a él hay que darle lo mejor para que lo ayude a uno, sin embargo él recibe lo que uno le da, siempre que sea con mucha fe, se dice que hay que llevarle su licor y su cigarro o puro tabaco, como requisito, pero el no solo eso recibe, también recibe otras ofrendas como el KaKaw, su incienso, su música, su pino, sus flores y su comida. El contacto con él puede ser por medio del fuego sagrado que ofrendan los Ajq’ija’, no importa el color de velas que se le de, el lo va aceptar, siempre y cuando se le de con mucha fe."

* TODAS LAS FOTOS SON DE MI AUTORIA














Friday 6 October 2017

Agora sou doutor.

Estou atualmente trabalhando, temporariamente, como pesquisador-visitante na Universidad de Costa Rica. Terminei meu doutorado silenciosamente. Nos primeiros meses deste ano, no final de fev, e no final de jun (longa/curta história explica porque divido o final do processo em dois períodos, que outra hora não-conto) conclui, apresentei e aprovei o trabalho iniciado ano passado, ou mais bem há cinco anos, na Universidade Federal de Pernambuco: "UM DISCURSO POLÍTICO ÍSTMICO: A INTEGRAÇÃO REGIONAL CENTRO-AMERICANA ENTRE O SIGNIFICANTE VAZIO E A COLONIALIDADE DO PODER". 

Mas não tinha até então nem facebook pra fazer 'esparramo', pois estava off das redes sociais muito por conta do período do 'mergulho' da tese, em que passou pistola na cabeça, problemas neurológicos, frio -4c, calor de +34c, chuva nos livros, seca na garganta, e tudo literalmente. 

Ainda assim, sou daqueles de 'baixo perfil' nas redes, não tenho conta nas outras midias famosas (instagram, twitter) nem me aplico à coleção de 'likes-thumber-up' em posts. Quando posto não chego nem a escrever pequeno, para ficar em fonte grande, como podem notar... 

Mas além de dever agradecimentos, públicos, notórios, genuínos e necessários que são mais bem visualizados aqui do que na página solitária ali na tese (que não disponibilizo ainda porque segue em processo de depósito) eu aproveito o ensejo para também celebrar: em agosto recebi a noticia de que voltaria à Costa Rica, à América Central, em setembro, ao ser aprovado para uma pesquisa pelo projeto 'PUEBLOS EN MOVIMIENTO', do 
Alas - Associação Latinoamericana de Sociologia, meu primeiro trabalho como doutor, sob o título 'CANALES, IDENTIDADES Y TERRITORIOS - EL ISTMO CENTROAMERICANO ENTRE LA COSMOPOLITICA Y LA GEOPOLTICA'.

Eu queria e precisava voltar a Centroamerica, profissionalmente, mas também pessoalmente. Porque eu não sou doutor por acaso ou por sorte. Eu também sei da onde venho, de onde 'falo', Sei que meu pai salvadorenho, filho do entregador de leite e da dona de comedoria nas periferias de San Salvador - um lugar que a maioria de vocês, brasileirxs, nem sabe onde é - migrou como tantxs pra poder estudar; sei da minha mãe fazendo campanha corpo-a-corpo pra arrecadar dinheiro pra tratar da doença que o matou, e logo segurando todas as barras firme pra eu chegar até aqui, nessa famigerada, malfada e infame elite intelectual; sei que falta água nas casas da minha família paterna até hoje e sei da Cohab 2 do extremo sul pampeano onde me criei; ; sei o que é comunidade; sei ontem e hoje o que é trasporte público lotado, dinheiro contado pro lanche, hora ruim pra chegar em casa na quebrada; eu conheço a subalternidade na pele,trabalhar em pé e na rua no frio das seis da manhã, fazer greve,convocar e coordenar ato, falar pra duas mil pessoas, falar pra duas pessoas, sonhar que tá voando...

Eu sou doutor, e não só por 'sorte', e não porque 'aprendi tudo dos livros'; aprendi também fazendo, gritando, correndo, brigando, sofrendo, junto com tantxs outrxs que seguraram juntos, ou que simplesmente me seguraram. 
Voltei à Centroamérica como doutor por conta de todas as pessoas que vou citar aqui, em ‘formato nuvem’ (sem ordem de importância),que não estão aqui, de nenhuma maneira, por razões protocolares. Foram demasiados e muitos trabalhos para que nomes sejam mencionados sem um sentimento de agradecimento genuinamente assumido. Aqui estão os que, em variados graus, dimensões, razões e afetos, direta ou indiretamente, foram capazes de compreender, segurar, emprestar, amar, perdoar, orientar, indicar e levantar. Inclui familiares, amigos, profissionais, colegas e companheiros, do Centro e do Sul das Américas, a quem definitivamente, eu devo. Vocês sabem. Ou saberão:
Loriama Antunes de Aguilar ,Loami Stainki Antunes , Lanimari Stainki Antunes VahlIrma Elena Aguilar Valdez (extensivo a abuela Elisa y a Becky Aguilar), Cynthia Monteiroo, Juliana VitorinoAureo ToledoMarchiori Quevedo, Emerson Ferreira, Ana Clarice Oliveiraa, Denia Roman Solano, Marcos Costa LimaJoanildo Burity, Marcos Guedes, Heitor Costa Lima da Rocha, Luiz Luis Gómez OrdóñezGabriela Delgado , Silvia Rodríguez Jiménezz, Mariana Mariana Rodrigues LopesVinícius VieiraMiroslava Rosaless, Carla Uedler, Willy Soto Acosta. Mario José Sánchez González, Orlando José Mejía Herrera: Jaime Gerardo Delgado Rojaso , Fernando Valdez, Andrés Mora Ramírez, Rafael Cuevas Molina, Edelberto Torres-Rivas: José Álvaro Cálix Rodríguez, Eugenio Sosa , Rudis Yilmar Flores , Rafael Paz Narvaez: Francisco Raúl Ortiz, Cesar Ernesto Salazar Grande, Vicente Cano González, Paola Aguilar e Sofia Aguilar (extensivo a tio Fred y tia Areli) .Tamara Diaz-Bringas; Haydee Isabel Castillo Flores, Donald Rojas, Luis Alberto Méndez Torres, Laura Romero , Juan Geremias Castro Simón, Nora Garita, PPGCP-UFPE, CAPES, UNA-Costa Rica, IIS-CR, Rede-plataforma O Istmo www.oistmo.com